XXXV
—
Mas eu
sempre quis que Archie ficasse com Liv. Eu até desconfiava que ele gostava dela. – sua mãe disse, mas isso
só fez a face de seu pai ficar mais vermelha ainda.
Theo
sinceramente não acreditava que eles estavam discutindo aquilo quando Lyra estava em algum lugar destruindo Luce. Por isso
estava mais longe, fitando uma chave de fenda aleatória, ouvindo a conversa
como se ela ocorresse a um quilômetro dali.
Ele,
Archie, Amy e o pai dos dois desceram de volta ao porão quando viram que não
havia mais autômatos para destruir. Aproveitaram e levaram o professor pra lá
também. A mãe de Amy a abraçou e teimava em não soltar mais, apesar de que ela
queria se isolar também.
— E eu
sempre soube disso, Meg. – a mãe de Archie completou com um sorrisinho.
— Então
todo mundo sabia disso aqui, menos eu, é isso mesmo? – Theo sabia que seu pai
não estava furioso. Aliás, entendia bem o sentimento dele. Era igual ao seu.
— Eu
também não sabia. – Bartholomew disse, seco.
— Ah, só
um cego pra não ver… e Liv, que é bem lerdinha.
— Mãe…
— Eu
pensei, Archibald – Ephraim o olhou – que você era um bom rapaz. Claro que eu
pensei, eu te carreguei no colo, sabe? Aí você cresce e me dá essa punhalada
nas costas.
Archie não
sabia mais pra onde ficar vermelho, e Theo estaria rindo se não tivesse suas
preocupações.
— Mas
Archie é um bom garoto, Ephie. É recatado, tem boas notas, muito bem educado…
vai dizer que você nunca imaginou isso? Nossos filhos e os de Bart juntos? –
Magdalene sorriu. Ela estava feliz com aquilo tudo. Como conseguiam?
— Claro
que já, Meg. Eu pensava assim: eu teria um filho e Bart uma garota e íamos
casar os dois, ou vice-versa. Daí nós dois tivemos um casal e eles também,
perfeito! Queria que casassem entre si, sabe? Só que eu acho que Theo gosta de
Amy do mesmo jeito que gosta da irmã, e ainda tem as morenas de olhos azuis pra
acabar com tudo – será que ele podia parar
de citar Lyra assim? Irritava. – e aí… aí… – os ombros dele caíram. – Liv é só
uma menina, Archibald! Você não tem que sair pe- pegando ela por aí como se fosse, se fosse-
— Hey,
pai! Archie não fica me pegando por
aí. – Liv rosnou.
— De
acordo com a sua mãe a história é antiga… eu queria, Archibald, que você
fizesse tudo direito, fosse a minha casa, sentasse em meu sofá e me convencesse
a dar a mão dela em namoro, mas nãão. – o tom sarcástico de Ephraim era
comparável ao de um Thrower.
— É
porque… – a voz de Archie era pouco mais que um sussurro. Aquele sujeito
corajoso que estava enfrentando robôs há meia hora desapareceu. – eu não tive tempo pra isso…
— Pai, nós
começamos a namorar há… dois dias, três, sei lá. Quando a Aurum foi atacada.
Ephraim
franziu o cenho com força.
— Verdade
isso?
Os dois
assentiram.
— Theo.
— É
verdade mesmo. – disse, vago.
— Amy.
— Fiquei
sabendo disso agora. – ela foi vaga também.
— Então –
Ephraim fez uma expressão confusa – Há quanto tempo você gosta da minha filha,
Arch?
— Dois,
três anos. – sussurro.
— E só
agora você se declarou?
Ele
assentiu.
Ephraim
riu alto.
— Seu
filho é lerdo igual a você, Bart! – exclamou.
Theo podia
ver que Archie queria sair correndo dali.
— Claro
que não. O lerdo sempre foi você. – Bartholomew rebateu.
— Certo,
certo. De qualquer modo, Arch, eu não quero você e a Liv namorando. Não
enquanto ela estiver estudando na Aurum. – ele voltou ao timbre sério.
— Mas pai,
nós nem sabemos quando vamos ter
aulas de novo lá. O lugar foi destruído. – Liv o encarou.
— E daí?
Minha palavra ainda vale. – ele sorriu, duro. – e eu vou assegurá-la
pessoalmente.
Liv fechou
a expressão.
— Vai me
vigiar, é? Do mesmo jeito que você vigia o Theo e a Lyra? – ela se sobressaltou
depois que as palavras saíram. Não queria dizê-las, Theo notou ao olhar sua
expressão.
Ele fez um
gesto dizendo que não se importava, e sua irmã abaixou as pestanas,
arrependida.
— Seu
irmão é um problema que eu vou resolver mais tarde – ele ergueu o dedo.
— Não
precisa se preocupar comigo. – Theo o olhou. – Você não terá problemas com Lyra
também.
O tom de voz
dele mudou algo na expressão do pai.
— Onde
eles estão? Já deveriam ter voltado.
Sem
resposta.
— Theophilo.
Theo não teve
tempo de dizer nada. A porta se abriu num estrondo e alguém entrou.
Estava
ferido, com queimaduras nos braços. Coxeava, havia uma mancha de sangue na
calça e um inchaço digno no rosto. Estava bem sujo também, mas parecia firme
como uma rocha.
— General.
– Bartholomew balançou a cabeça.
—
Leadengear. – ele balançou a cabeça também, em cumprimento. – Preciso que todos
vocês desapareçam daqui, civis. Vão
para a casa do garoto dos óculos ali, soube que não é longe. Ah, sim. Tenho
notícias.
— Quais? –
Bartholomew perguntou, e McMillan sorriu. Um sorriso vermelho de sangue.
— A ameaça
foi destruída. E todos foram mortos. Hemingway, Fairmount, as duas Thrower e o
garoto do cabelo vermelho.
A
informação levou muito tempo para chegar até Theo, e ele olhou Amy, que
empalideceu dois tons.
— Como
assim? – Liv quase berrou. – Como mortos?
— Tudo
explodiu, menina. Toneladas de terra e entulho soterraram o lugar para a vida
toda, porém…
— Porém?
— Não lhes
interessa. Vão embora agora.
A verdade
era que a cabeça de McMillan doía. E ele mal se lembrava de como saiu de lá. Lembrava-se
de ter acionado o botão. E depois, acordar ali perto. Entre isso tudo, não
havia coisas muito coerentes. Ignorou tudo. Era veterano de guerra, e não era
tão jovem.
A memória
tendia a falhar.
Não sabia
também como perdeu dois dentes da boca, e por que eles estavam no seu bolso.
Mas uma
coisa ele ainda lembrava bem, uma frase aleatória…
Até nunca mais, Estorvo.
●●●
Ninguém
trocou uma palavra sequer no trajeto até a casa dos Steamwork. E eles não foram
nem escoltados, estavam por suas contas. O pai de Archie começou a falar que
aquela era a sua casa, mas logo calou. Ninguém lhe dava importância.
Theo se
recusava a acreditar que aqueles três estavam mortos. Era… impossível. Eles
eram Magos Elementais, eram lendas. Lendas não morriam…
Mas eles são humanos também, Theo.
Ainda
assim… a ideia era irreal demais para ser assimilada. E ele… ele nem disse a
ela que…
Uma mão
fina apertou seu ombro. E a voz foi só um sussurro.
— Eu
também não acho que eles morreram. – era Amy.
Theo
assentiu. Ela sabia como ele se sentia, ela sempre soube. Mal percebeu quando
estava subindo os degraus da escada.
A casa
estava perfeita, intocada. Era como se eles apenas tivessem viajado. Ephraim
abiu a porta e acendeu a luz.
E Theo
quase desfaleceu quando viu a sua sala de estar.
Lílian
estava com o abdômen exposto, sendo enfaixado por Pyro, que estava sem camisa e
completamente sujo. O espesso cabelo de Lyra estava emaranhado, espalhado pelas
costas. Ela tinha manchas de sangue pelas pernas, e uma tala no braço esquerdo.
Ela se
virou, e Theo pôde ver seu rosto. Havia um corte, escoriações, fuligem, e os
olhos. As chamas azuis. Ele correu e a abraçou com toda a força que tinha, e só
depois de um longo tempo reparou que Chris não estava lá. Nem Cat.
Os outros
entraram na sala, e Pyro se levantou quando Amy entrou. Ela correu, e Lílian se
pôs no meio do caminho, a abraçando.
— Seu pai
não pode ver isso, Amy. – Lílian sussurrou e ela entendeu.
Theo
percebeu que Lyra não o abraçava de volta. Uma tala no braço, ela o quebrou.
Ela, que era sempre tão forte…
Ele ouviu
um barulho seco de algo cair no chão, e rolar. E então Lyra o abraçou com a mão
desimpedida. Theo olhou o chão, procurando o que ela deixou cair.
Logo
encontrou. Uma esfera de cristal, limpa e sem um arranhão. Dentro dela uma
fumaça rodopiava preguiçosamente.
Era o
orbe.
Estava
acabado, tudo acabado.
●●●
Dominique
Langgard tirou o quepe e soltou o cabelo. Sua mão enfaixada ardia ao mínimo
toque.
Ela estava
na Aurum quando a explosão derrubou o prédio de pesquisa. Algumas chamas a
pegaram, mas não foi nada grave, assim os médicos disseram.
Antes
fosse.
Antes
estivesse embaixo da marquise, antes tivesse morrido por lá. Era muito melhor
do que ver tantos funerais depois.
Muito
melhor que ter que enterrar caixões vazios, e um deles… ser o de Cat.
Fechou os
olhos devagar. Já tinha chorado tudo que tinha para chorar nos últimos três
dias. Precisava estar inteira, recomposta para todas as ordens daquele general
que passou a odiar.
Desde o
momento em que ele disse com um sorriso discreto que havia salvado o mundo e
que Catherine havia “fatalmente” – com um toque de sarcasmo – morrido por lá. E
que ela havia se juntado a Fairmount, traindo o exército e o país. E que era
bem melhor para ela estar morta com o outro cientista, pois morreria de
qualquer modo se fosse encontrada viva.
Nicky o
amaldiçoou quase que em voz alta. Quase berrou que preferia mil vezes ele morto
a Cat.
E passou a
se sentir culpada. A única culpada. Afinal, quem indicou Cat para a missão?
Quem insistiu para que ela ficasse com o tal cientista? Quem apoiou?
Agora só
restava isso. Um caixão vazio, e as memórias. O pijama de flanela azul, aquelas
roupas estranhas.
Ainda
estava em Rhenium Valley, eles precisavam averiguar algumas coisas, e tentar
recuperar os cilindros de energia. Ninguém sabia se eles chegaram a ser
ativados, e era praticamente impossível entrar nas ruínas do observatório.
Parecia que alguém com um maçarico gigante derreteu
a rocha.
Ah, aquele funeral foi tão triste. Mais ainda que quando Nicky enterrou
o avô. As crianças estavam lá também, quietas, assustadas. Três dos garotos
também morreram, e Nicky sabia que o choque os deixou assim, aturdidos. Aéreos,
como… como ela mesma.
Não sabia
bem como recomeçar a vida, não com aquele peso todo nas costas. Talvez se afastasse
um pouco do exército, o que não seria difícil de conseguir por causa da
queimadura na mão. Queria se lamentar bastante primeiro, ver os pais de Cat,
pedir perdão a eles por ter matado sua garota.
Eles a
perdoariam? Queria que não. Não merecia perdão.
Abaixou a
cabeça em frente ao espelho. Os olhos formigavam, mas as lágrimas não vinham
mais. Ergueu de novo, e pulou de susto ao encarar o espelho.
Girou no
próprio eixo e coçou os olhos.
—
Dominique, não é? – a voz fina disse.
— Muito
bem, Nicky. Você está vendo fantasmas. – ela olhou bem a garota a sua frente.
Era uma das crianças mortas, a de cabelo branco. Ela parecia bem viva pra um
fantasma.
— Não sou
um fantasma. Desculpe aparecer assim. – ela se aproximou. – eu não deveria
estar aqui, só que… eu sou muito, muito estúpida e sentimental.
— Que lindo,
não?
— Cat está
viva também.
Nicky
sentiu as entranhas caírem num abismo.
— Não,
ela…
— Está
viva, e disse que você era a única pessoa que realmente se importava com ela. E
que você faria alguma coisa estúpida. Tome. – A menina estendeu um papel.
— Acho que
ela explica as coisas aí nessa carta. Mas escute. Você precisa continuar
achando que Cat morreu, entende?
— Claro
que sim.
Era óbvio.
Se a encontrassem viva, matariam.
— Fairmount…
também?
— Sim. Nós
cinco. Eu vou… embora em breve. Mas Cat e Chris ainda estão na casa de um
garoto ruivo na cidade, e vão ficar lá até conseguirem sair dela sem ser
vistos. E então vão começar outra vida.
— De
qualquer modo a perdi, menina. – Nicky fitou a carta.
— Não vá
atrás dela, por favor. Ela vai até você, um dia. – ela suplicou, doce.
— O que
aconteceu no observatório?
— Várias
coisas não lhe convêm. Por favor, pode fazer com que o general nunca volte a se
interessar por essas coisas? Digo, os autômatos e tudo que aconteceu aqui?
— Sim,
posso tentar. Tudo pra tirar o foco de Cat.
Tudo para protegê-la.
— Se ele
forçar muito, talvez as memórias voltem…
—
Memórias?
— Sim. Ele
perdeu boa parte das memórias recentes. E elas nunca devem voltar, Dominique. –
os olhos verdes eram sérios. – se elas voltarem, você terá que matá-lo. Estou confiando isso a você.
Ela era
uma menina, mas tinha a seriedade de um adulto. Não qualquer adulto, mas um
líder forte e determinado.
— Será o
maior prazer. – Nicky sorriu.
Cat estava
viva. E finalmente ia viver. Sem
fórmulas químicas, sem inventos, sem armas.
Nicky
sentiria a falta dela, mas… isso era tudo que sempre desejou a ela. Que fosse
feliz.
— Muito
bem então. Preciso ir. Muito obrigada.
— Eu que
lhe agradeço. – meu anjo.
Dominique
abaixou os olhos para limpar as lágrimas, e quando levantou-os, ela não estava
mais lá.
Então,
desabou a chorar novamente.
●
— Eu já te
disse pra não chegar perto dessa coisa,
não foi? – Lyra jogou o cabide na direção de Theo, que se protegeu com os
braços.
— Mil
perdões my Lady. Só estava olhando a
fumacinha. – ele se afastou da cômoda.
— Você viu
como a mão de Chris ficou. – ela advertiu.
—
Estranho, porque… bem, ele pegou a coisa – apontou o orbe – no Ruby e não se
queimou.
Lyra fitou
o vestido.
— É. Sei
lá, isso aí tem vida.
Três dias
se passaram depois que Lyra conseguiu o orbe de volta. Ela empacotava as roupas
que Liv lhe deu – e obrigou a levar de volta a Raython.
Os dois
agiam normalmente, como se não fossem se separar. Era só a calmaria antes da
tempestade, Theo sabia bem.
Viu Chris
no dia anterior. Ele estava um tanto abalado psicologicamente, um tanto calado
e quieto. Não tinha muitos ferimentos além da mão queimada. Quando ele arrancou
o orbe de dentro de Luce, a pele queimou de modo que nenhum dos três magos
conseguiu curar.
Então Lyra
e Pyro se entreolharam e disseram algo do tipo “Acho que é como na nossa mãe” e disseram a Chris que aquilo podia
demorar a curar, e que ficaria a cicatriz por toda a vida. Ele não se importou
com isso.
Ainda bem
que Cat estava lá com ele, ou Chris… ele provavelmente se mataria.
Os dois
estavam na casa de Tom, e ficariam lá até conseguirem nomes falsos e disfarces.
O ruivo disse que conseguiria isso pra eles, afinal conhecia todo tipo de gente
que não prestava nesse mundo. Lílian os supriu com uma fortuna em pedras
preciosas, e Theo não os veria mais.
Talvez
nunca mais.
Lyra o
contou como eles saíram do observatório. A explosão de McMillan foi retardada
por cinco segundos, o que foi suficiente para Lyra pegar Chris e Cat e usar a
Sellphir.
Como
Lílian estava perto do general, o resgatou. Ela e a prima brigaram quando
chegaram ao térreo, onde Pyro e Tom não sofreram danos. A morena queria matar o
general de qualquer jeito.
Mas Lílian
sugeriu algo melhor. Modificar as memórias dele, fazer com que ele esquecesse
que algum dia conheceu Magos Elementais. Implantar coisas diferentes, e a
certeza de que os cinco ali estavam mortos. Apagaria também qualquer referência
a Tom, para evitar futuras investigações. Depois o deixaria perto da casa de
Archie.
Lyra disse
que era muita coisa pra mexer e que talvez ele morresse no processo, mas não se
importou com isso. O general ainda tentou fugir, mas estava baleado e queimado.
Depois de desmaiá-lo, tudo foi mais fácil.
Varsak
usou de sua magia milenar para derreter rocha sólida por cima do lugar, selando
tudo por toda a eternidade. E então, eles voltaram pra casa.
Pra sua
casa, não a deles.
Os pais de
Theo os encheram de quandos, ondes e por quês, e o principal era “por que vocês tem que fingir de mortos?”
E eles
estavam sem muita vontade de enrolar e mentir dessa vez. Theo disse-lhes que
explicaria depois. Isso há três dias.
A pior
parte com certeza foi o enterro. Porque ele realmente sentia um vazio estranho
ao olhar uma lápide escrito “Lyra
Thrower” e um monte de gente ir até ele lhe dar condolências.
Foi uma
das piores coisas que já presenciou.
Claro que
a pior ainda estava por vir.
— Vou
levar esse uniforme. – Lyra o tirou do devaneio. – eu amei esse modelo de saia.
– ela olhou a borda dourada.
— Você
fica linda nela. Mais ainda. Sei lá se é possível. – ele viu Lyra corar, depois
se aproximar dele e lhe beijar.
Os beijos
andavam mais intensos, Theo reparou. Mais ainda que o normal. Eles demoravam
mais para se soltar, e ficavam minutos abraçados sem falar nada, só sentindo a
presença um do outro. Isso até o pai de Theo os interromper.
Aquilo sim
estava chato.
Mas ali,
naquele momento, só havia eles. Liv estava na sala arrumando as faixas de Pyro,
Lílian desaparecera, e seu pai estava na cidade.
Lyra tirou
sua tala rapidamente, seu osso quebrado estava quase bom, mas Pyro teve que
quebrar o dele de novo para reparar. Aquilo foi feio de se olhar.
Theo a
soltou antes que perdesse o controle da situação, e consertou os óculos
recém-consertados.
— Eu vou…
pegar seus desenhos.
Lyra
assentiu, deixando-o ir. Não podia criar mais laços ainda com ele. Riu da
própria desgraça e voltou a dobrar roupas.
Theo
apareceu logo depois com um pacote de couro.
— Coloquei
esse couro aqui ao redor porque você vai pra Raython, e sabe como é né? – ele riu.
— Quando
eu estava começando a acostumar com
esse inferno aqui… – ela pegou o pacote. – tem quantos?
— Não sei.
Um monte. Os que eu achei melhores.
— Você tem
que ficar com alguns deles…
— Ainda
tenho muita coisa… – ele riu. – e sabe que no dia do ataque na Aurum… naquele
dia eu esqueci meu caderno de desenho embaixo do livro da Lenda. Ficaram os dois na escrivaninha. – ele coçou a cabeça.
— Muito
bom isso. Assim – ela o abraçou pelo pescoço – você não vai esquecer-se de mim
nem tão cedo.
— Por
favor, Lyra. Eu nunca vou me esquecer de você.
— Eu
pensei numa coisa, sabe. Pensei em mudar suas memórias. Em fazer você esquecer…
que ficou comigo.
— Nem
pense nisso.
— Mas eu
desisti. Não quero sofrer sozinha. – ela sorriu e o beijou.
Quando
Lyra soltou os lábios dele e olhou seus olhos, Lílian pareceu.
— Pronto.
Podemos ir agora.
----------
0 comentários:
Postar um comentário