— É por aqui – Amy desceu do colo de Pyro e o tomou pelo braço.
Estavam
nos jardins de sua mansão, e ninguém estava lá para vê-los. E também, aquilo
não fazia diferença agora.
Entraram
correndo pela porta da cozinha, e algumas cozinheiras perguntaram o que ela
fazia ali. Amy só disse que não era nada de mais, sem parar de correr.
Subiram três
lances de escada e em um instante Pyro se viu no quarto dela. Todo rosado e
cheio de coisas fofas. Não teve tempo de reparar em nada. Principalmente depois
que ela tirou um quadro da parede e girou uma válvula.
Um barulho
de engrenagem soou, macio e quase inaudível, e Amy tirou o carpete branco do
chão.
Um alçapão
estava lá, não muito grande.
— Venha
atrás de mim, há degraus.
— Você fez isso?
— Sim, com
o Archie. Anda! – ela desapareceu no buraco, e Pyro logo a acompanhou.
Desceu
inúmeros degraus e depois teve que se abaixar e engatinhar, mas um minuto
depois viu uma luz azulada. Saiu numa porta pequena, e viu Amy correr na fraca
luz.
Pyro
fechou os olhos quando ela acendeu os holofotes principais, e arfou de espanto.
Uma sala
enorme, de aproximadamente cem metros quadrados, apinhada de peças, ferramentas
e coisas de metal que Pyro não conhecia.
— Você
disse que tinha uma oficina, não um laboratório completo. Tem certeza que só você e Archie fizeram isso? – ele
disse, aturdido, olhando as paredes de metal frio.
— Sim, já
disse! Desculpe nunca ter falado… nós estamos construindo isso há uns dez anos.
— Dez?
Você tem quinze anos, Amy.
Ela parou
e o olhou.
— É que,
bem… eu sou superdotada. Mas não fale isso com os outros, certo? Sempre
escondi, com medo de não viver como alguém normal, mas… ah, deixa isso pra lá.
Ela correu
até um armário e tirou umas peças de roupa de lá.
— Pyro,
pode vir aqui um instante?
Ele
apareceu a seu lado magicamente.
— Dê-me
aquela peça do autômato.
Entregou a
ela o braço de metal, e Amy abriu um baú enorme. Lá dentro havia facas, adagas,
duas espadas grandes. Facas de atirar e até um arco enorme com sua aljava. As
espadas eram diferentes das que Pyro costumava usar. Mais finas e angulares,
delicadas.
Amy pegou
uma das adagas e jogou o braço do autômato para o ar. Um instante depois,
golpeou-o. O braço voou por alguns metros e parou, sem um arranhão.
— Certo,
não funciona. Pode encantar essa Dagger?
– ela entregou o cabo para Pyro.
Ele passou
uma fina camada mágica pela peça, e Amy tomou-a de volta.
— Outro
teste?
— Sim.
Pyro
trouxe o braço mecânico de volta e fê-lo flutuar com magia. Amy acertou-o
novamente, que se partiu sem resistência.
— Perfeito!
– ela sorriu. – Pode fazer o mesmo com todas? Preciso tirar esse uniforme
inútil.
Pyro pôs
as mãos acima do caixote e passou a transferir sua energia para as armas. Mas
não resistiu e olhou pra trás.
— Não me olhe! – ela apanhou um pedaço de ferro do chão e atirou em Pyro, que riu.
— Pronto
aqui. Posso olhar agora?
— Pode. –
Amy amarrava os coturnos. Estava com uma blusa de manga comprida, um colete
apertado e uma saia curta, própria para movimentos ousados. Foi até Pyro e
pegou uma adaga diferente do caixote. Prendeu-a num coldre.
Depois ela
correu até uma bancada e pegou uma fita. Atou os cabelos e pegou um óculos
estranho. Correu para uma máquina gigante e escalou-a como se a conhecesse
muito bem.
— Pyro!
Preciso que você leve isso aqui pra fora, e as armas também! – ela gritou de
cima da máquina. – Vai te custar muito?
Bem… vai.
— Não, se
for até o jardim. Mais longe é arriscado, eu não trouxe nenhum cajado…
—
Perfeito, pode ser! E preciso de um pouco da sua magia nas armas desse Birdy também.
Minha magia não é ilimitada, Amy, mas como
recuso?
— Certo.
Em menos
de dois minutos eles estavam no jardim de novo.
— Leve as
armas para a escola, e entregue para Archie. Ele vai saber o que fazer com
elas. Vejo você lá.
— Espere.
– Pyro escalou aquele maquinário e a encarou. – Não vá fazer algo estúpido.
Você já testou isso?
—
Funciona! Em teoria. – as maçãs dela avermelharam.
Pyro
revirou os olhos.
— Confio
em você. Só tome cuidado. – Pyro disse carinhosamente, e a beijou.
— Vá. –
ela o soltou, e o jogou do alto de sua máquina. Ele parou no solo suavemente.
Acionou os botões repetidas vezes e abaixou seu óculos de aviador.
Girou uma
manivela e os propulsores ligaram. E girou outra, que fez as pernas elásticas
do Birdy retesarem e se soltarem, lançando-o no ar.
A
velocidade se tornou absurda, e Pyro viu a máquina se tornar um borrão negro e
riscar o ar em um segundo.
Nunca
pensou nada disso dela. A força, a determinação, e claro, as invenções. E
sorriu. Gostava de ser surpreendido.
Tocou o
baú de armas e logo desapareceu.
●
Pyro
surgiu numa parte da escola que não sofria ataques. Um beco atrás de um dos
blocos, perto dos refugiados.
Deixou seu
baú enorme lá, e foi atrás de Archie. Não foi difícil encontrar os três. Eles
estavam mais perto dos prédios da escola, como se estivessem prontos para
correr – para dentro.
— Arch. –
Chamou.
Ele se
virou de súbito.
— A minha
irmã?
Pyro olhou
o céu. Apontou.
— Lá. – A
máquina de Amy descia com velocidade assombrosa na direção em que Pyro sentia a
magia de sua irmã.
— Céus,
aquilo funciona. – ele disse,
atordoado.
— O que é
aquilo? – Theo olhou o céu, espantado.
— Amy
chama de Birdy. É um veículo bélico,
que funciona a vapor e diesel. Possui boa velocidade e mobilidade, mas deixa o
piloto vulnerável. Não há cabine, sabe? Ela vai em pé. Possui umas armas
poderosas também. Amy levou uns dois anos construindo. – disse banalmente.
— Você
quer dizer que Amy fez aquilo? – quem
perguntou foi Liv.
Archie
olhou com remorso para os dois. Queria ter contado sobre tudo isso antes, mas
não podia. Era uma promessa.
—
Explicações depois. Archie, Amy mandou umas armas. Disse que você sabia o que
fazer com elas. – Pyro olhou-o.
— Quais
armas? Brancas?
— Sim, espadas,
adagas.
— Onde
estão?
— Ali
atrás.
Archie
correu até o beco e abriu o baú de armas.
— Meu
sabre. – ele puxou uma das espadas, analisando bem o metal leve. – elas cortam
o metal dos autômatos? – Archie olhou Pyro, que chegou junto com Theo e Liv.
— Agora
sim, estão encantadas. Tenho que ir, não façam nada idiota feito ir atrás dos
autômatos. Não vai adiantar, mas avisei. – Pyro revirou os olhos. – Vou levar
isso para Lílian. – pegou o arco do fundo do baú. – E isso pra mim, e Lyra. –
pegou duas adagas – Sellphir.
Theo
dissipou a fumaça do ar.
— Theo,
essa eu chamo de Dragonslayer. Claro,
antes de conhecer um dragão e ver que isso nem faz cócegas. – Archie tirou a
maior espada e o entregou. – se achar pesada demais, use essas Daggers. – entregou um cinto com as
adagas menores presas nele.
— Eu quero
aquela ali. – Liv ordenou, apontando uma adaga diferente.
Archie a
olhou.
— Preciso
me defender, Archibald. – ela disse duramente.
— Double Layer. – entregou a ela. – emite
descarga elétrica se apertar esse botão. Tome cuidado. Mas você não vai a lugar
nenhum, Lavender.
Archie
fechou o baú e o empurrou até o fundo do beco, escondendo-o.
— Como não
vou a lugar nenhum? Vocês dois vão se meter com aqueles autômatos que eu sei! E
caso não saiba, eu vou muito bem nas aulas de esgrima. – ela pôs as mãos na
cintura, comicamente.
— Ele tem
razão. Você não vai. – Theo arrumou os óculos.
— Theo!
— Não! –
Archie tomou os ombros dela. – Eu me preocupo com você!
— Eu
também me preocupo com você! E temos armas! E- – ela quase gritou.
Theo quase
deixou a espada cair no pé. E logo teve a sensação de que não devia estar ali.
Um segundo
inteiro de silêncio se seguiu antes que Archie percebesse o que exatamente
tinha dito. Então aproveitou o choque dela e a beijou.
— O mundo
precisa acabar pra ele dar um jeito, interessante isso. – Theo disse para a
espada.
Algo
extremamente estranho estava fervilhando em seu peito, e isso tinha a ver com
Lyra enfrentando autômatos loucos, ele estar com uma espada de verdade nas mãos
e ver seu melhor amigo beijando a sua irmã bem na sua frente. E por incrível
que pareça, essa última coisa incomodava mais que todas as outras.
No começo
Archie notou que ela ainda estava atordoada com aquela informação repentina.
Mas depois Liv relaxou e o abraçou pela nuca, deixando-se beijar com mais
intensidade. Era a melhor sensação do mundo, e agora entendia por que Theo não
ficava muito ao lado de Lyra sem beijá-la. E ela correspondia com muita
vontade, o que só podia dizer uma coisa: estava gostando.
Uma
eternidade depois ele se lembrou do que deveria fazer, e a soltou.
— Não nos
siga, por favor, Liv.
— Vou…
procurar feridos então. – Archie notou pela milésima vez que os olhos dela eram
lindos.
— Não se
aproxime dos autômatos. – Theo a olhou, com uma carranca engraçada. E não vá
para muito longe.
— Certo. –
ela disse, e se separaram. Os garotos correram para a ala oeste, e Liv voltou à
multidão.
— Arch,
depois que isso acabar… – Theo começou – me lembre de esmurrar a sua cara.
— O quê?
— Como é
que você pega a minha irmã na minha
frente desse jeito? Você quer morrer?
– ele disse com fúria.
— Mas
você…
— Sem mas!
Vá pra lá que eu avanço por aqui.
— Tudo bem.
– Archie virou à esquerda, e Theo viu-o se aproximar de um autômato, e com
maestria cortá-lo de cima a baixo.
Theo notou
que aquela espada era muito grande e pesada, até para ele. Talvez as adagas
duplas fossem melhores, mas continuou assim.
Encontrou
o primeiro autômato de costas, distraído, vigiando o perímetro. Destruiu-o com
um golpe só, de cima para baixo, e definitivamente notou que a espada não
servia para ele.
Do nada,
um dos robôs veio voando, cruzando o espaço
à sua frente e caindo no chão, ainda vivo. Havia algo errado. O autômato foi lançado, e caiu estatelado.
à sua frente e caindo no chão, ainda vivo. Havia algo errado. O autômato foi lançado, e caiu estatelado.
Theo
correu até ele, decapitou-o, e logo depois chutou a cabeça para longe.
— Theo.
Ele olhou
na direção em que viera o autômato e se assustou ao ver Tom Redworn com outro
deles nas costas, pronto para lançá-lo longe.
O ruivo
jogou o autômato para outro lado, e se aproximou. Sua camisa estava aberta, sem
colete. Não tinha mais machucados do que arranhões, mas Theo podia ver marcas
de queimadura em seu peito.
Queimaduras elétricas.
— Você sabe o que são essas coisas. – era uma
afirmação.
— Em
partes.
— Tem a
ver com a sua namorada bruxa e os outros dois?
— Maga.
— Tem?
— Em
partes. – ele o olhou. – o que está fazendo aqui? Não pode destruí-los com os
punhos nus.
— Com
algum custo, posso sim. – ele desdenhou. – estes não lançam energia, magia, o
que for. São mais fracos. Eles estão se concentrando no prédio da tecnologia,
parece que querem algo lá. Os daqui são… batedores, ou vigias, presumo.
— Tom.
— O que é?
– ele cuspiu as palavras.
— Posso
confiar em você? – Theo o encarou. Os olhos azuis de Tom estavam diferentes de
antes. E a voz, e tudo nele era diferente. Estava completamente mudado.
— Lyra me
ensinou umas coisas do pior jeito, sabe. – ele olhou distraidamente para uma
cicatriz. – E se quiser, pode confiar.
— Essa
aqui combina mais com seu porte. – Theo estendeu o cabo da Dragonslayer, e Tom
a pegou.
— Leve,
boa empunhadura. Onde conseguiu? – ele olhou o aço.
— Depois,
olhe lá.
Mais
autômatos chegavam, talvez para descobrir onde estavam os companheiros.
Theo pegou
suas adagas.
— Você
fica quietinho aí enquanto eu mato todos eles, Steamwork. – Tom sorriu.
Theo
revirou os olhos.
E eles correram.
●
Lyra
mordeu o lábio pensando num modo de sobreviver.
O único jeito
era se deslocar imediatamente após os autômatos lançarem sua energia, assim um
grupo destruía o outro.
Esperou
pacientemente até o momento certo, mas antes ouviu um barulho estranho, e um
pedaço de metal de mais de três metros passou rasante pelos autômatos,
derrubando e destruindo-os.
Se os
destruiu, então estava do lado dela, concluiu.
Aquela
coisa deu a volta e passou por cima dos outros que tentavam entrar no prédio, e
Lyra destruiu os sobreviventes. Depois aquele veículo parou, e uma cabeça loura
apontou de cima, usando óculos estranhos.
A garota
os tirou, e Lyra se espantou ao ver a irmã de Archie.
— Como
está aqui? – ela perguntou.
— Como
você arrumou essa coisa?
— Depois!
— Estão lá
dentro! Tente deter os que vierem de fora, essa sua máquina não cabe lá! – Lyra
gritou sobre o barulho todo.
Amy olhou
pra cima, e abaixou no Birdy novamente. Um apito em seu radar indicava mais
deles vindo, por cima desta vez.
Ela alçou
voo, atirando projéteis em direção às criaturas de metal do céu, que eram
diferentes. Pequenas e ágeis, com propulsão.
Caíam como moscas.
Lyra
correu para dentro do prédio, e atingiu o autômato atrás de Lílian.
— Eu disse
para ficar lá fora! Eles pararam de vir?
— Por
enquanto. Amy chegou numa máquina voadora e está dando um jeito neles.
— O quê?
— É! Não
sei como, ela não disse nada!
Um
autômato lançou uma esfera de energia no teto, e escombros caíram em direção às
duas.
— Não se atira pedras contra um mago da terra, autômato estúpido! – Lílian berrou quando os pedaços pararam no ar
e se voltaram contra ele, esmagando-o.
Oh, ela está irritada. Lílian irritada não é
algo a se apreciar.
Lyra
desviou de um golpe direto, um soco, e contra-atacou com uma estocada no
abdômen da coisa, arrancando os fios vitais.
Do nada,
Pyro se materializou com um arco na mão e duas adagas.
— Onde você estava? – Lyra trovejou, acertando outro robô.
— Trazendo
a Amy. Toma isso – lançou uma das adagas, que Lyra pegou no ar e cravou no
corpo de metal do autômato mais próximo, rasgando-o ao meio em seguida – é, já
viu pra que serve. Lílian!
Ela se
virou e apanhou o arco, armando sua flecha de luz e atingindo o robô mais
próximo.
— Onde
conseguiu isso? Esse arco é muito bom, e é para canhoto.
— Não
reparei, foi a Amy que fez. – ele atingiu mais um autômato. – encantei-o um
pouco.
— Não
acredito que Amy fez essas coisas. Ela é
uma maldita menininha que tem bonecas no quarto, pelos deuses! – Lyra
estourou.
— Vocês
não viram o laboratório dela. E a máquina que ela trouxe.
— Eu vi,
ela me salvou lá fora. – Lyra girou o corpo. – Pyro.
— O que?
— Eles
querem algo, ou não estariam tantos aqui. Se fosse só destruição, não teriam
desistido dos outros prédios. – ela o encarou.
— Sim. Na
escola de Amy, eu vi um deles com um cilindro estranho nas mãos. Assim que
tentei destruí-lo, ele fugiu voando. – Pyro cortou a cabeça de um deles como se
fosse feita de manteiga.
— Seria um
cilindro desses? – Lílian soltou uma flecha. – Há um desses aqui?
— Não sei
dizer. Deveríamos saber o que é esse cilindro. – Pyro a olhou. Lílian estava
com os cabelos soltos e algumas escoriações.
Ela não
caiu no chão, isso não a machuca. Aqueles arranhões eram causados pelos robôs.
— E não
deixar que eles o apanhem. – Lyra completou.
Pyro
percebeu que uma mecha do cabelo dela estava queimada. Imaginou o escândalo que
ela causaria quando visse isso.
— Estão
diminuindo, veja. – Lílian observou. Só restavam cinco.
— Amy. Lyra, vamos lá fora.
Lílian
disparou cinco de suas flechas e abaixou o arco.
— Vamos.
Mal
apareceram e se assustaram completamente. O veículo de Amy caía em direção ao
solo, soltando fumaça.
Pyro
gritou seu nome.
●
Archie variava
seus ataques entre estocadas e cortes diagonais. O fato dos autômatos não
sangrarem dava uma sensação de que tudo era apenas um treino comum de esgrima.
Mas o peso
do seu Sabre era diferente nas mãos.
Aquela
espada era sua, presente que Amy lhe deu meses atrás. Foi feita sob medida, à
mão, e era preciosa em vários sentidos.
Archie
nunca pensou em usá-la na vida. Porque aquele era o segredo deles. O segredo
que juraram nunca revelar.
As coisas
começaram quando Amy era muito nova, com cerca de cinco anos. Ela sabia ler
perfeitamente e vivia na biblioteca lendo qualquer coisa.
Archie
pegou a irmã resolvendo contas que nem Archie sabia resolver ainda, e
rapidamente entendeu o que ela tinha a mais.
Aquele
laboratório nada mais era que o porão da casa, que realmente tinha todo aquele
tamanho. Archie sabia que ele existia há algum tempo, e decidiu que faria um
lugar só para eles e suas ideias malucas.
Com o
tempo Amy percebeu por que seu irmão queria tanto que ela não mostrasse seus
dons a ninguém. Queria protegê-la. Sabia que ela não teria paz se todos
soubessem sua capacidade, e ela sempre o agradecia por isso.
Amy
desenvolveu gosto por mecânica bélica, e vem se aperfeiçoando com as armas, e
agora veículos de guerra. Era um mistério os motivos dela, sempre dizia que
fazia porque gostava, e só.
Mesmo
sendo um segredo deles, quando Amy soube que Lílian manejava arco e flecha,
correu até o laboratório e mudou a janela do arco que criara, deixando-o
próprio para um canhoto. Pretendia dar a ela quando eles fossem embora.
E agora,
seu segredo estava exposto. Theo e Liv o perdoariam por isso? Ainda era cedo
para dizer. Esperava que sim.
Lembrar-se
de Liv fez as bochechas dele corarem, e a distração lhe custou um corte no
rosto. Não podia se lembrar dela agora, poderia morrer.
E
definitivamente, morrer agora seria péssimo. Agora que finalmente tinha se
declarado. E beijado ela.
A
expressão que Theo fez foi indecifrável, e Archie se perguntou se fizera uma
carranca assim quando viu Pyro com sua irmã. Certamente seu amigo sentia ciúmes
dela, apesar de todo o apoio para conquistá-la.
Girou no
próprio eixo e acertou mais um deles. Respirou e atingiu outro. Deu dois passos
à frente.
Aqueles
não eram durões. Não emitiam energia ou eram fortes. Archie os derrubava
facilmente, avançando. Logo chegaria à ala Norte.
Um barulho
metálico vindo de trás o assustou.
Virou-se,
e o autômato semidestruído estava quase em cima de seu corpo, as mãos prontas
para agarrá-lo. Precisava de espaço para golpear, e não tinha naquele momento.
Porque
havia mais um autômato atrás.
Trancou os
dentes, e girou o corpo assim que viu uma linha azul cortar a cabeça do
autômato semidestruído. Alguém o salvara. Cortou o robô da frente ao meio e
depois virou pra trás com fúria e alívio.
— Eu te
disse para não me seguir, Lavender!
— E eu
digo dane-se! Como assim você me
deixa pra trás depois de dizer que me ama
e me beijar daquele jeito! – ela pôs as mãos na cintura, e logo as tirou.
Olhou o
robô com fúria e rasgou-o com sua Double Layer. Caiu inerte, junto aos
companheiros. Eram sucata agora.
— Não
posso simplesmente ficar lá parada enquanto todos vocês estão lutando. É
injusto. Até a Amy!
Archie
assentiu. Liv estava inteira, sem um arranhão. Mas seria problemático ela ali.
Liv olhou
a expressão preocupada de Archie, mas não mudou de opinião. Podia ser tão forte
– e tão tola – quanto eles. Eles também não deveriam estar ali, Lyra ia matar
um por um se os visse lutando. E Theo seria o primeiro da lista.
Ainda
sentia suas bochechas queimarem. Nunca pensou que Archie podia se declarar
assim, e sinceramente sentiu-se feliz por isso. Significava que suas suspeitas
não eram alucinações. E por que não? Assim que começou a desconfiar, passou a
sentir algo por ele, e teve medo de confundir tudo.
Mas agora
tinha certeza.
— Vamos
avançar, mas devagar. – Archie disse e empunhou a espada.
Um
autômato apareceu em sua frente, e antes que o acertasse, viu-o ser perfurado
por projéteis.
Armas de fogo?
Virou-se,
tarde demais. Sentiu uma pancada forte na boca e perdeu o senso de direção.
Abriu os olhos e viu a coronha que o atingira. Uma bota enorme chutou sua mão,
separando a espada dela, e no segundo seguinte, mãos fortes o imobilizaram de
bruços.
Girou a
cabeça a tempo de ver Liv ser atirada ao chão com violência, e ser imobilizada
do mesmo modo.
Outro par
de botas pretas surgiu, e Archie olhou para cima, mas não viu muito.
O homem
vestia um conhecido uniforme verde, com algumas insígnias no peito.
O Exército de Palladium.
— Estão
presos sob suspeita de terrorismo e porte de arma branca, os dois. E ficarão
sob custódia até algum responsável aparecer. – Disse o homem à sua frente, com
um sorriso debochado.
●
Tom
Redworn viu Theo arrancar uma adaga do peito daquela criatura.
— Acabou?
– Redworn perguntou.
— Creio
que sim. Olhe ali atrás.
Tom
ponderou. Sentia algo ruim, seu alarme de “algo
vai dar errado” estava apitando. E não era pela situação em si. Estava
muito calmo destruindo coisas, era o que fazia de melhor. Aquela espada era
perfeita e bem equilibrada, servia ao seu propósito de destruir aquelas
máquinas, sejam o que fossem.
Pensou em
não devolvê-la. Certo, mudou muitos de seus modos, mas alguns permaneceram.
Descobrir sobre Lílian e Pyro também o deixou mais esperto.
Desconfiava
deles. Chegaram juntos e eram tão estranhos quanto Lyra. E as duas eram primas,
por que não uma bruxa também? E aquele cabelo de Pyro? E a pele dele parecia
estar eternamente com febre, foi o que sentiu quando esbarrou nele um dia.
Hoje ele
teve suas confirmações. Principalmente quando viu Pyro virar fumaça e Lílian
também.
Agora as
pessoas podiam acreditar em sua versão da história, mas… não queria contá-la
mais.
Viu que
aquilo foi necessário, e não se arrependia daquelas dores. Nem dos tremores que
sentia às vezes.
E de algum
modo, sabia que aqueles três não eram os vilões da história.
Passou
atrás de uma enorme caixa de lixo e viu que havia algumas daquelas coisas à
frente, e virou para avisar a Theo.
Conversando com Theophilo Fracassado Steamwork,
quem diria, Tom… as coisas mudam. E vejam só, o fracassado está ali destruindo
as criaturas, e todos seus amigos frouxos correram para a saia da mãe quando
disse que ficaria por aqui. Quem é o grande machão agora, hã?
Viu a
expressão de Theo ao encará-lo, os olhos verdes assustados atrás das lentes.
Ele disse sem som algo como “esconda-se” e Tom obedeceu, abaixando atrás do
caixote de lixo.
Olhou
sorrateiramente de novo, e viu pessoas de uniforme do exército detendo Theo,
como da vez que foi detido por dano ao patrimônio público.
Tom xingou
um palavrão, e saiu rápido dali, adentrando o prédio.
Por sorte,
conhecia os túneis de esgoto como a palma das mãos.
●
Amy
acertava cada máquina no céu com precisão. Uma precisão que não conhecia, mas
era bem vinda.
A
propulsão de seu Birdy estava perfeita, e o tanque de diesel estava bem
abastecido. A munição se esgotando era o que a preocupava.
Girou para
a esquerda e direita, desviando de raios diversos que tentavam acertá-la. Seu
sensor de calor indicava de onde vinham os raios com precisão, e ela achou isso
muito bom.
Levou
meses para implementá-lo. Meses de noites sem dormir naquele laboratório,
movida a café.
A sensação
boa de ver que seu projeto de anos estava completo e funcionava perfeitamente a
encheu. E junto com a sensação de voar, se sentia completa.
Num
instante, viu que o robô que mirava foi abatido. Achou isso estranho, e quando
viu seu radar, havia um míssil terra-ar vindo em sua direção, indesviável.
Atingiu o
sistema de lançamento direito, longe dos tanques de combustível. O dano não era
grande, mas não podia pousar suavemente mais, e viu que a propulsão direita
também foi danificada.
Começou a
perder altitude com velocidade assombrosa e só então se lembrou de um detalhe.
Uma pequena fagulha.
Não possuía paraquedas.
Calma,
guiou sua máquina em diagonal, visando cair no pátio, sem muitos ferimentos. Um ano no hospital ou dois, assim, mais ou
menos, pensou. Isso se eu pular antes
de colidir no chão. E isso se eu
tiver sorte.
Foi o que
fez. Antes de seu Birdy encostar no solo, ela se lançou para trás, pulando
dele. Preparou-se para quebrar a coluna inteira e morrer rápido, mas não
aconteceu.
Flutuou no
ar por um instante e caiu sentada.
Seu Birdy
chiou mais dois metros e parou de súbito.
Nenhuma força mensurável nesse mundo pararia
aquela coisa e a energia cinética que carregava, então…
Olhou sua
esquerda e viu os três magos. Pyro olhava-a mordendo o lábio de preocupação, e
ela viu que Lílian parou sua máquina antes que se destruísse por completo.
— Pyro… –
ela se levantou e ia correr até ele, mas ele gritou.
— Não,
Amy!
Tarde
demais. Foi derrubada bruscamente por uma coronhada nada amigável. No chão, viu
que eram soldados. Imobilizaram-na.
— Viu
Lyra, não se mexa. São os cavaleiros, eu acho. – Lílian sussurrou quase inaudível.
– se falarmos que somos os caras bons…
Lyra
queria destruí-los. Como assim derrubavam Amy? Como assim apontavam aquelas
peças de metal para sua cara? Como assim estavam ali?
Eram todos
homens de verde escuro e coturnos. Via uma ou outra garota. Todos sérios e
hostis.
Um homem
veio em direção a eles. Grisalho, carrancudo e com as mãos pra trás. Trazia
medalhas no peito, e uma mulher morena ao lado. Lyra leu uma identificação em
cada um. No do homem estava escrito G. McMillan, e na mulher, T. Langgard.
—
Crianças. São só crianças. Como tem
coragem de mandar garotos? – era um monólogo.
Lyra se
coçava para responder e berrar que estava do lado deles. E que isso era óbvio,
e que todos eles eram uns estúpidos humanos sem magia e que não deveriam
interferir.
— Serei
bonzinho com vocês se disserem para quem trabalham. E quem são seus pais e por
que estão aqui nessa bagunça. – apontou o prédio inteiro.
Lyra ouviu
um barulho infernal da sua direita, e os pedaços de ferro que as pessoas
empunhavam estouravam em chamas amarelas e acertavam alguma coisa nos autômatos. Ouviu gritos como “atirar à vontade”.
Percebeu
que eles estavam mesmo contra os robôs, e não se segurou.
— Nós
estamos do lado de vocês, seus idiotas.
Lílian
fechou os olhos devagar e Pyro suspirou.
Lyra
fuzilou o homem à sua frente com o olhar, e ele respondeu duramente, devolvendo
com a mesma intensidade.
— Levem
todos eles, e a garota aviadora também. E essa lata aqui. E peguem uns
exemplares dos bonecos de metal. Vamos
ver o que as crianças sabem. E vamos ver por quanto tempo conseguem sobreviver
como prisioneiros de guerra sem chamar a mãe.
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Estão escutando este barulho?
isso é o côro comendo na casa de Noca, meuzamigo.
Esse livro tava parecendo novela mexicana, agora não está mais, aleluias irmões!
Agora podem tirar a boca do pacote de papel (tirar a boca do saco tem duplo sentido, melhor não usar) e comentar!
Esse é um dos capítulos que mais gosto. E os próximos são meus preferidos :3
Agora, cinco minutos de atenção para comemorarmos o feito do século, o acontecimento mais importante de todo este livro:
NOSSO GUERREIRO VENCEU, AMIGOS
ESTE É O MEMORÁVEL DIA EM QUE NOSSO SOLDADO FOI PROMOVIDO
E ESCAPOU DO CAMPO DE EXTERMÍNIO
CHAMADO FRIENDZONE!
*encontre o hino da friendzone no texto, é o link escondido do dia*
Palmas para Archie, o pobre merece.
E que ele sirva de exemplo para todos nós, assim como Rony Weasley.
*bate continência*
p.s. todo mundo já encarou friendzone, eu já tive a minha.
isso é o côro comendo na casa de Noca, meuzamigo.
Esse livro tava parecendo novela mexicana, agora não está mais, aleluias irmões!
Agora podem tirar a boca do pacote de papel (tirar a boca do saco tem duplo sentido, melhor não usar) e comentar!
Esse é um dos capítulos que mais gosto. E os próximos são meus preferidos :3
Agora, cinco minutos de atenção para comemorarmos o feito do século, o acontecimento mais importante de todo este livro:
NOSSO GUERREIRO VENCEU, AMIGOS
ESTE É O MEMORÁVEL DIA EM QUE NOSSO SOLDADO FOI PROMOVIDO
E ESCAPOU DO CAMPO DE EXTERMÍNIO
CHAMADO FRIENDZONE!
*encontre o hino da friendzone no texto, é o link escondido do dia*
Palmas para Archie, o pobre merece.
E que ele sirva de exemplo para todos nós, assim como Rony Weasley.
*bate continência*
p.s. todo mundo já encarou friendzone, eu já tive a minha.
E os jogos começaram \õ/
Well, se você está perdido, gafanhoto, a luz está nessa minha journal do DeviantArt. E, claro, nas imagens escondidas.
Well, se você está perdido, gafanhoto, a luz está nessa minha journal do DeviantArt. E, claro, nas imagens escondidas.
Lembrando os pdf's tem uma imagem diferente e o primeiro tem a Apresentação :3
até a próxima minha gente.
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