O Orbe de Reidhas, Spin-off #1 | Capítulo VII






Pyro, sua delícia da tia :3

Há umas letras estranhas no texto.
você consegue encontrá-las fácil, por well... estão diferentes.
Guarde-as bem....
Isso é para um egg que vale prêmio, hã? fique esperto. 
 VII


— Vamos organizar as buscas então. – Liv começou. – Amanhã bem cedo, vocês disseram?
— Até irmos pra casa e acharmos uma desculpa para sair de novo, já anoiteceu. – Theo olhou o céu azul com poucas nuvens.
— E o quê que tem ter anoitecido? É melhor do que essa bola branca me fritando! – Lyra praguejou. Ela estava com a bolsa na cabeça, fornecendo sombra, e já tinha aberto o colete e a blusa. – E por que pelos deuses nós não usamos a Sellphir?!
Todos riram. Eles seguiam o trilho do trem, e se aproximavam do lugar onde Pyro, Lílian e Lyra caíram.


— Lyra, isso aqui não é dentro dos Impérios Mágicos, e eles não nasceram lá. – Lílian respondeu calmamente – então não sabemos o que pode acontecer caso eles se teleportem. Podem não suportar.
— Aprendemos isso na teoria da Sellphir… – Pyro zombou – e a criatura que treinou com Lorde Phyreon nem se lembra.
— “Treinou” é o verbo errado. O certo seria “foi torturada”. – Lyra ergueu o indicador.
— Mas voltando às buscas do Orbe… – Liv coçou a cabeça. – eu preciso tirar as medidas das meninas para fazer os vestidos delas. Vou tirar as de Lílian hoje, e vocês podem sair pelo quintal pra procurar algo. Amanhã eu tiro as de Lyra antes de saírem.
— Não vai com a gente, Liv? – Lílian a olhou.
— Não, desculpem. Não sou chegada a mato. E se eu costurar o dia todo dá pra fazer umas peças simples. – ela sorriu abertamente. – Mas eu preciso fazer um modelo Lolita que desenhei outro dia. Você vai ficar perfeita nele, Lílian! – ela a abraçou como se fosse um ursinho.
— Caso não achem nada… – Archie começou baixinho – vocês podem ir até minha casa no domingo. Há uma sala de mapas. Podemos organizar áreas de busca a partir deles. E caso desistam… sei lá, vai que achamos Raython nos mapas?
— Talvez Raython não – Pyro o olhou – mas as repúblicas próximas.  Os Impérios são bem fechados, e só fazem alianças dúbias com países de fronteira. Nem todo mundo gosta de magias, dragões, orcs. Se bem que ninguém gosta de orcs… – ele riu.
— Eles já me dão dores de cabeça, sabe. – Lílian protestou. – podiam ser mais espertos, só um tiquinho.
— Espero vocês no domingo então? – a voz de Archie era quase um sussurro.
— Pode ser. Algo me diz que não volto pra casa nem tão cedo. E eu vou falar com vocês, eu acho que nem quero pisar lá e ter que encarar o velho. – Lyra suspirou.
— Você deveria ter pensado nisso antes-
Sem sermão, Pyro, eu sou a irmã mais velha!
— Sério? – Liv estava interessada. – Você parece ter a idade do Theo, Pyro.
— Eu sou dois anos mais velha que ele.
— Um ano e meio. E sim, não parece. Eu tenho a cabeça no lugar.
— Vá à merda, vá?
— Archie, você vai com a gente no sábado? – Lílian quase gritou para interromper os dois.
— Acho que sim. Se a Amy não me garrar muito…
— Awn, Amy! Saudades dela… no domingo eu vou também. Diga a ela que levo aquele vestido que ela me pediu. – Liv se agarrou ao braço de Archie, que corou.
— Eu digo, pode deixar. – ele não olhou para Liv.
— Amy? Que Amy? – Lyra ficou subitamente interessada.
— A irmã mais nova dele. – Theo respondeu distraidamente. – Muito tempo que não a vejo também né. Acho que estou com algum livro dela. – Theo fitava muito o céu.
Ele abaixou os olhos e olhou pra trás, evitando Lyra e seu decote. Viu que Liv ainda segurava o braço de Archie, e achou interessante. Talvez ele tenha ganhado algum ponto pelo plano de inserir os garotos na escola.
Archie se separou deles alguns metros depois, ganhando um beijo no rosto de Liv, que saiu saltitando logo em seguida. Theo olhou a estátua vermelha que ficara ali no cruzamento. Pensou um pouco. Talvez pudesse usar Lílian para ajudar as coisas a andarem mais rápido. Ou Lyra.
Não. Lyra era direta demais.
— Mas ô Liv – a dita começou – o Archie parece um cara bacana né não?
Direta demais.
— Hm? É sim… nossa, eu conheço ele há tanto tempo. Ele é legal. – Liv respondeu inocentemente.
— Mas não é disso que eu tô falando não, filha. É do-
— Lyra, o Tom disse onde queria te levar? – Theo disse muito alto propositalmente.
— Não. Mas eu conheço o timbre de um devasso quando quer tirar proveito de mim, e ele usava bem esse tom sabe? – ela nem reparou a mudança de assunto. – Mas assim, se você resolver a surrar ele, eu conheço uns golpes…
Theo quase se arrependera da mudança de assunto.


●●●


A casa de Theo ficava num canto bem afastado da cidade. A área era muito verde, e um tanto isolada. Theo explicara que naquele lugar só havia mansões como a de Archie, e que era seguro e bem mais calmo viver ali do que na poluição da área urbana.
A mata era bastante fechada, e sem Lílian, eles não andaram longe. Theo conhecia algumas trilhas, e vaguearam por elas sem rumo até anoitecer de fato.
O jantar transcorreu tranquilamente, e o pai de Theo fez muitas perguntas aos novatos. A lábia dos três era incrível. Conseguiam contar mentiras absurdas sem se enrolar nelas, e soavam tão verossímeis que até Theo podia jurar serem verdade.
As aulas de oratória deles deveriam ser incríveis. Ou aquilo era o sangue real deles. A fineza em pegar os talheres. A educação ao tratar pelos pronomes certos. A postura. Era tudo fascinante demais para Theo.
Ele não conseguiu dormir aquela noite. Era frequente Theo ler até a madrugada, e ele sentiu falta disso. Não queria acordar Pyro com luzes, então pegou seu volume de A Lenda de Raython e desceu para a sala.
Se não estava doido, Theo lera alguma referência ao Orbe de Lyra. Não lembrava o nome dele, porém.
Distraía-se muito fácil quando lia ou desenhava. Seus dedos coçavam para fazer certos esboços, mas temia que os modelos os encontrassem. Então desenharia depois. Passou horas ali relendo as desventuras de Phyreon Thrower quando ouviu um baque surdo, leve.
Passos.
Olhou pra trás instintivamente e viu Lyra no alto das escadas. Ela desceu pesadamente com o rosto contorcido e os cabelos emaranhados. Parecia algum fantasma com a camisola de estampa de bichinhos de sua irmã. Um fantasma que amava mostrar as pernas.
— Pensando na morte da bezerra, garoto?
— Lendo. Dá na mesma. E você?
— Vocês não tem água nos quartos, sabia? Está um calor desgraçado, isso é o que chamam de primavera? Eu vim beber daquela água que sai daquelas coisas que vocês abrem e ela cai. – ela não parecia com sono.
Theo riu.
— Torneira, Lyra. Tor-nei-ra.
— Dane-se. – ela rebolou até a cozinha.
— Espera, você não pode beber água da torneira, maluca. – ele se levantou, largando o livro.
— Por quê? É água.
— Mas é suja. Vou te levar pra ver o Ruby. A água vem dele.
— Sua mãe disse que tem água numa caixa estranha, mas não sei pegar. – ela parou no meio da cozinha. – Vocês são tão complicados. Odres, sabe o que é um odre?
— Sei. – Theo pegou um copo e encheu de água do filtro. – Isso se chama filtro. Você pega a água assim. – ele entregou o copo.
— Ah, certo. – ela bebeu a água num único gole, pouco se importando em como um filtro funcionava. – Mais um pouco disso aí. Estou desidratada.
Ela terminou de beber e repousou o copo na mesa.
— Aqui não chove? Dois dias sem ver chuva, parecem férias em Ethernia. – ela foi para a sala.
— Até que chove bastante, mas eu não gosto.
— Não gosta de chuva? – ela parou e o encarou.
— Não. – Theo ajeitou os óculos e se sentou no sofá. – me traz tristeza.
— Hm… isso aí é o que? – ela se sentou ao lado dele. Parecia não estar nem um pouco a fim de dormir.
— A historinha do seu bisavô. O livro onde soube dos Impérios e Magos. Li algo sobre o Orbe em algum lugar.
— Passa pra cá. – ela ordenou.
Ela sempre ordenava, nunca pedia. Lílian e Pyro pediam, agradeciam. Ela não. Sempre ordem e nenhuma palavra de gratidão.
E ele obedecia.
— Hm… pegaria pra ler se tivesse a fim. Gosto de ler, sabe. Mas sei lá. Deve ter coisas aqui que eu não quero saber.
— Definitivamente, tem. – ele riu. – Você disse que faltam cinquenta anos de história. Podia me contar.
— Ah, se acabou quando a vó saiu de casa… fala de vô aí?
— Sim.
— Então, eles se encontraram em Ethernia. Aí… O Velho Mais Novo conjurou a Illumina nela… – Lyra disse pensativa. – e depois eles desfizeram… daí eles casaram… então veio o meu pai e o da Lyra… e… e… e nós. – ela hesitou e concluiu com os olhos saltados.
Theo ergueu um das sobrancelhas.
— E a Profecia?
Lyra abaixou a cabeça com força.
— Merda, achei que não ia se lembrar disso.
— Lyra…
— Olha, eles não queriam nos contar nada direito. A Terceira Era foi muito mal explicada nas aulas de história. Até o dia que eu fui atrás do Velho Mais Velho e pedi pra ele me contar tudo que aconteceu. E o maldito me deu detalhes.
— E…
— Theo, eu me arrependi de ter perguntado a ele. – ela o encarou, solene. – aquilo não foi legal. E se eu estou aqui na sua frente agora, é porque tudo deu certo.
Theo não conseguiu desviar dos olhos dela.
— Seu óculos está trincado. – Lyra apontou.
— É, foi o Tom, ele-
Theo parou quando ela tirou os óculos do rosto dele. Passou a ver borrões. Lyra fez um gesto e olhou a lente contra a luz.
— Acho que tá beleza. Veja se eu mudei o grau sem querer. – ela colocou o óculos nele delicadamente, e o rosto dela se tornou visível outra vez.
— Perfeito. Obrigado.
— De nada. Seus olhos são bonitos, Theo. – ela levantou as lentes de novo, e ele sentiu as bochechas queimarem. – São mais escuros que os de Lílian. Parece… jade. Ou as folhas das árvores de Raython depois que chove.
Theo sabia que estava indescritivelmente vermelho, e ela parecia não se importar. A mão dela ainda segurava a haste nos cabelos dele. Olhou-o por um momento e abaixou a lente de volta.
Ela olhou para a esquerda, vagamente. Parecia absorta em algum pensamento denso. Era tão pálida. Os olhos pareciam chamas azuis.
Ele olhou o livro e o pegou, apagando os pensamentos. Não sabia dizer por que conseguia sentir o coração golpeando as costelas. Procurou seu relógio no bolso do pijama.
— Quase três, Lyra. Melhor dormir.
— Hm? – ela saiu do transe e olhou o relógio de Theo. Dourado, com uma bela corrente também dourada.
— Que é isso? Parece uma bússola. – ela se inclinou para vê-lo melhor.
— Relógio de bolso. Funciona como os outros, mas tem um mecanismo menor.
— Hm… – ela pegou com cuidado. – Bonito. – ela fitou a parte onde havia um nome gravado. – “Theophilo Steamwork, verão de 1886” – ela leu.
— Foi um presente de aniversário que eu me dei ano passado. – ele sorriu.
— Se deu? – ela tirou os olhos da peça.
— Trabalhei uns meses e guardei o dinheiro. Aí comprei. A corrente é de ouro.
— É… isso me lembra de algo. Eu também me dei um presente de aniversário.
— O que?
— Um par de brincos. Mithril. Acho que eu vim com eles. Foi a última parte do meu curso de forjaria. Não ficaram ruins, mas tenho peças melhores. Ainda assim continuo usando. – ela fechou a tampa do relógio devagar.
— Ganha mais valor quando nós mesmos fazemos. – Theo disse suavemente.
— É… e isso é o que? – apontou uma pecinha.
— Pra dar corda. Você gira algumas vezes quando parar de funcionar, aí funciona de novo.
— Hm… acho que vou subir então. – ela se levantou e devolveu o relógio.
— Vou também. – Theo saiu do sofá, pegando o livro. Foi até o abajur e desligou-o com um clique leve. Ele estava acostumado a andar pela casa no escuro.
Mas Lyra não.
— Hey, eu não enxergo no escuro. Ah, dane-se isso.
Theo só sentiu algo encostar em seu rosto. Macio e quente. Sentia aquilo sempre, quando sua irmã lhe beijava as bochechas.
Acendeu o abajur a tempo de ver a fumaça branca no ar.
— Sellphir. Então é assim. Eu não acredito que estou pensando na Sellphir. Ah… – ele bateu a capa do livro na testa com força.


●●●


Theo não queria encarar Lyra, então olhou o jornal que o pai segurava diante dos olhos.
Eles tomavam café calmamente, naquela manhã de sábado. Era bem cedo ainda, mas seria melhor se saíssem cedo.
Theo leu a manchete. Algo sobre um cientista de Rhenium Valley ter construído um autômato capaz de andar e pegar objetos. Ele conhecia o nome de algum lugar.
— Senhor Steamwork, depois que ler, posso pegar o jornal? – Pyro pediu educadamente.
— Claro. O West Linder perdeu de novo, que diabos. – ele fechou as folhas e entregou a Pyro.
— Esse homem, eu o vi na Academia ontem. – Pyro apontou. – Acho que a coisa que ele carregava era esse… autômato. – ele leu o resumo da matéria. – Isso mesmo, Fairmount. Ele disse para guardar bem o nome dele.
— Ah, sei. – Theo se lembrou. – Comprei meu relógio com ele no ano passado. Não sabia que ele construía essas coisas.
— Aqui não diz como esses bonecos funcionam… – Pyro leu a matéria. – Parece bem complexo.
— Talvez Archie saiba. Liv entrou na conversa. Vão esperá-lo né? Eu ainda preciso da Lyra. Vocês acabaram? – ela olhou as meninas, que assentiram. – Então vamos.


●●●


Cento e treze?! Santo Cristo, Lyra! – Liv soltou a fita métrica do busto.
— Uma vaca leiteira. – Lílian torceu uma mecha de cabelo.
— Você tem cento e cinco! – Lyra rebateu.
 — Tá, tá. Eu vou à cozinha. Aquela bebida escura é muito boa. Como é o nome? Café?
— Isso. Pode ir, falta muita coisa. – Liv anotou algo num papel e voltou para Lyra. Lílian saiu. – Vocês são muito peitudas, céus.
— É de família, eu acho.
— E eu aqui, lisinha. – ela gemeu.
— Bem, às vezes você ainda vai crescer mais. Tem quantos anos?
— Quinze.
— Já sangrou?
— Já.
— É, então tá difícil. Mas ó, minha avó me disse que eles crescem quando engravida.
— É… – Liv pegou a fita de novo. – Você fala muito da sua avó. Assim, desculpa, mas sua mãe…
— Ela está viva sim, é que eu não moro com ela. – Lyra segurou os cabelos no alto da cabeça enquanto Liv media abaixo do busto. – Tipo, meu pai é imperador de Raython, e minha mãe ajuda a governar Magma. E Raython e Magma ficam muito, muito longe um do outro. Pyro mora lá com ela. Mas quem me criou mesmo foi minha avó e meu pai. Raramente eu vou vê-la, ou o contrário. Ela costuma vir pelos gêmeos.
— Hm… eles são muito novos?
— Oito anos.
— Mas eles não ficam com ela? – Liv a olhou, e Lyra reparou que os olhos dela eram da mesma cor que os de Theo. Aquele verde escuro lindo.
— Não podem. Magma não é um lugar bom pra morar. Muitos vulcões, cinza, enxofre. Geralmente os Watari conseguem viver bem por lá, mas meus irmãos e eu não conseguimos respirar bem por muito tempo. – ela acrescentou com um suspiro.
— Você queria que morassem todos juntos, né? – Liv sorriu tristemente.
— É, eu queria. Mas não diga para a Lílian. Ela mora com os pais e o irmão, e eu sei que não entende. Não gosto de parecer, hm, fraca.
Liv sorriu.
— Tudo bem.



— E aí, Arch? – Theo disse quando o amigo se aproximou e subiu as escadas da varanda. Vestia roupas leves de verão.
— Bom dia. – ele sorriu. – E as meninas?
— Sei lá. – Pyro enfiou as mãos nos bolsos. – Nunca sei o que tanto elas arrumam, pelos deuses. – ele revirou os olhos.
— Liv deve estar brincando de boneca com elas. – Theo olhou Archie de esgrelha.
— Hm… e ela não vai mesmo né? – Archie franziu o cenho.
— Não, sinto muito. Vai ter que esperar outra oportunidade para se declarar.
Theo viu Archie ficar rubro imediatamente.
— Trocou a lente trincada? – Archie mudou de assunto propositalmente.
E foi a vez de Theo corar.
— Você não trocou. – Archie reparou a expressão que Theo fizera e sorriu largamente.
Ele consertou os óculos.
— Lyra remendou pra mim, nada de mais.
— E quando foi isso? Acho que fiquei conversando com vocês até dormirmos. – Pyro entrou na conversa.
— Ahm… eu fui pra sala ler de madrugada. Aí ela desceu pra tomar água e hm, conversamos.
O olhar que Pyro lançou foi indescritível. Mas ele sorriu.
— Sei. Lyra é perigosa, Theo. Cuidado.
— Hã? Eu, eh… vou chamar as meninas. – resolveu sair dali antes que a conversa tomasse rumos indesejados.



— Lílian tem um namorado lá em Ethernia. Tá, eles não namoram certinho não, mas acho que você entendeu né?
Liv media o quadril de Lyra.
— Aham.
— Ele é meio lerdo, mas é bom pra ela. Tipo, traz flores e essas coisas fofas. Capitão de um batalhão qualquer lá e-
Lyra ouviu batidas na porta.
— Oh merda, é ela não é? Não contei nada. – Lyra murmurou.
— Entra aí, está aberta.
A porta abriu e fechou em menos de dois segundos.
— Lílian, nós estamos acaban- Lílian? – Liv olhou em direção à porta e não viu ninguém.
— Não era a Lílian, era o Theo. Agora porque ele saiu correndo eu não sei. – Lyra coçou atrás de uma orelha distraidamente.
Liv se levantou.
— Como assim não sei? Você está nua, Lyra!
Ela olhou pra baixo.
— Eu estou de calcinha.
Liv pôs as mãos no rosto. Mais batidas na porta, e Lílian entrou com uma xícara de café fumegante.
— Ainda não acabaram? Nós temos que ir…
— Você encontrou com o Theo?
— Aham. Ele passou como um raio por mim e desceu três degraus por vez, por quê? – ela fez uma expressão estranha, como se já soubesse o que acontecera, mas ainda acreditava ser mentira.
— Ele entrou no quarto. Só isso.
Só isso? – Lílian berrou. Ela raramente berrava. – Você é uma perdida, sabia?
— Qual é? Theo tem quantos anos? Com certeza ele já viu outros pares de peitos! Um a mais ou um a menos não faz diferença!
Lílian pôs a mão na testa
— Ai, Lyra. Tá, tá bom. Acabe isso logo.




— E então?
— Então o que? – Theo definitivamente não estava normal, e Pyro também reparou isso pela ligeira mudança de expressão.
— As meninas… – Archie perguntou devagar.
— E-estão vindo. – ele andou até uma ponta da varanda. Archie franziu o cenho. Alguma coisa aconteceu entre os dez segundos que ele saiu e voltou.
— Hm, eu vou ali dentro, beber uma… água. – Pyro olhou de Theo para Archie e entrou.
— O que aconteceu? – Archie deu cinco passos e parou do lado do amigo.
— Nada.
— Theo… – ele trincou os dentes.
— Pra medir uma pessoa ela tem que estar pelada, Arch?
— Que? Como assi- não. – compreendeu.
— Sim.
— Nããão.
— Sim!
— Não sei o que te dizer.
— Não diga nada então.
— Mas e aí, o que exatamente você viu?
— Ahm… tem… é… eu não consigo descrever.
— Certo então. Assim, se você não se importar, eu posso rir da cara que você for fazer quando olhar pra ela de novo? É porque suas expressões são sempre legais quando está empacado assim. – ele disse com um sorriso malévolo.
Theo apontou o indicador para ele.
— Eu vou te matar, seu filho de uma puta.
— É com essa boca que você beija a sua mãe, Theo? – Archie riu.
Pyro voltou.
— Você está estranho, Theo.
— Ele bateu a canela num móvel. – Archie emendou uma desculpa, naturalmente.
— Oh, poucas coisas doem mais que isso. – Pyro engoliu a desculpa, ou fingiu engolir.
Em menos de cinco minutos eles ouviram a comum agitação causada pelas garotas. Liv foi a primeira a sair da casa, e Archie sentiu aquela sensação boa ao vê-la.
Ela trajava um vestido simples de algodão. E ela ficava tão bem nele. Sorriu quando os olhos se encontraram.
— Oi, Archie, tudo bem? – como sempre, ela o abraçou. Aquele cheiro de lavanda. Foi ele quem deu o perfume, e ela sempre usava.
Dependendo de Archie, abraçaria Liv pela eternidade.
Mas ela se soltava tão rápido.
— Boa sorte pra vocês. Voltam pro almoço, né? – o sorriso dela era lindo.
— Acho que sim. – Archie voltou para a realidade quando Pyro quebrou o encanto. E então se lembrou de Theo e Lyra.
Ele olhava o mato, e ela olhava pra ele. Estava com aquela roupa de Raython. E a expressão era curiosa, não assassina. Se uma garota fosse vista nua seria normal ela estar furiosa, ou no mínimo acanhada, mas Lyra parecia apenas curiosa.
Ela não era comum, e isso não se tratava de magias.
— Melhor irmos. – Archie disse, e Pyro saiu na frente.
— Até mais então. Almoce aqui, hã? – Liv ficou na ponta dos pés para beijar Archie no rosto.
— Tudo bem. – ele se virou e seguiu Theo, que fitava o céu sem nuvens.

●●●


As buscas antes do almoço foram infrutíferas, e aquelas depois também.
Theo voltou a conversar normalmente depois de quase meia hora, mas ainda evitou Lyra o dia todo, basicamente fingindo que ela não existia. Ela não forçou nada também. Eles andaram por trilhas abertas e abriram algumas novas.
Visitaram duas cachoeiras, mas não pararam para se divertir.
À noite, voltaram de mãos vazias, mas não decepcionados. Era como se eles nem quisessem mesmo voltar. Estavam alegres e rindo de um tombo que Archie tomou ao tropeçar em uma raiz.
Ele se despediu e voltou pra casa, dizendo que os aguardava no outro dia.
Theo acompanhou-o por um pedaço de estrada e eles conversaram banalidades.
Quando Theo subiu as escadas da varanda e ergueu os olhos, duas chamas azuis o aguardavam.
— Achei que ia dormir com ele lá. – Lyra largou a mecha que segurava.
— O que foi?
— Nada, sou eu quem pergunta. – ela se sentou no degrau. – O que deu em você? Ignorou-me o dia todo.
Ele deu de ombros e se sentou.
— A sua resposta é dar de ombros? Ai, você é muito lerdo. Tudo isso só por causa de hoje de manhã é?
— Você deveria se comportar como uma moça normal e ficar com muita raiva de mim, sabia?
— Por quê? – ela foi sincera.
— Porque… oras. Por que é?
— Eu sempre questionei essas regrinhas, sabe. Eu sempre fiquei me perguntando por qual motivo eu não posso fazer as coisas do meu jeito. Às vezes eu conseguia uma resposta, mas para a maioria das outras coisas não. Então eu ia gostar muito se você parasse de me ignorar, porque eu odeio ser ignorada. E já que você quer tanto que eu me incomode por causa disso… Olhe pra mim.
Theo obedeceu sem questionar.
Lyra deu um tapa forte nele.  Bem forte.
— Tapa com choque não vale! – ele massageou a bochecha dormente. – Isso doeu, sua doida.
— Então por que está sorrindo?
Theo não sabia dizer. Talvez porque nunca recebera um tapa elétrico na vida.
— Ah, eu trouxe meus brincos de Mithril. Tentei te mostrar o dia todo, mas alguém estava sensível aos meus peitos.
Theo agradeceu por estar escuro. Olhou-a, e ela tirou um dos brincos da orelha e o entregou.
Era bem talhado, com detalhes em diamantes, ao que parecia. Era uma asa de anjo. Os entalhes das penas eram perfeitos. O metal era levíssimo, e parecia ter brilho próprio. Muito mais reluzente que prata.
— Então isso é Mithril. É tão leve.
Ela assentiu.
— Você tem que ver uma espada. Parece que não tem nada na sua mão. Pyro tem uma, é linda. – ela sorriu. – eu queria uma também, mas meu pai disse que eu era uma menina e meninas não podiam ter espadas. Daí eu fiquei perguntando “por quê?” até ele forjar uma pra mim. Eu não gostei, é de esgrima. Queria uma bastarda com cabeça de dragão no cabo, que nem a de Pyro. Mas depois eu vi que era melhor pro meu braço.
— E acabou gostando dela?
Lyra assentiu com força.
— Mas não uso. Prefiro luta corporal.
Theo se lembrou de algo e suas sobrancelhas arquearam. Devolveu o brinco.
— Temos atividades físicas na Academia. Na segunda tem aula.
— De que?
— A turma é dividida em três: esgrima, arco e arte marcial. Lílian preencheu seu histórico, ela deve ter colocado alguma coisa.
— Hmm, se conheço bem, ela pôs luta pra mim, esgrima pra Pyro e arco pra ela, pra honrar o sangue de Elven.
— Hm, isso será problemático.
— Por quê?
— Ela vai humilhar nosso melhor arqueiro, no mínimo. E você, hm… na luta corporal?
— Isso.
— Não há moças na turma da luta.
Lyra sorriu larga e sadicamente.
— Isso vai ser muito legal. Vou entrar, tchau. – ela se levantou e entrou ainda rindo.
— Muito problemático porque eu estou na turma da luta e eu sou o saco de pancadas e o cara mais fraco e eu vou apanhar pra ela e ela dá golpes com choques. – Theo refletiu, e bateu a cabeça no corrimão da escada duas vezes, com força.







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Então, achou algo estranho?
caso não tenha encontrado, volte para o começo do post.
Claro, não esqueça de selecionar tudo.


E os jogos começaram \õ/


Well, se você está perdido, gafanhoto, a luz está nessa minha journal do DeviantArt. E, claro, nas imagens escondidas.






Vocês podem baixar o PDF do capítulo aqui: http://goo.gl/fK8l7N
E ler no Wattpad: http://goo.gl/Iz95eH
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Lembrando os pdf's tem uma imagem diferente e o primeiro tem a Apresentação :3


até a próxima minha gente.




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