Conto

Tááá, ninguém conhece a trilogia de Heisenberg, salvo três pessoas: Eu, Jéssica e o Padawan. Então, eu vou postar aqui um pequeno conto, que se passa uns três anos antes da trilogia se iniciar. Espero que gostem.


Quando vocês comprarem (viajando mode on) a minha trilogia e lerem, vão entender que este conto explica uma coisa bem importante, pelo menos na vida de John Heisenberg. 


^^
Enjoy!



Zeppelin

         John olhou ao redor. Rune era maior do que pensava. Bem maior. Uma capital bem movimentada, com pessoas andando apressadas. Algumas olhavam para ele, outras não. As que o olhavam e reconheciam-no saiam de perto o mais rápido possível.
            Ele não ligava. Há um ano era assim.
            E a tendência era só piorar.
            Pôs a mão no bolso e de lá tirou seu maço de cigarros. Acendeu um e soltou uma baforada. Ouviu uma tosse frágil.
            — Johnnie! Não fume, já disse!

            Ele olhou pro lado. Viu a menininha coçando os olhos, que lacrimejavam com a fumaça. Ela erra linda, de pele clara e rosada, olhos grandes e de íris num tom azul escuro, e seus cabelos eram da cor de sangue fresco, presos em maria-chiquinhas que iam até seus ombros.
            — Desculpe, Marie-Claire. – A voz de John era forte. Forte demais para um garoto de quinze anos.
            — Vamos pra onde? – Marie pergunta, olhando-o.
            Ele era alto, muito mais alto que ela. Tinha um buço fraco crescendo, rubro. Seus olhos eram afilados, como quem estava prestando atenção a tudo, e desconfiasse de cada um. Íris azul-escuro, e denotavam uma frieza incomum a pessoas daquela idade. Seus cabelos eram do mesmo tom vermelho-sangue, e espetado, curto. Qualquer um que os visse juntos chegaria à mesma conclusão óbvia: irmãos.
            — Vamos ver um hotel primeiro. Aí depois fazemos o serviço. – diz John, olhando os lados.
            — Aaaahhh, Johnnie... – ela resmunga.
            —Não me chame assim, eu já te disse! – Ele gritou.
            —Desculpa! – Os olhos dela encheram de lágrimas. Marie só tinha onze anos e já passara por coisas que não se pode imaginar.
            — O que queria? – Diz ele, lembrando que a irmã era apenas uma criança.
            — Ah, eu queria passear um pouco. Rune é tão diferente de Yuuna...
            John suspirou. Não deveria ter mimado ela tanto.
            — Depois do serviço.
            — EBA! ­– Marie-Claire abraçou o irmão.
            — Tá, chega. Agora vamos.
            Caminharam até o hotel cinco estrelas mais próximo. John foi pegar uma suíte enquanto Marie passeava pelo hall. Parou em frente a um  quadro e ficou olhando, tentando entender. Com a constante correria que sua vida se tornou, havia pouco tempo para estudos.
            — Hm, onde eu estou... Ah, aqui! – pôs o dedo sobre uma foto sua. – E aqui está o Johnnie! Viu, moço? – Ela se virou para um jovem senhor a seu lado direito, de terno escuro.
            O homem arregalou os olhos e o sangue de seu rosto sumiu. Ele olhava para o quadro onde eram afixados os retratos dos mais procurados pelo governo, mercenários e bandidos. E ali a seu lado estava uma criança feliz ao ver sua foto e referida recompensa logo abaixo.
            — Heisenberg? – Ele sussurrou, incrédulo. – Ma- mas você é uma criança!
 Marie fez bico.
— Não sou não, tio. Eu faço doze anos no mês que vem. – E mostrou a língua.
Ele balançou a cabeça em negação. “Tão jovem, já mercenária...”, pensou. Tomou seu rumo, ainda consternado.
— Marie-Claire... – John Heisenberg chegou até lá. – O que é isso aí?
— Nós dois, maninho. Eu ó. E você. – Diz, meigamente apontando os retratos.
— Hm, cem mil, só isso?
— É. Pouco demais. Eu quero valer dois bilhões! – Estendeu os bracinhos, alegre.
— Vai sim. Agora vamos. Tome um banho e aí depois vamos pro serviço.
— Tá bom!
***
Marie-Claire abriu um livro preto, enorme.
— Hãã... Re-re-rey-mon- -
— Reymond.
—Ah, John! Eu vou aprender, ta?
— Sei. Onde é?
John juntava suas coisas.
— Hm... – Pausa longa. – Fazenda de Mellenbourne.
— Sei. Fazer o quê?
Outra pausa. Marie se esforçava para ler o livrão preto.
— Roubar um Zeppelin? – Diz a menina, achando ter lido errado.
John riu.
— Isso é sério?
— É o que está escrito aqui! Nos pagaram oitenta mil para roubar o Zeppelin desse cara da fazenda Mellenbourne e entregar pro tal Reymond no ...  – Marie olhou o livro novamente. – Campo de Ridden, na... Estrada que vai para Thanyto.
— Fácil. Sabe pilotar, Marie?
***
— Oh, Johnnie... É muito grande esse balão de gás! – Marie olhava maravilhada para o enorme Zeppelin a sua frente. Seus olhos azuis brilharam.
— Temos que ir, Marie. Olha depois.
John pulou a cerca, fácil. Logo Marie pulou também. A fazenda era muito grande e com árvores de copa alta. Parecia pouco vigiada. Podia-se ver o Zeppelin a uma longa distância. Os irmãos iam até ele, ainda sem saber como pitotá-lo.
Não demorou para que seguranças vissem os irmãos de cabelo vermelho. Apressaram-se em sacar suas armas, mas John era mais rápido.
Tirou seus revólveres Smith & Wesson. Um era prateado, de calibre .50, pesado demais. Seu cano era longo e duplo, com desenhos de ramos de rosas em baixo relevo. Coronha de madeira clara, envernizada. Reluzia de tão limpo. Tinha um nome: Madeleine. O nome da avó materna de John. Esta ele erguia na destra.
Na mão esquerda estava a outra Smith & Wesson, de cano bem mais curto e simples.  Seu calibre era menor: .45, mas não menos mortal. Era cor de cobre e sem desenhos. Sua coronha era de madeira mais escura. Seu nome era Clarice, homenagem à sua avó paterna. Foi ela mesma quem deu a ele o revólver, em seu leito de morte.
O tiro do calibre pesado de Madeleine disparando duas balas por vez soou mais alto do que todos os outros. Ia deitando inertes um a um, cada segurança.
Enquanto John os aniquilava, Marie-Claire subia ao veículo. Procurou a sala de comando, e quando chegou à sua porta, esta se abriu por dentro, e de lá saiu um rapaz, da idade de John, porém mais baixo e magro. Pele pálida, roupa alinhada e branquíssima. Cabelos prateados e longos, presos. Usava grossas lentes, que deixavam seus olhos de íris azul-céu maiores do que realmente eram.
Marie se assustou e ele chegou à frente, trazendo uma arma de calibre 12.
— Lincoln?
Ele sorriu, exibindo uma fileira de dentes brancos. Seu sorriso era maroto, de alguém que parecia ser um grande mulherengo, mesmo tão jovem.
— Isso mesmo, minha pequena. Saudades. Cada dia que passa e você mais bela.
— JOHN! – Marie­-Claire gritou o mais alto que pôde. Tanto que Lincoln tapou os ouvidos. – VAUGHAN!
John ouviu o grito. Se ela não tivesse gritado o nome “Vaughan”, ele iria ignorar completamente, afinal sua irmã tinha uma arma e sabia atirar. Mas havia um Vaughan ali. Então isso tudo se complica, e muito.
            Então ele largou o que fazia e correu pra dentro do Zeppelin.
***
            — Ouch, que grito. Deus. Além de cego, estou meio surdo agora. Calma, não vou matar vocês. Eu só quero defender essa beleza aqui. O dono soube que um tal Reymond contratou vocês e então me chamou pra vigiar. Acho que recebi mais do que vocês.
            John chegou lá, correndo. Olha pra Lincoln.
            — Hm, é você? Pelo grito dela, eu pensei que era seu pai. Não é tanto problema assim. – Diz Heisenberg, acendendo um cigarro.
            — Vocês não vão levar este Zeppelin. – diz Lincoln Vaughan, convicto.
            — Não?
            John pegou o cigarro da boca e jogou na direção de Lincoln, que ia se desviando e não viu John pulando em cima dele. Marie correu até a sala de comando.
            O Heisenberg socava o Vaughan. Sabia que não poderia atirar, uma fagulha e tudo ia pelos ares.
            Uma pequena pausa nos socos.
            — Vamos Heisenberg... Já parou? Acha mesmo que me matar vai trazer seu irmãozinho de volta, é? – Lincoln deu um sorriso, agora vermelho. Nunca venceria Heisenberg numa luta corpo a corpo, mas poderia vencer fácil manipulando sua mente.
            John não respondeu. As feridas do assassinato de seu irmão mais velho ainda estavam abertas. Poderia matar Lincoln Vaughan, mas não teria o mesmo gosto de matar o assassino de Thomas, o pai de Lincoln.
            Heisenberg bateu a cabeça de Lincoln no assoalho da nave, e vendo que ele desmaiara, arrastou-o para a porta e jogou-o lá embaixo.
            — Vamos, Marie.
            Ela disparou a apertar todos os botões e alavancas do painel e acabou que o zeppelin começou a subir. Chegaram a certa altura e Marie tocou-o pra frente, sorrindo.
            — Isso é fácil, Johnnie!
            — Marie-Claire... Johnnie não. – Reclama, levando o cigarro aos lábios novamente.
            — Ah, John. Vá fumar lá fora, tá. Não sou obrigada não.
            Ele levantou-se e saiu da pequena sala. Foi a uma adjacente, onde havia janelas e sofás. Ficou em pé, olhando Rune lá embaixo.
            Quando o cigarro estava quase no filtro, sentiu passos e se virou, antes que Lincoln Vaughan lhe desse uma punhalada nas costas.
            John segurou os pulsos dele e o arremessou até a parede do outro lado.
            — Então foi por isso que você apanhou tão quieto... Planejava me matar na surdina, é?
            Lincoln riu, mostrando uma fileira de dentes ainda vermelhos.
            — Basicamente. Eu uso o meu cérebro, John.
            Lincoln se levantou.
            — Desculpe, não quero falar com você agora. – Sumiu, usando uma velocidade assombrosa. Uma técnica oriental antiga, passada de geração em geração.
            — Merda! MARIE-CLAIRE!
            Marie ouviu o grito e virou-se, mas era tarde demais. Lincoln tapou sua boca e nocauteou-a, com uma coronhada de uma pistola automática. John entrou na sala.
            Lincoln deixou a criança cair, desmaiada. Segurou com custo o soco de John e então o Zeppelin inclinou para o lado, levando tudo. John se desequilibrou, caindo. Lincoln conseguiu se apoiar, e saiu da sala.
            Heisenberg levantou-se e pegou a irmã. Dormia. Começou a sacudi-la.
            — Marie... Marie... Não durma, eu não sei pilotar essa coisa! Espere...
            O Zeppelin descia lentamente, flutuando sem rumo. E a solução estava ali mesmo, a bordo. Lincoln, ele sabia pilotar, John já o vira pilotando.
            Deixou Marie e foi atrás de Lincoln.
***
            Longe ele não estava. John olhava cada buraco daquele lugar. E rápido.
            Quando John parecia distraído, Lincoln chegou correndo num golpe desesperado contra John, que se desviou facilmente. O garoto de óculos caiu rolando até a porta que dava pra fora.
            John riu.
            — Estamos caindo, cara! E você ainda quer me matar, é? Vamos morrer nós dois! – Disse, se aproximando de Lincoln. Este parecia com dor. O óculos estava rachado. – Levanta daí e vai pilotar essa coisa! Juro que te deixo vivo!
            Lincoln riu.
            — Nunca.
            Pegou o tornozelo de John e segurou firme. Com a outra mão, abriu a porta. Já dava pra ver as pessoas na rua, estavam a uns vinte metros do solo.
            Com toda a força que tinha, Lincoln fez John se desequilibrar e cair lá embaixo.  Viu-o caído e espatifando no chão.
            — Eu uso meu cérebro, Heisenberg. E não o derreto com nicotina.
            Ergueu-se e correu até a sala de controle, e ao chegar lá, viu Marie-Claire tentando fazer a descida.
            — Saia! – Vociferou, tomando o controle e descendo o Zeppelin.
            Depois do pouso, sorriu, olhando Marie.
            — Acho melhor você ir catar os restos mortais de seu amado irmãozinho, sabe.
***
            Dor.
            Muita dor.
            Insuportável dor.
            John só sabia gritar. Seus olhos estavam abertos, e sua mente, consciente. Caíra do Zeppelin e quebrara o corpo todo. Milhões de agulhas lhe furando a carne, dor, dor e mais dor.
            Viu seu braço esquerdo fraturado, o rádio exposto, branco. Sua perna direita estava dobrada num ângulo impossível para humanos, sua tíbia estava fraturada em pelo menos três lugares.
            Pediu pra morrer, para acabar a dor.
            Costelas, músculos, tudo era um mar de dores infinitas.
            Ficou assim por quinze minutos, a consciência teimando em se manter viva, apenas para sentir a dor extrema. Cada segundo era um século.
            Então reconheceu sua irmã e desmaiou pela perda de sangue.
***
            Lágrimas grossas desciam cortando o rosto rosado de Marie-Claire. Seu irmão tinha 2% de chances de sobreviver, e a cada segundo de demora essas chances diminuíam.
            — Senhorita... Seu irmão, assim como você...
            Marie sabia o que ela ia falar. Sabia bem. Já aconteceu antes.
            —... Não podemos cuidar de mercenários procurados pelo governo. Isto é um hospital público.
            —ELE É HUMANO TAMBÉM, SABIA?
            — Silênc--
            — NÃO ME MANDA CALAR! VAI NEGAR ATENDIMENTO? SSO TE FAZ TÃO MONSTRO QUANTO A GENTE!
            A médica olhou aquela criança chorando pelo irmão. Teve dó dela. Parecia tão frágil assim. Como ela matava pessoas pra ganhar dinheiro? Como? Uma menina que deveria estar brincando de boneca... Implorando para que salvassem Heisenberg. Aquele que já ceifou tantas vidas. Ele deveria ser salvo? Pra continuar a matar? Mesmo sem estas questões, ela não poderia abrigá-lo, pelo menos não sem ser presa.
            — Senhorita...
            — EU NÃO QUERO APELAR COM VOCÊ! EU ESTOU PEDINDO POR FAVOR!
            — Mas eu não...
            Marie-Claire tirou uma Colt .45 do coldre dentro de seu colete e atirou num vaso à direita da médica. Cambaleou um pouco por causa do coice que a arma lhe dava. Depois mirou na testa da médica.
            — Vai atender o meu irmão ou não?
***
            John abriu os olhos. Tentou se mexer, mas estava todo imobilizado numa cama.
            — Johnnie!
            Ele virou o rosto, e viu sua irmã. Os olhos dela continuavam azuis e grandes. Mas havia olheiras negras sob eles, e seu rosto de anjo estava triste.
            — Marie... O que houve?
            — Você caiu.
            — Disso eu sei. Eu quero saber é meu quadro.
            — Bem... Um monte de médicos olharam você. Ta aqui tem um mês. Eles me falaram que era pra você ter morrido na queda. Acho que o nosso corpo incomum de Heisenberg que te deu força. Você se recuperou bem demais.
            — Quebrei o que além da perna e do braço?
            — Um monte de costelas, um monte de hemorragias, ah, eu não sei os nomes. Você vai ter que usar pinos na perna o resto da vida.
            — Vou andar? – sua voz transparecia o medo que sentia.
            Marie olhou triste.
            — Vai depender de você. Mas acho que sim, você é um Heisenberg! Não morremos fácil. – E sorriu.
            — Vaughan... Seu maldito.





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É, acabou. u.u

Amanhã tem Phyreon Recomenda! E com o próprio recomendando! Eu estou com medo! ele não anda de bom humor esses dias. =/
           




3 comentários:

  1. Tenho que dizer q eu não consegui imaginar os personagens como descritos quando li minha mente interpretava como anime mas o enredo desta história ficou muito bom só estou eperando pra ver se o Johnie vai conseguir se vingar xD
    By Erik

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  2. Kmila, preciso ler a sequência...cadê...Tem continuação, não é...por favor,continue...
    Tá muito bommmm!

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  3. Hey, Cacá...
    Sinto muitíssimo, mas não, não há continuação.
    Isso foi só um devaneio beeeeeeeeeeem viajado de uns personagens legais que eu amo inventar coisas em cima: Os Heisenberg.

    Na página de capítulos há Leaden Chronicles, que fala sobre a mesma família, mas ANOS depois que os fatos desse conto aconteceram.

    Leia eles, que garanto que tem continuação o/

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