Crônicas de Chumbo #9




Depois do super hiato de um ano a la Hunter x Hunterrrrrrrr, o Capítulo 9 de Leaden Chronicles \o/

okay, mereço morrer, eu sei.


lá vai.



NINETH BULLET

Entrelaçar



Lucas Lewis era filho de outro Lucas Lewis, irmão de Oswald. Ao contrário de todos os outros, Lucas era um mercenário. Nenhuma pessoa daquela família jamais teria tal profissão por um motivo.

Richard Lewis, o pai de Oswald e Liz, morreu nas mãos de um mercenário. Mas não um qualquer. Morreu nas mãos de John Heisenberg, que não por acaso é o pai de Vincent.
Mas essa história é assunto de outro livro.
Assim sendo, Lucas não foi chamado de traidor abertamente, mas ele acabou se afastando da família, sabendo o que mais cedo ou mais tarde aconteceria. As constantes viagens que fazia ajudavam nessa distância.
Ele se casou com Jeny Waters há três anos, mas não tinham filhos ainda. Jeny também era mercenária e eles se conheceram por acaso num contrato desses. Ela era especialista em tiro a distância e furtos rápidos.
— Então vocês já perderam o controle sobre as bestas. – Lucas tomou um gole de café, sorrindo. – Hm, muito bom esse, tia. – disse à Christina, que era sua tia de qualquer modo. Ela era irmã de sua mãe.
— É. – disse um emburrado Icaro.
— Estranho. Eu sabia que um portal ou outro abria de vez em quando, e achava que era até normal. Seu pai cuidava deles direitinho. Mas aí de repente eles aumentaram né… muito, muito estranho. – Lucas fitou o vazio.
Estavam todos na sala de estar, depois de Jeny e Lucas guardarem suas coisas.
— Ouvi dizer que as rotas de fuga de Shallvy foram destruídas. – Lucas prosseguiu. – Trilhos arrancados, navios afundados. Até onde eu sei, essas bestas não sabem diferenciar trilhos de árvores. Alguém teria que controlá-las para atacar determinados locais. – o tom que ele usava agora era profissional.
— Aí está. – Vincent enrolava um cacho vermelho na ponta dos dedos. – Chegamos nessa conclusão: alguém está invocando e controlando as bestas. Sitiando a cidade.
— Mas pelos infernos, quem faria isso? – Lucas se exaltou.
— Não temos ideia. – Icaro respondeu. – Meu pai dizia algumas coisas. Ele estava desconfiado. Mas aí… aconteceu. Nem deu pra ele falar nada.
— Calma lá. O pai… – Serena começou.
— Ainda vai acordar. – e Nicolle continuou.
— Mas pode ser tarde né. – Nick pegou Haroldo do chão e pôs no colo.
Lucas riu, sem graça.
— Que legal. Voltei pra Shallvy só pra ver minha mãe por uma semana e estamos ilhados. Só assim mesmo pra nos vermos. Só falta o Aryon pra completar a horda de primos.
— Amanhã vamos vê-lo, Lucas. – As gêmeas disseram juntas.
— Na boa. – Lucas olhou-as – Vocês são telepáticas?
As duas se entreolharam.
— Não. – disseram juntas novamente.
Lucas riu mais.
— Certo então. Não sabemos quem é nosso inimigo, então é melhor nós darmos um jeito e pesquisar. Além de vigiar, claro. O filho da puta pode estar confundindo a gente. Por hora, vamos ter que esperar, e vigiar.
Todos assentiram.
Não há como atacar um inimigo que não se pode ver.

•••

— Vão ver quem? – A enfermeira olhou para as gêmeas e sua mãe. As meninas tinham uma expressão azeda.
— Lewis. Aryon Lewis.
A mulher assentiu e logo concedeu os passes livres.
— Tenham um bom dia. – a recepcionista ainda ousou dizer.
As gêmeas olharam-na com descaso, mas a mãe sorriu e desejou-a o mesmo.
— Vocês duas estão terríveis hoje, não? – Christina tocou um ombro de cada uma.
— É esse…
— Lugar asqueroso, mãe.
— Qual o problema? – Christina franziu o cenho e disfarçadamente conferiu se as adagas que sempre prendia em coldres nas pernas estavam lá, escondidas sob o vestido florido.
Christina fora casada com dois Lewis. Sabia se defender muito bem.
Sempre amou o pai de Aryon, mas ele morreu muito jovem. Ela tinha vinte anos, e Oswald surgiu naquela época difícil. Foi impossível não manterem-se próximos, e depois se casarem. Aryon nunca se importou e aprendeu a chamar o tio de pai.
— A coisa no ar, mãe.
— Você não entenderia. – Nicolle balançou a cabeça.
— Temos que tirar o Ary daqui.
— Hoje.
As duas pararam e encararam a mãe.
A expressão de Christina ficou séria. Ela nunca duvidou do instinto de suas gêmeas. Sempre, sempre soube que elas eram especiais. Desde a gravidez. Na família de Christina não havia casos de gêmeos, muito menos nos Lewis. A tecnologia daquele mundo já sabia que isso era mais comum em famílias com casos registrados, mas não era impossível.
Christina já achava que era outra coisa. Que suas meninas não eram tão poderosas e sensitivas à toa. Que uma não completava a frase da outra por acaso.
Ela sabia que aquelas duas deveriam ser uma só. E foram divididas para que algum desastre não ocorresse. Ela não sabia dizer de onde tirou estas conclusões. Mas sabia que elas eram verdade. De algum modo materno, ela sabia.
— Sabem exatamente do que se trata? – a mãe pôs as meninas para andar, mais rápido.
— Não. – elas responderam em uníssono.
— Mas sabemos que quer o Aryon. – Serena concluiu. – Isso não estava assim da última vez que viemos.
— Estava muito mais fraco, era a aura de morte de um hospital comum. Mas agora…
— Chega a doer…  – Serena continuou.
— A magia do Ary está mais forte. Ele deve ficar de pé hoje.
— Ele precisa ficar de pé hoje, Ni.
Chegaram ao quarto e as meninas empacaram na porta.
— Abre a porta, mãe.  Eu não encosto aí. – Serena cruzou os braços.
— Nem eu. – Nicolle deu um passo pra trás.
Havia uma carga negativa naquela porta de tal tamanho que as duas não saberiam o que podia acontecer se sua energia positiva se chocasse contra ela.
Christina entrou. Nicolle e Serena se esforçaram para não encostarem no portal. Dentro do quarto, a sensação persistia.
— E as mulheres da minha vida vieram me ver de novo… – Aryon disse alegremente.
As gêmeas pararam de estudar o local e olharam o irmão, ainda enfiado em soro.
Aryon Lewis tinha quase vinte anos. Seus cabelos cor de mel estavam bagunçados e caindo sobre faixas na testa. Ele se parecia muito com Icaro, e com todos os Lewis. Os mesmos olhos de cristal e a mesma pele queimada de sol. Mas Aryon estava descorado, magro e barbudo. Odiava confinamentos.
— Como se sente? – Nicolle abraçou-o carinhosamente e se sentou na cama. Serena fez o mesmo.
— Bem melhor. Já sinto minhas pernas. Vocês são fodas mesmo. – riu. – Talvez hoje eu consigo levantar, né?
As gêmeas se encararam.
— Você tem que andar hoje, Ary.
— Vamos te tirar daqui.
— Oi? – Aryon franziu o cenho. – Tá certo que eu to doido pra fugir, mas qual é meninas. Minhas pernas foram mastigadas.
Claro que os Lewis não deixariam Aryon num hospital se a situação não fosse realmente crítica. Suas duas pernas foram mordidas por bestas, que as dilaceraram até os ossos, rompendo vários nervos e tendões. Num hospital suas chances seriam melhores que em casa.
— Aconteceram…
— Coisas.
— Coisas muito feias. – as duas disseram juntas.
— Dueto não, meninas. Mãe. – Aryon olhou Christina.
— Lembra da última vez que viemos? – ela lhe disse.
— Sei.
— Quando chegamos em casa, Vincent estava lá junto com uma menina e havia bestas mortas no chão. Erica foi morta e dez minutos depois Icaro apareceu com Nick e Oswald… e seu pai estava destruído… – Christina engoliu seco.
Não queria enterrar outro marido. Outro Lewis.
— Os Heisenberg? Pai? Como ele tá? E Icaro? Pelos infernos, mãe! O que está acontecendo? – ele se exaltou.
— Não sei, filho. Icaro está bem, ontem eles encontraram seu primo Lucas. Ele foi pra lá com a mulher e estão investigando… – Christina se sentou numa poltrona.
— As saídas da cidade foram destruídas. Creio que estamos ilhados, Ary. E eu não quero tentar sair de Shallvy num galger e ser impedida por um monte de bestas. – Serena pegou o lençol que cobria o irmão e o retirou.
— Mas…
— Você tem recebido visitas? — Nicolle cortou, e junto com a irmã, tiravam as faixas que cobriam as pernas dele, com urgência.
— Não. Só vocês e a comida horrível. Às vezes um médico pra dizer que todos os magos deveriam ser médicos. Só. – Aryon olhou suas pernas quase boas.
Ele deveria a vida inteira de favores às irmãs. Elas se matavam para recuperar tanto tecido, músculo e nervos.
— Tem certeza? – as duas perguntaram.
— Tenho. O que foi? E sem duetos. – ele levantou o indicador.
— O ar… – Nicolle o encarou. – Não sente? Está pesado, impregnado com energia ruim. A porta está emanando isso, e a janela mais ainda. Não acredito que não sente.
Aryon ponderou.
— Bem, vocês são mais fortes que eu em magia. E mais sensitivas. Mas realmente… desde ontem de manhã eu sinto algo diferente, mas ignorei. – ele olhou as duas.
Elas tiraram as faixas e posicionaram as mãos sobre as pernas dele. Uma luz verde tomou posse das mãos das meninas e tingia seus olhos com aquela cor. O comichão da cura tomava conta dele, mas não o incomodava.
— É alguém, Ary. – Serena começou. – ele entra pela porta e sai pela janela, ou vice-versa. Está te vigiando.
— O que seria?
— Não sei, mas é maligno. – Nicolle respondeu.
— Os médicos não vão me deixar ir assim. Nem se estiver cem por cento, sabem disso.
— Sim. – as meninas disseram em coro. – Mas quem se importa? Temos katanas.
— Você sai daqui nem que seja amarrado, Aryon. – Nicolle o encarou, e ele nunca vira tanta determinação no olhar dela antes.
E não queria saber quem era aquele ser. Aquele que impunha medo nas meninas mais valentes e poderosas que conhecia.

•••

Depois de horas de processo de cura, Aryon Lewis conseguia pôr-se de pé e arriscar alguns passos. Ainda doía, mas isso se devia aos músculos e nervos novos. Ele estava feliz, mas ao mesmo tempo alarmado.
Sua mãe e as irmãs ajudaram-no a se vestir e ajeitaram tudo para que fosse uma saída normal.
Incrivelmente ninguém os parou, ou perguntou alguma coisa. Quem ousava se aproximar era repelido pelos olhares pouco amistosos de Serena e Nicolle.
Já na rua, eles iam em direção aos galgers. A noite caiu, e as gêmeas estavam se repreendendo pela demora.
— Eu acho que aquelas coisas ficam mais fortes no escuro…
— Eu sei, Nicolle.
— E temos uma espada a menos… – Nicolle continuou enquanto a irmã chegava perto de seu animal.
Christina vinha apoiando seu filho logo atrás.
Serena tocou o galger e quase não viu o bote da criatura, que acabou se chocando contra o chão.
Reapareceu ao lado na irmã.
— Merda. – Nicolle ergueu a mão esquerda.
— Mesmo. – Serena ergueu a mão direita, e elas entrelaçaram os dedos.
Aryon ouviu rosnados e sentiu a magia das irmãs aumentar, dobrar de tamanho. Deduziu que elas não estavam para brincadeiras mesmo. Nem iam usar as espadas.
— Mãe, deixa. Eu fico de pé sozinho.
— Tem certeza? – Christina se armou.
— Se puder me dar uma faca…
— Não vai precisar. – As gêmeas disseram juntas, e Aryon olhou-as.
Debaixo da luz fraca do poste, os cabelos cor de mel delas flutuaram. As fitas de tons de azul diferente voaram, e os vestidos inflaram.
As duas apertaram mais os dedos entrelaçados e com as mãos livres, gesticularam e diziam um canto de poder.
Quando uma das feras saiu das sombras e foi em direção a Aryon, as meninas lançaram um raio certeiro nela, que explodiu em luz e pó.
Fizeram o mesmo com as outras cinco que surgiram. Elas eram poderosas sozinhas, e invencíveis juntas. Mas Aryon sabia que elas só se uniram porque estavam fracas demais para agirem em separado.
— Vamos agora! – Nicolle ordenou, e Christina fez o que pôde para colocar seu filho sobre o galger.
Antes de Nicolle subir em seu réptil, ouviu alguém bater palmas.
E junto com essa pessoa, a sensação negra que impregnava o quarto de Aryon.
O dono da energia se fez visível sobre a luz do poste, ainda batendo palmas.
Era um homem.
— Meus parabéns, gêmeas Lewis. Meus parabéns. Cansadas daquele jeito e ainda mataram meus filhos com magia, incrível.
Nicolle o encarou. Cabelos negros curtos, desalinhados. Olhos da mesma cor e pele clara. Não muito alto e bem magro. Jovem, talvez vinte e cinco. Roupas finas.
— E você, quem é? – ela ergueu uma mão pro ar e uma katana surgiu, embainhada.
Do mesmo modo, Serena pegou a sua.
— Eu? Bem… por enquanto não interessa. Só vim parabenizar vocês e avisar que o tempo está acabando. Em alguns dias, Shallvy se tornará O Portão. – ele deu ênfase nisso. – Mas nem adianta avisar já que estarão todos mortos antes disso acontecer. Vocês e seus parentes de Thanyto. – ele sorriu, e olhou Aryon. – pernas novas, rapaz? Pena que já vai. Eu ia te fazer a última visita hoje à noite. Bem, me retirarei. Vocês ainda tem uma longa viagem, não?

Antes que alguém esboçasse uma reação, ele partiu.


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10th Bullet - Portão



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A Character Data é só na versão em pdf, que você pode baixar aqui.

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