Thunder's Empire 3 anos - capítulo extra





Sobrinhos amados da tia, hoje é nada menos que o aniversário do blog :3

Três anos atrás, a desocupada aqui estava criando o Império, para postar nada de útil e ter algo pra se preocupar além das reprovações iminentes na faculdade.

Pois é. Três anos, mas parece que foi ontem.
Então... como todo ano, eu tiro do sovaco um capítulo ou conto extra pra vocês, e esse não vai ser diferente...

Espero que gostem, e muito obrigada por me amarem esse tempo todo <3

O extra é de Profecia, mais precisamente antes do epílogo, então cuidado com spoilers.







— Thunder’s Empire 3 anos —
Cicatrizes

Phantine Watari pensou que nunca mais conversaria com Kaziel Thrower na vida, não depois de todo o ocorrido. Não depois de ela ter influenciado na discussão entre os dois irmãos, de ela tentar arruinar o namoro dele, não depois do despertar.
Mas tudo um dia muda, inverte, sem muita explicação.
E numa manhã de chuva, um mês atrás, um raio caiu quando Kaziel pegou Phantine pelo braço e lhe suplicou:
“Você precisa ajudar Raziel, Phantine. Eu não posso ficar aqui para isso, mas você pode.”
Os lábios dela tremeram de espanto, mas ela o encarou com firmeza e respondeu.
“Claro que vou, não se preocupe.”
E ele desapareceu.
Tempo Phantine possuía de sobra. Não tinha pra onde ir em Magma – e morar no fundo de uma taverna era o cúmulo do absurdo – e o castelo em Windia estava praticamente condenado. Um sopro de vento mais forte e tudo desabaria – e Phantine não queria estar lá dentro pra ver.
Não sabia por quanto tempo moraria em Raython, mas sabia que precisava aproveitar cada instante, cada segundo tentando recuperar a mente de Raziel.
No primeiro mês foi difícil. Ele desaparecia sem deixar rastros, e ela passava horas procurando por ele, e achava nos cantos mais estranhos do castelo. E ele nunca falava, nem monossílabos. Mas ela era persistente, teimosa feito uma mula, e sempre estava lá ao lado, falando sem parar.
As coisas iam melhorando. Lentamente, mas melhorando. Phantine não precisava mais esgueirar-se dentro da adega pra encontrar Raziel. Ele sempre ficava num lugar fixo agora. Um lugar que quase ninguém ia, salvo um mago de longo cabelo branco que Phantine evitava até olhar.
Naquele dia chovia fraco, e ela virou a esquina do mausoléu de Cecille Thrower.
— Hey, Raz. – ela sorriu ao vê-lo, mas ele não tirou os olhos do chão.
Estava sentado, largado. Só vestia roupas escuras e com mangas longas. O cabelo escondia os olhos. Estava muito crescido, com um ar de desleixo bem maior. Ele não fazia a barba também, e os pelos negros feito carvão salpicavam o rosto aqui e lá. Ainda era muito pouco.
— Está aí há quanto tempo, hã? Está encharcado. – ela apontou. Parou na frente dele e sempre que o via assim tinha vontade de esmurrar a face dele.
Uma fez o fez, mas logo se arrependeu. Abriu um corte na boca dele, e ele não esboçou reação.
Isso a deixou pior.
A falta de reação.
— E seu cabelo está enorme também. – acrescentou. Você nunca deixa a franja esconder os olhos. E olha só agora. – ela se abaixou e tocou o rosto dele. Estava mais frio pra ela, cuja pele é sempre muito quente. – olhe pra mim.
Ele olhou.
E ela sentiu aquele aperto familiar. Sempre sentia quando ele a encarava.
Os olhos azuis claros continuavam lindos, encantadores, hipnotizantes. Mas agora… estavam quebrados.
Quebrados, era essa a palavra. O brilho meio estúpido desapareceu, e as pálpebras caíram. Olheiras surgiram. Raziel envelheceu dez anos em tão pouco tempo, e isso deixava Phantine mal.
Ela acariciou o rosto dele devagar, tirando o cabelo dos olhos.
— Precisa cortar isso. Já.
— Vou pensar. – ele disse algo, era um progresso. Apesar de que ele já falava mais agora.
— Nãão. Você parece uma ovelha preta com essa juba toda. Não passa de hoje. Levanta, já.
— Phantine… – ele tirou a mão dela de seu rosto.
— Phantine nada. Anda, levaaante! – ela o puxou pelas mãos com força, até ele ceder e se levantar.
— Depois eu corto. Deixe-me aqui, hã?
— Não. Eu vou cortar isso. Sem resmungar. Do jeito que você é lerdo, vai enfiar a tesoura no próprio olho. – ela forçou sarcasmo.
Raziel revirou os olhos.
— Nã-
Sellphir – ela o cortou.
Raziel abriu os olhos e estava em um lugar bem mais quente. E tinha um cheiro bom também. Era… cheiro dela, de Phantine. Algo adocicado, lembrava frutas e coisas gostosas, que simplesmente perderam o gosto. Havia uma lareira ali perto, acesa. Uma cama de dossel rosa, e cortinas claras nas janelas. Raziel nunca esteve no quarto dela, e sempre imaginou invadi-lo à noite e fazer um milhão de coisas sem juízo.
Aquilo parecia tão distante agora.
Ela ainda estava na sua frente, as antenas vermelhinhas, o cabelo batendo nos quadris de bom tamanho. O busto farto, tentador, não tinha um decote profundo dessa vez. Ela usava um vestido solto, florido e curto, que a deixava com um ar mais delicado e menos provocativo. Soltava-se logo abaixo do busto e qualquer vento o levava. Tinha alças finas também. E ela usava aquele batom vermelho que mais parecia sangue fresco… Raziel perdeu a conta de quantas vezes desejou que ela corresse atrás dele assim.
Em outras circunstâncias.
Sente-se aqui. – ela o girou e indicou a cadeira da penteadeira. As mãos dela eram muito quentes, parecia eternamente com febre. Mas ele fugia do toque o máximo que podia.
Sentou-se na tal cadeira e fitou Phantine pelo espelho. Ela sorriu e procurou uma tesoura. Revirou tudo até achar.
Enquanto procurava, rezava para não abrir um buraco no cabelo de Raziel. Nunca cortara cabelo algum na vida, e achava que era só cortar uns tufinhos aqui e lá. Esperava que fosse tão simples…
— Aqui. – ergueu a tesoura e foi à obra.
Jogava as mechas no chão, cortando com cuidado. Viu que atrás e dos lados estava bom, e passou pra frente. Cortou a franja até as sobrancelhas, e jogou a última mecha no chão.
— Viu? Uma ovelha tosquiada agora.
Raziel teria rido se ele se lembrasse de como fazia isso.
— Melhor que eu cortando… agora posso ir? – ele a encarou, querendo se levantar.
— Tem só uma mecha aqui – Phantine se inclinou para cortá-la, perto da orelha. – e é isso. – cortou e jogou o cabelo no chão.
Ela não se ergueu depois. Passou a encarar os olhos azuis a sua frente. Tão belos, mas tão tristes. Ela não sabia dizer o que sentia por aqueles olhos. Era de tudo um pouco. Afeição, piedade, fascínio… e algo, alguma coisa a mais.
Ainda se lembrava do beijo que eles trocaram, aquela cena fulminante e rápida de meses atrás. E ela tinha um desejo secreto por repetir aquilo, mas o Raziel na sua frente não era o mesmo que a beijou naquele corredor. Não
Perdeu-se em pensamentos, e esqueceu-se que estava ali, parada, o encarando. Esqueceu que aquele Raziel era outro, e sem motivo algum, ela encostou seus lábios nos dele, sem se preocupar.
Os lábios formigaram. Era um daqueles choques leves que Raziel sempre dava em qualquer um. A sensação era boa, e ele não se separou dela.
Pelo contrário.
De súbito, Raziel aprofundou aquele beijo, e a empurrou para a cadeira. Phantine caiu sentada no colo dele, e agarrou seu cabelo preto pela nuca com força. Ele a abraçou pelas costas, apertando-a, chegava a doer. Ele era sempre rude assim? Da outra vez foi a mesma coisa, rude, forte, irresistível. Ela não queria soltá-lo nem tão cedo, mas ele o fez.
Phantine suspirou longa e apaixonadamente antes de abrir os olhos, e assim que fez isso, Raziel se inclinou e lhe beijou o pescoço, provocante. Mais duas vezes e subiu pela orelha. Suas mãos desceram por suas costas e os quadris, e ele passou o braço embaixo das pernas dela. Segurou-a pelas costas com a outra mão, e ele se levantou da cadeira carregando-a, como se não pesasse nada.
Ela mal teve tempo pra pensar no que ele ia fazer. Seu destino estava bem perto.
Raziel a jogou na cama de dossel, rudemente. Apoiou as mãos na cama, posicionando-se por cima dela, e voltou a lhe beijar o pescoço, agora com mordidas leves.
Phantine voltou puxar o cabelo dele, sem pensar. Independente do que ele a fazer, ela queria. Não sabia explicar de onde saiu aquele súbito desejo por ele, mas estava lá. Talvez fossem aqueles formigamentos tão bons que ele fazia.
Seu pai não ia gostar nada daquela história. Espero que me perdoe… você não vai ligar se eu dormir com Raziel, vai? Você sempre quis que eu ficasse com ele…
Ainda assim, aquilo era irresponsável demais. Mas quem ligava? Ela não. E provavelmente, ele também não.
Phantine desceu as mãos pelas cosas dele até que atingissem os quadris, e voltou a subir, mas por dentro da blusa preta dessa vez. Mais ou menos quando Raziel passou uma das mãos pelo seu seio e o apertou, e desceu-a até as pernas. Depois voltou a subir, por dentro do vestido.
Logo ele encontrou algo. A gemarkeerd de Phantine ficava bem ali na perna, longe de qualquer olhar, por mais que suas saias fossem curtas. Ele passou um bom tempo sentindo o relevo nos dedos frios, sem deixar de beijá-la um instante sequer.
Phantine subiu mais suas mãos pelas costas dele. Sentia marcas também, aquelas marcas amaldiçoadas. Seguiu as linhas até acabarem bruscamente, e a textura mudar.
Bandagens.
Ele tinha bandagens nas costas, nas espáduas.
As asas.
Ainda não cicatrizaram? Ainda estava lá? Ele perdeu as asas há mais de um mês, e ainda…
Ela ainda se questionava quando Raziel partiu o beijo e a encarou. Aquela expressão de dor, de amargura.
Era porque ela havia passado o limite?
Não.
Phantine tomou consciência de que a mão dele tocava seu abdômen.
Ela também tinha bandagens ali, muitas, aliás. Já fazia muito tempo desde aquele dia, mas ainda não havia cicatrizado. Os elfos diziam que talvez levasse um ano, uma década, um século. Não era possível dizer até quando teria que usar bandagens, mas eles garantiram que ela ficaria bem. Que podia ter filhos e que todos os órgãos corrompidos foram restaurados.
Mas havia alguém que não tirara a culpa dos ombros por aquilo. E que nunca ia tirar. Era isso que estava escrito naqueles olhos azuis quebrados:“Eu nunca vou me perdoar.”
Ótimo então, somos dois.
Raziel se levantou e deu dois passos pra trás.
E sem dizer uma palavra, desapareceu em fumaça.
Phantine não foi atrás dele, não mais naquele dia. Seriam longos, longos meses ali… cultivando suas cicatrizes.
Ele, e ela.




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