Crônicas de Chumbo #11






ELEVENTH BULLET

Mapa





Icaro foi parado pela mão de Nick, que segurou seu braço.
— Não, na boa. – Nicholas encarou os olhos de cristal de Icaro. – até eu com medo de ir lá.
— Ele tem que voltar, não adianta ficar ali parado olhando.
— É que… – Nick desviou os olhos para seu primo, que fitava o local onde o homem sumira com Amanda – se o Vince soubesse magia, podia sentir pra onde o cara levou a Amanda, não? – perguntou com pesar.

— Não sei. Talvez sim, talvez não. Vá atrás dele. Arraste se for necessário. Vamos na frente. – Icaro cuspiu, virou-se e foi até Lucas.
Nick suspirou.
— É Haroldo, sobramos. – disse ao inseparável réptil.
Andou até alguns metros perto do primo.
— Vince.
— Não enche.
— Temos que voltar, sabe. Não vai adiantar de nada ficar aqui e…
— Isso é porque você não gosta dela como eu gosto, Nick. Claro que não. – Vincent não se virou. – óbvio que não. É culpa minha, Nick. Eu não pude defendê-la, eu não fiz nada! Eu deveria ter levado ela pra Thanyto. Mas não… agora…
— Agora – Nick se enfureceu e andou até ele – você vai comigo achar um meio de trazer ela de volta, seu bastardo. – ele puxou o rabo-de-cavalo de Vincent, que tombou pra trás.
— Mas se eu…
— Se você merda, Vincent! Que inferno! Você não vai aprender magia se ficar empacado aqui! A gente tem até a meia-noite – Nick gritou cada palavra cada vez mais alto – e se você não for por bem, eu te arrasto e ainda faço Haroldo morder a sua canela! – o garoto o fulminou com os olhos anis.
Vincent o fitou por um instante.
— Mordida de Haroldo não, por favor. – Vincent disse, rumando até onde sua montaria estava escondida.
Chegaram à casa pouco depois de Icaro e Lucas. Estava tudo revirado, e algumas paredes destruídas. As gêmeas se enfaixavam.
— O que houve, exatamente? – Vincent virou uma cadeira para se sentar.
— O maldito…
— Entrou…
— Enfrentou a gente…
— Nós perdemos…
— E ele levou a matadora de besta. – as duas finalizaram em coro.
— Aryon?
— Caiu com um golpe. – Christina apertou o laço em seu punho. Ela parecia bem. – mil perdões, Vincent. Mas parecia que ele queria só pegar a Amanda, mais nada.
Ele abaixou as pestanas.
— Eu não… entendo isso, essa coisa de… por que ela?
— O cara…
— Disse…
— Que queria…
— Uma jovem pura…
— É óbvio que se trata de uma menina virgem. – as duas disseram em coro. – Mas nós duas somos virgens. – elas se encararam.
— Não é só esse tipo de pureza, meninas… acho que o certo seria… uma donzela que nunca matou ninguém. E isso eu tenho certeza que vocês não são. E que zona é essa e por que estou na casa de praia, hã?
Todos olharam o alto das escadas, incrédulos por verem Oswald Lewis em pé.

•••

— Vamos repassar as coisas. – Oswald tomou um longo gole de café e voltou a falar. – Há um mago. Este mago abria os portais de monstros. – sua voz era rouca, forte, rouca. Isso era devido a um corte que sofrera no pescoço, que quase o matou. – Daí ele capturou a namorada de Vince para abrir outro portão. Um bem maior, creio. Poderia até ser… – estreitou os olhos – Nicolle, vá buscar meus cigarros.
Ela encarou o pai. Sabia que ele se levantaria, mas ainda não acreditava no estado dele. Os cabelos cor de mel escondidos por faixas. Várias bandagens nos braços fortes e musculosos. Oswald Lewis era um homem enorme, de constituição firme. Tinha várias cicatrizes pelo corpo, e as que sua filha podia ver era aquela no pescoço e as três unhadas de animal, de anos atrás. O pijama e agora as bandagens escondia as piores. Mas os olhos duros feitos de cristal ainda eram os mesmos. Pequenos e ágeis, que já viram tudo.
Tudo.
— Não trouxemos. Não sabíamos que se levantaria tão cedo.
— Então vá comprar. .
Nicolle não respirou, só desapareceu. Ignorar uma ordem do pai significava morte, ela sabia bem.
Vincent olhou-a desaparecer. Não lembrava o nome da magia de teletransporte e também não queria se lembrar.
Viu seu tio olhar a esposa, firme.
— Como era o infeliz?
— Não muito alto, cabelo preto… olhos negros também, pele clara.
— Cabelo curto assim? Vestia um terno?
— Sim. – Christina assentiu.
— Diabos. – praguejou. – Aquele maldito de novo.
Nicolle apareceu com os cigarros e entregou ao pai. Oswald pegou um deles e acendeu com um estalo de dedos. Tragou profundamente, sentindo todo o prazer do vício.
Vincent observou. Se dependesse de seu pai, fumaria também, mas a mãe sempre foi muito categórica quanto à vícios. Vincent concordou com ela. Tanto seu tio quanto seu pai tinham uma fraqueza óbvia. Morreriam sem os malditos cigarros.
— Agora sim consigo pensar melhor. – Oswald bateu o cigarro no cinzeiro. – Aquele cara se chama Louis Wendell. Filho de Mark Wendell, que foi uma pedra no meu sapato por anos, quando você ainda estava no saco do seu pai naquele inferno de Kialf do Sul – apontou Vincent. – Louis com certeza quer acabar o que o pai começou.
— Que seria…?
— Usar a cidade e seus cidadãos como oferenda para um Lorde do inferno. Pra que ele volte, só isso. – Oswald soou desinteressado.
— Típico. – Lucas cuspiu a palavra.
— Depois – Oswald apontou um dedo para o sobrinho, ameaçador – eu converso com você, Lucas.
— Sei. – ele respondeu, aéreo.
— Bem, a coisa é – Oswald se ajeitou como podia no sofá – que nós temos que impedi-lo, não só para salvar a noiva do Vince.
Começou com namorada e agora é noiva… daqui a dez minutos ela está grávida. – Vincent pensou, revirando os olhos.
— Se esse cara abrir o portão, estamos perdidos. Não só nós, mas o mundo todo. – o tom dele foi sério.
Os presentes se encararam.
— Vincent e Icaro, vão à cidade e peguem um mapa dos esgotos de Shallvy pra mim.
Os dois mencionados trocaram um olhar rápido. Vincent mataria qualquer pessoa, primo ou não. E a pouca afeição que eles tinham poderia ser um problema.
— Mas pai…
— Mas nada. Se vocês dois não se dão bem isso não é problema meu. Eu faria isso se não estivesse assim. – apontou todas as faixas e a perna quebrada.
Icaro assentiu.
— Certo.
•••

Ir até a cidade e pegar um mapa dos esgotos poderia ser algo simples.
Se não houvesse tantos monstros no meio do caminho.
Icaro não era poderoso o suficiente para usar a magia de teletransporte. E também não a conhecia. Apenas suas irmãs podiam usá-la, não era coisa para qualquer um. Por isso, tanto ele como Vincent pegaram seus galgers e saíram como raios.
Chegaram naquela mesma praça onde viram Amanda aparecer com aquele maldito. Desmontaram.
Vincent podia sentir as criaturas espreitando. Podia cheirar a fumaça que subia das casas. Podia ouvir gritos. De algum modo as criaturas não atacavam as pessoas, mas ainda faziam um pandemônio. Se Louis precisava deles vivos, fazia sentido…
Mas parece que ele não precisava de Icaro e Vincent.
— Entra, rápido. – o rapaz de cabelo vermelho disse ao primo. – Estão vindo.
Icaro notou que Vince não o olhava. Estava diferente, focado. Olhou os cachos por um momento e entrou na biblioteca.
O lugar estava revirado, mas Icaro sabia onde começar a procurar. Foi até a área de registros da cidade, ouvindo tiros.
Era saudável deixar Vincent sozinho? – Questionou-se. Não sabia. A aura dele…
Algumas prateleiras estavam tombadas, e havia sangue humano em alguns pontos, manchando os papéis no chão. Icaro procurava rapidamente, e parou quando notou o silêncio.
Os tiros pararam.
Imediatamente ele largou o que fazia e correu até a entrada, mas foi surpreendido por uma besta que rugiu na sua frente. Sacou a espada e deu um pulo longo pra trás, tomando distância.
Quando ia golpear, o barulho dos tiros machucou seus ouvidos. Sangue negro varou pela têmpora da criatura, que se retorceu e caiu morta.
Olhou o lado e viu Vincent lá, a arma ainda apontada. Viu os olhos anis dele, e a expressão séria. O que Icaro viu foi um reflexo de John Heisenberg. Um reflexo perfeito.
E pela primeira vez, teve medo.
— Já achou? – a pergunta foi seca.
— Não. – Icaro embainhou a espada. – Não ouvi os tiros, então…
— Não devia se preocupar comigo. – Vince passou por ele. – Onde estão os mapas?
Icaro se virou. Vincent tendia a ficar insuportável se continuasse daquele jeito.
— Olha aqui! – Icaro alcançou o primo – Eu não tenho nada a ver com rapto de menininha nenhuma, entendeu? Então dá pra parar de agir assim, feito um idiota?
Vincent tirou um mapa e o olhou, sem dar atenção a Icaro. Depois de muito tempo foi que respondeu.
— Eu até estou sendo muito legal com você, Icaro. Se estivesse mesmo irritado, você já estava morto, sabe disso.
Icaro o encarou.
certo. Você me deu até cobertura, certo. – ele pegou outro mapa. – Mas não… bem, acho que não te entendo. Pra mim é só uma menina.
— Mas pra mim não.
— Mas é que… você. Está muito sombrio.
Vince o olhou.
— Sombrio?
— A sua aura. Passou de azul a vermelha, e de vermelha a negra.
— Não tenho aura.
— Claro que tem. Todo mago tem, desperto ou não. Nem todo mundo consegue ver auras, e lá em casa é só eu e as gêmeas. E auras negras não são boas.
— Danem-se essas auras. – ele jogou outro mapa no chão.
Icaro quis gritar. Gritar bem alto para aquele estúpido entender, gritar por que aura negra é algo tão ruim.
E ia gritar. Até sugou o ar para os pulmões, mas Vincent exclamou antes.
— Hey, é esse. – abriu o mapa completamente, mostrando a Icaro.

— Puta merda, acho que entendi agora. – Icaro esqueceu auras quando passou os olhos pelo mapa, incrédulo.


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A Character Data é só na versão em pdf, que você pode baixar aqui.

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