Dou um doce pra quem dizer quem é essa dai sem olhar no livro EUAIUEUAHe |
TENTH BULLET
Portão
— Portão. Há portão para tudo, meu deus! – Nick pôs as duas mãos nos cabelos, contorcendo-se no sofá
da sala.
— Se esse cara invoca as bestas, talvez ele quer abrir o
portão definitivo do inferno, sei lá. – Lucas bebericou seu café.
— Ele disse que já é tarde demais, caso não se lembrem. – Icaro
encarou a bainha da espada. – Acho que não temos tempo nem para pesquisa.
Todos olharam-no com desânimo. Ele tinha razão.
Amanda mordeu o lábio inferior. Certamente se estivessem em
Thanyto, a avó de Vincent saberia exatamente com o que estava lidando.
Ela tinha uma fraca lembrança sobre algo assim. Algo com
portões. Mas por mais que se esforçasse, nada lhe vinha.
— O nosso último quase puro-sangue não sabe de nada, né? – Icaro
olhou Vince de soslaio.
— Já disse que nos Heisenberg a gente preza mais por balas
que fogos de artifício. – Vincent respondeu, azedo.
Aquele clima tenso acabava com tudo. Nem feliz por conhecer
mais um Lewis Amanda estava. Nem feliz por passar mais um dia inteiro ao lado
de Vince, aprendendo a manejar armas.
A reunião deu em nada. Eles só decidiram que se mudariam
temporariamente para a casa que Christina tinha na praia. Seria mais fácil para
eles, e mais perto da civilização.
Na madrugada seguinte, eles se foram. A casa ficava na praia
mais bela da cidade inteira, um dos pontos mais caros e finos. Christina
comprou-a com uma pequena parcela da herança do marido falecido.
Oswald foi transportado sem problemas em uma charrete. Seus
sinais vitais eram estáveis, mas ele não parecia que acordaria tão cedo. O que,
definitivamente, era uma lástima, já que ele era o único com vasto conhecimento
mágico ali, e que podia ter ideia do que estava acontecendo.
Amanda estava sentada numa pedra, vendo o sol nascer. Lucas,
sua esposa e Icaro foram até a biblioteca pública da cidade. As gêmeas olhavam
o pai e o irmão, que se sentia bem melhor.
— Pensando no quê?
Ela pulou de susto, quase caindo da pedra para a água.
— Vincent!
— Você se distraiu. Deve prestar mais atenção ao seu redor.
Disse isso ontem, lembra? – ele se sentou a seu lado.
— Ah, Vince. Eu vim pra cá me distrair mesmo. É tão lindo,
né? – ela olhou a imensidão anil. Ondas fracas se formavam, e o cheiro de sal
era bom.
— É sim. Se quiser nadar um pouco… – ele a olhou
distraidamente.
— Não sei nadar. E nem tem clima pra isso. – ela respondeu,
seca.
— Bem, enquanto não soubermos o que é isso…
— Não sei, Vince. Mas eu me lembro de ter lido algo com
portões e um círculo bem grande enquanto tirava pó de um livro da sua avó, lá
na sua casa.
— Nossa casa. Você também mora lá. – ele a encarou, sorrindo
daquele modo que a deixava sem ar. – Deve ter lido sim, a vó arruma duas dúzias
de livros por dia… se você lembrar-se de algo a mais…
— Eu conto, pode deixar. – ela sussurrou. – você acha que
tudo vai acabar bem, Vince? – ela o olhou, os olhos azuis aflitos.
— Claro que vai. – Vincent não pensou antes de puxar um
ombro dela e recostar o rosto dela em seu peito. – eu só não queria que você
corresse perigo.
Amanda não ouviu. Estava perdida entre sensações, cheiros e
sons. O cheiro do couro da jaqueta dele. O perfume amadeirado embaixo. O som
das batidas descompassadas do coração dele. Ou era o seu? Suspirou baixinho e
passou as mãos pela cintura dele, abraçando-o.
E por ela, não soltaria mais.
•
— Ni, olha lá. – Serena disse ao abrir as cortinas e se
deparar com uma cena a alguns metros.
— O que fo- hm. – Nicolle cruzou os braços ao olhar para
onde sua irmã apontava. Numa pedra estava Vincent abraçado àquela garota, Alice, Andrea, Amanda, qual era o nome dela?
As duas se encararam, e Não da primeira vez teve a impressão
de que olhava um espelho.
— Quer saber de uma coisa? Danem-se esses dois. Que se casem
e tenham filhos. Por enquanto. – ressaltou. – agora o mais importante é o pai e
esse filho de uma puta.
— Com certeza. Vincent você pega depois, pode muito bem
esperar.
— Claro. De volta ao serviço, Serena. Pai precisa acordar…
A irmã assentiu. A proporção que as coisas tomaram não abria
espaço para caprichos pessoais, e elas sabiam diferenciar a obrigação da
diversão.
Certamente teriam tempo para arruinar o romance de Vincent
mais tarde, depois que tudo aquilo acabasse.
•
— Amanda.
— Hm? – ela não queria sair dali.
— Acho bom você aprender a atirar. Espada demora muito e eu…
não sei. Sinto algo ruim.
Amy tirou a cabeça do peito dele.
— Por mim tudo bem, mas… acho que o coice da arma…
— Vincent sorriu.
— Eu te seguro no começo. Mas você vai ter que aguentar
sozinha depois.
Fiasco é a palavra correta para o treinamento de tiro de Amy.
Ela voltou para casa toda cheia de areia – de tanto cair no chão. Sua sorte era
que Vincent sempre estava lá para amparar suas quedas e corrigir sua postura. Ela
chegou a ficar toda torta só para sentir as mãos de Vince ajeitarem a pesada
arma nas suas.
O básico Amy já sabia: carregar, montar, as diferenças entre
calibres e tipos de armas. Isso poupou muito tempo dela.
Não demorou para que Nick aparecesse – e desse um monte de
conselhos errados. Ficaram na praia até as três da tarde, quando Christina
chegou correndo.
— Meninos, Icaro está chamando vocês. Um daqueles portais se
abriu no meio da rua, são muitos daqueles bichos…
Os primos se encararam.
— Nick, vamos você e eu. Amy fica aqui com as gêmeas e
Aryon. Se a coisa apertar mesmo nós chamamos elas, pode ser?
Nicholas arrumou Haroldo nos ombros e correu em direção à
casa.
Vincent olhou Amanda.
— Fique com o revólver.
Aqui. – Vince tirou um dos cintos com balas. – Não se esqueça de contar
as balas no tambor e cuidado ao recarregar, porque…
— Queima, eu sei.
Vince deu dois passos à frente e lhe beijou a fronte.
— Cuide-se. Já volto.
Vince disparou para a casa e Christina olhou-o até sumir,
enquanto Amy colocava mais balas no tambor do revólver.
— Ele gosta muito de você, sabia? – Christina olhou Amy.
— Talvez. Crescemos juntos, sabe.
— Não, não assim.
Arrisco dizer que ele te ama. Não só aquele amor fraternal bonito, sabe? Vincent
tem quase dezesseis anos. E como eu conheço bem o pai dele, vai forçá-lo a se
casar logo. E eu acho que ele escolheria você como esposa.
— Hein? – Amy quase atirou no chão.
Podia ser? Ele quase a beijou outro dia. Mas depois agiu
como se nada tivesse acontecido. Seria bom demais para ser verdade.
— Você ficou
vermelha. – Christina riu, e rumou de volta para sua casa.
•••
O centro da cidade estava um pandemônio. Vince e Nick
levaram o dobro de tempo que levariam para chegar até onde Lucas e Jeny estavam.
Isso porque a cada esquina eles encontravam um grupo de bestas para matar.
Lucas estava escondido atrás de um muro, com duas kodachis
nas mãos, ensanguentadas. Vincent, Nicholas e Icaro chegaram perto dele.
— Situação. – Vince pediu.
— Um portal cuspindo bichos igual caixa de marimbondo às
duas horas. Jeny está no telhado do prédio ao meio-dia, mas ela já sinalizou que
está quase sem balas. Capeta esparramado pra todo lado e eu tomei uns
arranhados. E mais uma coisa: a forma deles mudou.
Antes de Vincent perguntar para qual forma as bestas
mudaram, um rugido alto se espalhou pelo ar.
— E lá vem um deles. Vamos, melhor matar rápido antes que nos
veja.
Eles saíram do esconderijo o mais silenciosamente que
puderam, com armas em punho. Avistaram a criatura indo para o leste, e Vince atirou
nele para chamar sua atenção.
Sabia que nunca derrubaria algo daquele tamanho com um tiro só.
Tinha três metros e meio, e o corpo desproporcionalmente
musculoso. A mesma gosma negra que as outras bestas tinham pelo corpo estava
presente nele, e escorria pelos dentes de sua boca descarnada.
— Merda. – Nick disse ao ver que o barulhento tiro de seu primo
chamou também as outras criaturas menores, que começaram a se acumular.
— Granada, Nick! – Vincent gritou e voltou a atirar na
criatura grande, que agora corria em direção a eles.
Nick tirou uma granada de mão do moletom e puxou o pino. Jogou
a granada nos pés de um grupo considerável de bestas.
Os quatro estavam longe o bastante para não receberem
destroços. Lucas subiu na criatura gigante e começou a perfurá-la com as
espadas, como podia. Vincent atirava ora na besta maior, ora nas menores.
Algumas caíam aparentemente do nada, mas Vincent sabia que
se tratava da cobertura da esposa de Lucas.
Vincent viu uma luz branca pelo canto do olho esquerdo, e ao
se virar, se deparou com Icaro preparando uma magia de nível mais alto. Berrou
para que Lucas saísse da criatura, e ele obedeceu. Em seguida, Icaro lançou a
esfera de energia, que explodiu assim que tocou aquela besta, desintegrando-a.
Os quatro se reagruparam depois disso.
— O portal. Temos que destruir ele. – Icaro começou.
— Nick.
— Só granadas. Três. – ele tirou-as dos bolsos.
— Ok, vamos dar cobertura pro Nick. Se ele tiver uma mira
boa, e força, não precisará chegar muito perto. – Lucas espanou sangue negro da
espada, e se levantou.
Todos eles correram de volta ao front, atirando, derrubando
monstros um atrás do outro. Nick podia conter dois deles se atirasse bem com
sua Lupara. Vincent e seus tiros precisos nos pontos vitais dos monstros fazia
seis mortes com seis balas. Lucas e Icaro fatiavam a carne como se fosse
manteiga, e quando a horda se acumulava em torno deles, Icaro usava alguma
magia para dispersá-la.
Assim que viu o caminho aberto até o portal, Nick atirou
duas granadas, uma atrás da outra. Explodiram, levando tudo num raio de alguns
metros.
Portal fechado, eles se preparavam para exterminar os
monstros restantes, mas algo apareceu no meio das criaturas e repeliu-as,
abrindo um círculo perfeito.
Dentro daquele círculo estava um homem, um jovem adulto, e
em seus braços estava… Amanda.
O coração de Vincent falou uma batida, e ele se concentrou
para não atirar. Naquela distância, certamente a bala de um revolver desviaria,
e podia atingir a pessoa errada.
— E você… – Lucas berrou por cima dos rosnados dos monstros.
– Suponho que seja o mestre dessa merda toda.
— Claro, senhor Lewis. Bem, eu pensei que pelo menos os
Heisenberg iam vigiar a moça, mas… foi mais fácil assim. Suas irmãs estavam
muito cansadas, Icaro, tsk, tsk, tsk… sessões de cura ininterruptas…
Icaro não disse nada, mas sua fúria era palpável.
— Bem, – o homem continuou – eu ia levar uma das gêmeas, mas
sabe como é… eu preciso de uma moça pura, mas definitivamente Serena e Nicolle
não são puras.
— Que quer dizer com isso? – Lucas ergueu a espada das mão
destra, que começou a brilhar levemente.
— Nada de gracinhas, Lewis. Isso quer dizer, meninos, que O
Portão de abrirá esta noite. Vocês tem até as vinte e três horas e cinquenta e
nove minutos para me encontrar, e tentar me impedir, o que eu acho impossível.
Ah, se levarem outro sacrifício – ele ajeitou Amanda nos braços – eu posso
pensar em soltar essa daqui. O que também não adianta de nada, já que todos
vocês vão morrer. Adeus.
Desapareceu.
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