O Orbe de Reidhas, Spin-off #1 | Capítulo XVI






— É por aqui – Amy desceu do colo de Pyro e o tomou pelo braço.
Estavam nos jardins de sua mansão, e ninguém estava lá para vê-los. E também, aquilo não fazia diferença agora.
Entraram correndo pela porta da cozinha, e algumas cozinheiras perguntaram o que ela fazia ali. Amy só disse que não era nada de mais, sem parar de correr.
Subiram três lances de escada e em um instante Pyro se viu no quarto dela. Todo rosado e cheio de coisas fofas. Não teve tempo de reparar em nada. Principalmente depois que ela tirou um quadro da parede e girou uma válvula.

Um barulho de engrenagem soou, macio e quase inaudível, e Amy tirou o carpete branco do chão.
Um alçapão estava lá, não muito grande.
— Venha atrás de mim, há degraus.
— Você fez isso?
— Sim, com o Archie. Anda! – ela desapareceu no buraco, e Pyro logo a acompanhou.
Desceu inúmeros degraus e depois teve que se abaixar e engatinhar, mas um minuto depois viu uma luz azulada. Saiu numa porta pequena, e viu Amy correr na fraca luz.
Pyro fechou os olhos quando ela acendeu os holofotes principais, e arfou de espanto.
Uma sala enorme, de aproximadamente cem metros quadrados, apinhada de peças, ferramentas e coisas de metal que Pyro não conhecia.
— Você disse que tinha uma oficina, não um laboratório completo. Tem certeza que você e Archie fizeram isso? – ele disse, aturdido, olhando as paredes de metal frio.
— Sim, já disse! Desculpe nunca ter falado… nós estamos construindo isso há uns dez anos.
— Dez? Você tem quinze anos, Amy.
Ela parou e o olhou.
— É que, bem… eu sou superdotada. Mas não fale isso com os outros, certo? Sempre escondi, com medo de não viver como alguém normal, mas… ah, deixa isso pra lá.
Ela correu até um armário e tirou umas peças de roupa de lá.
— Pyro, pode vir aqui um instante?
Ele apareceu a seu lado magicamente.
— Dê-me aquela peça do autômato.
Entregou a ela o braço de metal, e Amy abriu um baú enorme. Lá dentro havia facas, adagas, duas espadas grandes. Facas de atirar e até um arco enorme com sua aljava. As espadas eram diferentes das que Pyro costumava usar. Mais finas e angulares, delicadas.
Amy pegou uma das adagas e jogou o braço do autômato para o ar. Um instante depois, golpeou-o. O braço voou por alguns metros e parou, sem um arranhão.
— Certo, não funciona. Pode encantar essa Dagger? – ela entregou o cabo para Pyro.
Ele passou uma fina camada mágica pela peça, e Amy tomou-a de volta.
— Outro teste?
— Sim.
Pyro trouxe o braço mecânico de volta e fê-lo flutuar com magia. Amy acertou-o novamente, que se partiu sem resistência.
— Perfeito! – ela sorriu. – Pode fazer o mesmo com todas? Preciso tirar esse uniforme inútil.
Pyro pôs as mãos acima do caixote e passou a transferir sua energia para as armas. Mas não resistiu e olhou pra trás.
— Não me olhe! – ela apanhou um pedaço de ferro do chão e atirou em Pyro, que riu.
— Pronto aqui. Posso olhar agora?
— Pode. – Amy amarrava os coturnos. Estava com uma blusa de manga comprida, um colete apertado e uma saia curta, própria para movimentos ousados. Foi até Pyro e pegou uma adaga diferente do caixote. Prendeu-a num coldre.
Depois ela correu até uma bancada e pegou uma fita. Atou os cabelos e pegou um óculos estranho. Correu para uma máquina gigante e escalou-a como se a conhecesse muito bem.
— Pyro! Preciso que você leve isso aqui pra fora, e as armas também! – ela gritou de cima da máquina. – Vai te custar muito?
Bem… vai.
— Não, se for até o jardim. Mais longe é arriscado, eu não trouxe nenhum cajado…
— Perfeito, pode ser! E preciso de um pouco da sua magia nas armas desse Birdy também.
Minha magia não é ilimitada, Amy, mas como recuso?
— Certo.
Em menos de dois minutos eles estavam no jardim de novo.
— Leve as armas para a escola, e entregue para Archie. Ele vai saber o que fazer com elas. Vejo você lá.
— Espere. – Pyro escalou aquele maquinário e a encarou. – Não vá fazer algo estúpido. Você já testou isso?
— Funciona! Em teoria. – as maçãs dela avermelharam.
Pyro revirou os olhos.
— Confio em você. Só tome cuidado. – Pyro disse carinhosamente, e a beijou.
— Vá. – ela o soltou, e o jogou do alto de sua máquina. Ele parou no solo suavemente. Acionou os botões repetidas vezes e abaixou seu óculos de aviador.
Girou uma manivela e os propulsores ligaram. E girou outra, que fez as pernas elásticas do Birdy retesarem e se soltarem, lançando-o no ar.
A velocidade se tornou absurda, e Pyro viu a máquina se tornar um borrão negro e riscar o ar em um segundo.
Nunca pensou nada disso dela. A força, a determinação, e claro, as invenções. E sorriu. Gostava de ser surpreendido.
Tocou o baú de armas e logo desapareceu.


Pyro surgiu numa parte da escola que não sofria ataques. Um beco atrás de um dos blocos, perto dos refugiados.
Deixou seu baú enorme lá, e foi atrás de Archie. Não foi difícil encontrar os três. Eles estavam mais perto dos prédios da escola, como se estivessem prontos para correr – para dentro.
— Arch. – Chamou.
Ele se virou de súbito.
— A minha irmã?
Pyro olhou o céu. Apontou.
— Lá. – A máquina de Amy descia com velocidade assombrosa na direção em que Pyro sentia a magia de sua irmã.
— Céus, aquilo funciona. – ele disse, atordoado.
— O que é aquilo? – Theo olhou o céu, espantado.
— Amy chama de Birdy. É um veículo bélico, que funciona a vapor e diesel. Possui boa velocidade e mobilidade, mas deixa o piloto vulnerável. Não há cabine, sabe? Ela vai em pé. Possui umas armas poderosas também. Amy levou uns dois anos construindo. – disse banalmente.
— Você quer dizer que Amy fez aquilo? – quem perguntou foi Liv.
Archie olhou com remorso para os dois. Queria ter contado sobre tudo isso antes, mas não podia. Era uma promessa.
— Explicações depois. Archie, Amy mandou umas armas. Disse que você sabia o que fazer com elas. – Pyro olhou-o.
— Quais armas? Brancas?
— Sim, espadas, adagas.
— Onde estão?
— Ali atrás.
Archie correu até o beco e abriu o baú de armas.
— Meu sabre. – ele puxou uma das espadas, analisando bem o metal leve. – elas cortam o metal dos autômatos? – Archie olhou Pyro, que chegou junto com Theo e Liv.
— Agora sim, estão encantadas. Tenho que ir, não façam nada idiota feito ir atrás dos autômatos. Não vai adiantar, mas avisei. – Pyro revirou os olhos. – Vou levar isso para Lílian. – pegou o arco do fundo do baú. – E isso pra mim, e Lyra. – pegou duas adagas – Sellphir.
Theo dissipou a fumaça do ar.
— Theo, essa eu chamo de Dragonslayer. Claro, antes de conhecer um dragão e ver que isso nem faz cócegas. – Archie tirou a maior espada e o entregou. – se achar pesada demais, use essas Daggers. – entregou um cinto com as adagas menores presas nele.
— Eu quero aquela ali. – Liv ordenou, apontando uma adaga diferente.
Archie a olhou.
— Preciso me defender, Archibald. – ela disse duramente.
Double Layer. – entregou a ela. – emite descarga elétrica se apertar esse botão. Tome cuidado. Mas você não vai a lugar nenhum, Lavender.
Archie fechou o baú e o empurrou até o fundo do beco, escondendo-o.
— Como não vou a lugar nenhum? Vocês dois vão se meter com aqueles autômatos que eu sei! E caso não saiba, eu vou muito bem nas aulas de esgrima. – ela pôs as mãos na cintura, comicamente.
— Ele tem razão. Você não vai. – Theo arrumou os óculos.
— Theo!
— Não! – Archie tomou os ombros dela. – Eu me preocupo com você!
— Eu também me preocupo com você! E temos armas! E- – ela quase gritou.
— Porque eu te amo! – ele interrompeu, mais alto que qualquer coisa que ela fosse falar.                         
Theo quase deixou a espada cair no pé. E logo teve a sensação de que não devia estar ali.
Um segundo inteiro de silêncio se seguiu antes que Archie percebesse o que exatamente tinha dito. Então aproveitou o choque dela e a beijou.
— O mundo precisa acabar pra ele dar um jeito, interessante isso. – Theo disse para a espada.
Algo extremamente estranho estava fervilhando em seu peito, e isso tinha a ver com Lyra enfrentando autômatos loucos, ele estar com uma espada de verdade nas mãos e ver seu melhor amigo beijando a sua irmã bem na sua frente. E por incrível que pareça, essa última coisa incomodava mais que todas as outras.
No começo Archie notou que ela ainda estava atordoada com aquela informação repentina. Mas depois Liv relaxou e o abraçou pela nuca, deixando-se beijar com mais intensidade. Era a melhor sensação do mundo, e agora entendia por que Theo não ficava muito ao lado de Lyra sem beijá-la. E ela correspondia com muita vontade, o que só podia dizer uma coisa: estava gostando.
Uma eternidade depois ele se lembrou do que deveria fazer, e a soltou.
— Não nos siga, por favor, Liv.
— Vou… procurar feridos então. – Archie notou pela milésima vez que os olhos dela eram lindos.
— Não se aproxime dos autômatos. – Theo a olhou, com uma carranca engraçada. E não vá para muito longe.
— Certo. – ela disse, e se separaram. Os garotos correram para a ala oeste, e Liv voltou à multidão.

— Arch, depois que isso acabar… – Theo começou – me lembre de esmurrar a sua cara.
— O quê?
— Como é que você pega a minha irmã na minha frente desse jeito? Você quer morrer? – ele disse com fúria.
— Mas você…
— Sem mas! Vá pra lá que eu avanço por aqui.
— Tudo bem. – Archie virou à esquerda, e Theo viu-o se aproximar de um autômato, e com maestria cortá-lo de cima a baixo.
Theo notou que aquela espada era muito grande e pesada, até para ele. Talvez as adagas duplas fossem melhores, mas continuou assim.
Encontrou o primeiro autômato de costas, distraído, vigiando o perímetro. Destruiu-o com um golpe só, de cima para baixo, e definitivamente notou que a espada não servia para ele.
Do nada, um dos robôs veio voando, cruzando o espaço
à sua frente e caindo no chão, ainda vivo. Havia algo errado. O autômato foi lançado, e caiu estatelado.
Theo correu até ele, decapitou-o, e logo depois chutou a cabeça para longe.
— Theo.
Ele olhou na direção em que viera o autômato e se assustou ao ver Tom Redworn com outro deles nas costas, pronto para lançá-lo longe.
O ruivo jogou o autômato para outro lado, e se aproximou. Sua camisa estava aberta, sem colete. Não tinha mais machucados do que arranhões, mas Theo podia ver marcas de queimadura em seu peito.
Queimaduras elétricas.
 — Você sabe o que são essas coisas. – era uma afirmação.
— Em partes.
— Tem a ver com a sua namorada bruxa e os outros dois?
— Maga.
— Tem?
— Em partes. – ele o olhou. – o que está fazendo aqui? Não pode destruí-los com os punhos nus.
— Com algum custo, posso sim. – ele desdenhou. – estes não lançam energia, magia, o que for. São mais fracos. Eles estão se concentrando no prédio da tecnologia, parece que querem algo lá. Os daqui são… batedores, ou vigias, presumo.
— Tom.
— O que é? – ele cuspiu as palavras.
— Posso confiar em você? – Theo o encarou. Os olhos azuis de Tom estavam diferentes de antes. E a voz, e tudo nele era diferente. Estava completamente mudado.
— Lyra me ensinou umas coisas do pior jeito, sabe. – ele olhou distraidamente para uma cicatriz. – E se quiser, pode confiar.
— Essa aqui combina mais com seu porte. – Theo estendeu o cabo da Dragonslayer, e Tom a pegou.
— Leve, boa empunhadura. Onde conseguiu? – ele olhou o aço.
— Depois, olhe lá.
Mais autômatos chegavam, talvez para descobrir onde estavam os companheiros.
Theo pegou suas adagas.
— Você fica quietinho aí enquanto eu mato todos eles, Steamwork. – Tom sorriu.
Theo revirou os olhos.
E eles correram.


Lyra mordeu o lábio pensando num modo de sobreviver.
O único jeito era se deslocar imediatamente após os autômatos lançarem sua energia, assim um grupo destruía o outro.
Esperou pacientemente até o momento certo, mas antes ouviu um barulho estranho, e um pedaço de metal de mais de três metros passou rasante pelos autômatos, derrubando e destruindo-os.
Se os destruiu, então estava do lado dela, concluiu.
Aquela coisa deu a volta e passou por cima dos outros que tentavam entrar no prédio, e Lyra destruiu os sobreviventes. Depois aquele veículo parou, e uma cabeça loura apontou de cima, usando óculos estranhos.
A garota os tirou, e Lyra se espantou ao ver a irmã de Archie.
— Como está aqui? – ela perguntou.
— Como você arrumou essa coisa?
— Depois!
— Estão lá dentro! Tente deter os que vierem de fora, essa sua máquina não cabe lá! – Lyra gritou sobre o barulho todo.
Amy olhou pra cima, e abaixou no Birdy novamente. Um apito em seu radar indicava mais deles vindo, por cima desta vez.
Ela alçou voo, atirando projéteis em direção às criaturas de metal do céu, que eram diferentes. Pequenas e ágeis, com propulsão.
Caíam como moscas.

Lyra correu para dentro do prédio, e atingiu o autômato atrás de Lílian.
— Eu disse para ficar lá fora! Eles pararam de vir?
— Por enquanto. Amy chegou numa máquina voadora e está dando um jeito neles.
— O quê?
— É! Não sei como, ela não disse nada!
Um autômato lançou uma esfera de energia no teto, e escombros caíram em direção às duas.
— Não se atira pedras contra um mago da terra, autômato estúpido! – Lílian berrou quando os pedaços pararam no ar e se voltaram contra ele, esmagando-o.
Oh, ela está irritada. Lílian irritada não é algo a se apreciar.
Lyra desviou de um golpe direto, um soco, e contra-atacou com uma estocada no abdômen da coisa, arrancando os fios vitais.
Do nada, Pyro se materializou com um arco na mão e duas adagas.
— Onde você estava? – Lyra trovejou, acertando outro robô.
— Trazendo a Amy. Toma isso – lançou uma das adagas, que Lyra pegou no ar e cravou no corpo de metal do autômato mais próximo, rasgando-o ao meio em seguida – é, já viu pra que serve. Lílian!
Ela se virou e apanhou o arco, armando sua flecha de luz e atingindo o robô mais próximo.
— Onde conseguiu isso? Esse arco é muito bom, e é para canhoto.
— Não reparei, foi a Amy que fez. – ele atingiu mais um autômato. – encantei-o um pouco.
— Não acredito que Amy fez essas coisas. Ela é uma maldita menininha que tem bonecas no quarto, pelos deuses! – Lyra estourou.
— Vocês não viram o laboratório dela. E a máquina que ela trouxe.
— Eu vi, ela me salvou lá fora. – Lyra girou o corpo. – Pyro.
— O que?
— Eles querem algo, ou não estariam tantos aqui. Se fosse só destruição, não teriam desistido dos outros prédios. – ela o encarou.
— Sim. Na escola de Amy, eu vi um deles com um cilindro estranho nas mãos. Assim que tentei destruí-lo, ele fugiu voando. – Pyro cortou a cabeça de um deles como se fosse feita de manteiga.
— Seria um cilindro desses? – Lílian soltou uma flecha. – Há um desses aqui?
— Não sei dizer. Deveríamos saber o que é esse cilindro. – Pyro a olhou. Lílian estava com os cabelos soltos e algumas escoriações.
Ela não caiu no chão, isso não a machuca. Aqueles arranhões eram causados pelos robôs.
— E não deixar que eles o apanhem. – Lyra completou.
Pyro percebeu que uma mecha do cabelo dela estava queimada. Imaginou o escândalo que ela causaria quando visse isso.
— Estão diminuindo, veja. – Lílian observou. Só restavam cinco.
Amy. Lyra, vamos lá fora.
Lílian disparou cinco de suas flechas e abaixou o arco.
— Vamos.
Mal apareceram e se assustaram completamente. O veículo de Amy caía em direção ao solo, soltando fumaça.
Pyro gritou seu nome.


Archie variava seus ataques entre estocadas e cortes diagonais. O fato dos autômatos não sangrarem dava uma sensação de que tudo era apenas um treino comum de esgrima.
Mas o peso do seu Sabre era diferente nas mãos.
Aquela espada era sua, presente que Amy lhe deu meses atrás. Foi feita sob medida, à mão, e era preciosa em vários sentidos.
Archie nunca pensou em usá-la na vida. Porque aquele era o segredo deles. O segredo que juraram nunca revelar.
As coisas começaram quando Amy era muito nova, com cerca de cinco anos. Ela sabia ler perfeitamente e vivia na biblioteca lendo qualquer coisa.
Archie pegou a irmã resolvendo contas que nem Archie sabia resolver ainda, e rapidamente entendeu o que ela tinha a mais.
Aquele laboratório nada mais era que o porão da casa, que realmente tinha todo aquele tamanho. Archie sabia que ele existia há algum tempo, e decidiu que faria um lugar só para eles e suas ideias malucas.
Com o tempo Amy percebeu por que seu irmão queria tanto que ela não mostrasse seus dons a ninguém. Queria protegê-la. Sabia que ela não teria paz se todos soubessem sua capacidade, e ela sempre o agradecia por isso.
Amy desenvolveu gosto por mecânica bélica, e vem se aperfeiçoando com as armas, e agora veículos de guerra. Era um mistério os motivos dela, sempre dizia que fazia porque gostava, e só.
Mesmo sendo um segredo deles, quando Amy soube que Lílian manejava arco e flecha, correu até o laboratório e mudou a janela do arco que criara, deixando-o próprio para um canhoto. Pretendia dar a ela quando eles fossem embora.
E agora, seu segredo estava exposto. Theo e Liv o perdoariam por isso? Ainda era cedo para dizer. Esperava que sim.
Lembrar-se de Liv fez as bochechas dele corarem, e a distração lhe custou um corte no rosto. Não podia se lembrar dela agora, poderia morrer.
E definitivamente, morrer agora seria péssimo. Agora que finalmente tinha se declarado. E beijado ela.
A expressão que Theo fez foi indecifrável, e Archie se perguntou se fizera uma carranca assim quando viu Pyro com sua irmã. Certamente seu amigo sentia ciúmes dela, apesar de todo o apoio para conquistá-la.
Girou no próprio eixo e acertou mais um deles. Respirou e atingiu outro. Deu dois passos à frente.
Aqueles não eram durões. Não emitiam energia ou eram fortes. Archie os derrubava facilmente, avançando. Logo chegaria à ala Norte.
Um barulho metálico vindo de trás o assustou.
Virou-se, e o autômato semidestruído estava quase em cima de seu corpo, as mãos prontas para agarrá-lo. Precisava de espaço para golpear, e não tinha naquele momento.
Porque havia mais um autômato atrás.
Trancou os dentes, e girou o corpo assim que viu uma linha azul cortar a cabeça do autômato semidestruído. Alguém o salvara. Cortou o robô da frente ao meio e depois virou pra trás com fúria e alívio.
— Eu te disse para não me seguir, Lavender!
— E eu digo dane-se! Como assim você me deixa pra trás depois de dizer que me ama e me beijar daquele jeito! – ela pôs as mãos na cintura, e logo as tirou.
Olhou o robô com fúria e rasgou-o com sua Double Layer. Caiu inerte, junto aos companheiros. Eram sucata agora.
— Não posso simplesmente ficar lá parada enquanto todos vocês estão lutando. É injusto. Até a Amy!
Archie assentiu. Liv estava inteira, sem um arranhão. Mas seria problemático ela ali.
Liv olhou a expressão preocupada de Archie, mas não mudou de opinião. Podia ser tão forte – e tão tola – quanto eles. Eles também não deveriam estar ali, Lyra ia matar um por um se os visse lutando. E Theo seria o primeiro da lista.
Ainda sentia suas bochechas queimarem. Nunca pensou que Archie podia se declarar assim, e sinceramente sentiu-se feliz por isso. Significava que suas suspeitas não eram alucinações. E por que não? Assim que começou a desconfiar, passou a sentir algo por ele, e teve medo de confundir tudo.
Mas agora tinha certeza.
— Vamos avançar, mas devagar. – Archie disse e empunhou a espada.
Um autômato apareceu em sua frente, e antes que o acertasse, viu-o ser perfurado por projéteis.
Armas de fogo?
Virou-se, tarde demais. Sentiu uma pancada forte na boca e perdeu o senso de direção. Abriu os olhos e viu a coronha que o atingira. Uma bota enorme chutou sua mão, separando a espada dela, e no segundo seguinte, mãos fortes o imobilizaram de bruços.
Girou a cabeça a tempo de ver Liv ser atirada ao chão com violência, e ser imobilizada do mesmo modo.
Outro par de botas pretas surgiu, e Archie olhou para cima, mas não viu muito.
O homem vestia um conhecido uniforme verde, com algumas insígnias no peito.
O Exército de Palladium.
— Estão presos sob suspeita de terrorismo e porte de arma branca, os dois. E ficarão sob custódia até algum responsável aparecer. – Disse o homem à sua frente, com um sorriso debochado.


Tom Redworn viu Theo arrancar uma adaga do peito daquela criatura.
— Acabou? – Redworn perguntou.
— Creio que sim. Olhe ali atrás.
Tom ponderou. Sentia algo ruim, seu alarme de “algo vai dar errado” estava apitando. E não era pela situação em si. Estava muito calmo destruindo coisas, era o que fazia de melhor. Aquela espada era perfeita e bem equilibrada, servia ao seu propósito de destruir aquelas máquinas, sejam o que fossem.
Pensou em não devolvê-la. Certo, mudou muitos de seus modos, mas alguns permaneceram. Descobrir sobre Lílian e Pyro também o deixou mais esperto.
Desconfiava deles. Chegaram juntos e eram tão estranhos quanto Lyra. E as duas eram primas, por que não uma bruxa também? E aquele cabelo de Pyro? E a pele dele parecia estar eternamente com febre, foi o que sentiu quando esbarrou nele um dia.
Hoje ele teve suas confirmações. Principalmente quando viu Pyro virar fumaça e Lílian também.
Agora as pessoas podiam acreditar em sua versão da história, mas… não queria contá-la mais.
Viu que aquilo foi necessário, e não se arrependia daquelas dores. Nem dos tremores que sentia às vezes.
E de algum modo, sabia que aqueles três não eram os vilões da história.
Passou atrás de uma enorme caixa de lixo e viu que havia algumas daquelas coisas à frente, e virou para avisar a Theo.
Conversando com Theophilo Fracassado Steamwork, quem diria, Tom… as coisas mudam. E vejam só, o fracassado está ali destruindo as criaturas, e todos seus amigos frouxos correram para a saia da mãe quando disse que ficaria por aqui. Quem é o grande machão agora, hã?
Viu a expressão de Theo ao encará-lo, os olhos verdes assustados atrás das lentes. Ele disse sem som algo como “esconda-se” e Tom obedeceu, abaixando atrás do caixote de lixo.
Olhou sorrateiramente de novo, e viu pessoas de uniforme do exército detendo Theo, como da vez que foi detido por dano ao patrimônio público.
Tom xingou um palavrão, e saiu rápido dali, adentrando o prédio.
Por sorte, conhecia os túneis de esgoto como a palma das mãos.


Amy acertava cada máquina no céu com precisão. Uma precisão que não conhecia, mas era bem vinda.
A propulsão de seu Birdy estava perfeita, e o tanque de diesel estava bem abastecido. A munição se esgotando era o que a preocupava.
Girou para a esquerda e direita, desviando de raios diversos que tentavam acertá-la. Seu sensor de calor indicava de onde vinham os raios com precisão, e ela achou isso muito bom.
Levou meses para implementá-lo. Meses de noites sem dormir naquele laboratório, movida a café.
A sensação boa de ver que seu projeto de anos estava completo e funcionava perfeitamente a encheu. E junto com a sensação de voar, se sentia completa.
Num instante, viu que o robô que mirava foi abatido. Achou isso estranho, e quando viu seu radar, havia um míssil terra-ar vindo em sua direção, indesviável.
Atingiu o sistema de lançamento direito, longe dos tanques de combustível. O dano não era grande, mas não podia pousar suavemente mais, e viu que a propulsão direita também foi danificada.
Começou a perder altitude com velocidade assombrosa e só então se lembrou de um detalhe. Uma pequena fagulha.
Não possuía paraquedas.
Calma, guiou sua máquina em diagonal, visando cair no pátio, sem muitos ferimentos. Um ano no hospital ou dois, assim, mais ou menos, pensou. Isso se eu pular antes de colidir no chão. E isso se eu tiver sorte.
Foi o que fez. Antes de seu Birdy encostar no solo, ela se lançou para trás, pulando dele. Preparou-se para quebrar a coluna inteira e morrer rápido, mas não aconteceu.
Flutuou no ar por um instante e caiu sentada.
Seu Birdy chiou mais dois metros e parou de súbito.
Nenhuma força mensurável nesse mundo pararia aquela coisa e a energia cinética que carregava, então
Olhou sua esquerda e viu os três magos. Pyro olhava-a mordendo o lábio de preocupação, e ela viu que Lílian parou sua máquina antes que se destruísse por completo.
— Pyro… – ela se levantou e ia correr até ele, mas ele gritou.
— Não, Amy!
Tarde demais. Foi derrubada bruscamente por uma coronhada nada amigável. No chão, viu que eram soldados. Imobilizaram-na.
— Viu Lyra, não se mexa. São os cavaleiros, eu acho. – Lílian sussurrou quase inaudível. – se falarmos que somos os caras bons…
Lyra queria destruí-los. Como assim derrubavam Amy? Como assim apontavam aquelas peças de metal para sua cara? Como assim estavam ali?
Eram todos homens de verde escuro e coturnos. Via uma ou outra garota. Todos sérios e hostis.
Um homem veio em direção a eles. Grisalho, carrancudo e com as mãos pra trás. Trazia medalhas no peito, e uma mulher morena ao lado. Lyra leu uma identificação em cada um. No do homem estava escrito G. McMillan, e na mulher, T. Langgard.
— Crianças. São só crianças. Como tem coragem de mandar garotos? – era um monólogo.
Lyra se coçava para responder e berrar que estava do lado deles. E que isso era óbvio, e que todos eles eram uns estúpidos humanos sem magia e que não deveriam interferir.
— Serei bonzinho com vocês se disserem para quem trabalham. E quem são seus pais e por que estão aqui nessa bagunça. – apontou o prédio inteiro.
Lyra ouviu um barulho infernal da sua direita, e os pedaços de ferro que as pessoas empunhavam estouravam em chamas amarelas e acertavam alguma coisa nos autômatos. Ouviu gritos como “atirar à vontade”.
Percebeu que eles estavam mesmo contra os robôs, e não se segurou.
— Nós estamos do lado de vocês, seus idiotas.
Lílian fechou os olhos devagar e Pyro suspirou.
Lyra fuzilou o homem à sua frente com o olhar, e ele respondeu duramente, devolvendo com a mesma intensidade.
— Levem todos eles, e a garota aviadora também. E essa lata aqui. E peguem uns exemplares dos bonecos de metal.  Vamos ver o que as crianças sabem. E vamos ver por quanto tempo conseguem sobreviver como prisioneiros de guerra sem chamar a mãe.









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Estão escutando este barulho?
isso é o côro comendo na casa de Noca, meuzamigo.

Esse livro tava parecendo novela mexicana, agora não está mais, aleluias irmões!

Agora podem tirar a boca do pacote de papel (tirar a boca do saco tem duplo sentido, melhor não usar) e comentar!

Esse é um dos capítulos que mais gosto. E os próximos são meus preferidos :3



Agora, cinco minutos de atenção para comemorarmos o feito do século, o acontecimento mais importante de todo este livro:

NOSSO GUERREIRO VENCEU, AMIGOS
ESTE É O MEMORÁVEL DIA EM QUE NOSSO SOLDADO FOI PROMOVIDO
E ESCAPOU DO CAMPO DE EXTERMÍNIO
CHAMADO FRIENDZONE!
*encontre o hino da friendzone no texto, é o link escondido do dia*


Palmas para Archie, o pobre merece.
E que ele sirva de exemplo para todos nós, assim como Rony Weasley.

*bate continência*



p.s. todo mundo já encarou friendzone, eu já tive a minha.



















E os jogos começaram \õ/


Well, se você está perdido, gafanhoto, a luz está nessa minha journal do DeviantArt. E, claro, nas imagens escondidas.




Lembrando os pdf's tem uma imagem diferente e o primeiro tem a Apresentação :3


até a próxima minha gente.

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