Johannes McMillan caminhava quase marchando pelo corredor largo. Manchava o carpete
vermelho sem pudor algum. A seu lado, Dominique Langgard andava mais rápido
para acompanhá-lo.
Claro que
mais cedo ou mais tarde ele solicitaria uma audiência. Afinal, as tropas
ocuparam seu terreno e montaram base sem permissão alguma. Mas pelos sete infernos, eles eram o
Exército, e não tinham que pedir permissão para milionário algum. E mais, eles
deveriam proteger o país de ataques terroristas como aquele.
O
General-de-divisão McMillan quase sorriu ao imaginar a expressão que aquele
homem faria quando soubesse. Isso se
o que aqueles garotos disseram fosse mesmo verdade. Crianças não costumam
mentir, mas podiam ser manipuladas.
E eles
disseram coisas interessantes sobre aquele cientista novo, Fairmount. E
justificaram aqueles bonecos de lata com verossimilhança. E mais, todos eles
contaram a mesma maldita história.
Bateu na
porta rudemente e logo entrou.
Ele estava
de costas, olhando pela janela os contingentes no seu quintal. Longe dos
jardins e da mansão, mas ocupavam uma boa área desmatada próxima. Estava sem o
paletó, e seus cabelos louros e curtos estavam bagunçados. McMillan podia ver
os vários fios brancos.
Crescerão mais uns vinte mil em breve…
—
Leadengear. – Chamou.
— General…
– Bartholomew Leadengear se virou e apontou cadeiras para os dois. Tinha os
olhos azuis firmes e um tanto cansados.
—
McMillan. E a Primeira-tenente Langgard. Suponho que quer saber por que
ocupamos seu terreno desse jeito repentino, senhor. – o General começou.
— Sim.
Soube de algumas coisas, e não é só isso que me preocupa.
As crianças.
— Senhor,
houve um ataque terrorista hoje pela manhã, creio que já sabe. Os alvos foram
três pontos: A Academia Aurum, a Escola Hellen Daisy Para Moças, e o Centro
Astronômico de Rhenium Valley. Não sabemos de onde originaram os ataques, e
estamos estudando as armas utilizadas.
Algumas
coisas aquele homem não precisava saber. Aliás, ele não tinha que saber de nada. Só contaria uma coisa ou outra
para pagar a utilização de seu terreiro, e só. Não devia satisfação a civis.
— General,
meus dois filhos estudam naquelas escolas, e já são sete horas da noite e eu
ainda não os vi. – ele transpassou toda a preocupação de um pai em sua
expressão.
Johannes
quase riu daquilo. Deveria soltar a granada agora ou seguraria mais um pouco?
— Senhor,
posso garantir que seus filhos estão bem. – Não tinha certeza, mas aquele
garoto se parecia muito com o pai. E a menina também. E já que ele não viu os
filhos até agora… eles não mentiram.
— Onde
eles estão?
— Sob
custódia e interrogatório. – McMillan pôs as mãos na mesa, cruzando os dedos. –
Detemos sete garotos na Aurum sob a suspeita de estarem com os terroristas.
— O quê? Os meus filhos? Os dois? –
ele quase perdeu o controle. Johannes o viu avermelhar, e uma veia pulsar em
sua testa.
Talvez ele
estivesse mais incrédulo por causa da moça. Aquela
moça… só acreditaria depois de ver algumas coisas, e estava precisamente
curioso para visitar o porão daquela mansão.
— Sim, os
dois. Portavam armas brancas, espadas e adagas. Havia uma garota com um arco
também. E… – falaria sobre o veículo da filha dele.
— Quem?
Decorou os
nomes, não eram difíceis.
— Duas
meninas chamadas Thrower, um garoto Watari e Dois Steamwork.
— Steamwork? – ele fez uma ruga na testa.
— Sim,
conhece?
— Conheço
muito bem, foram praticamente criados com meus filhos.
Isso era bom. De qualquer modo, os pais deles estavam a caminho… mas não havia
ninguém pelas Thrower e pelo Watari além de um professor deles, e era isso que
preocupava McMillan.
Os garotos
não pareciam ser maus, apesar da boca dura daquela peitudinha… Lyra? Algo
assim. Talvez se achasse o centro do universo. De qualquer modo, deveria
encerrar o assunto com o milionário ali.
— Bem, o
que nos surpreendeu, senhor… sua filha se chama Amaranthe, não é?
— Sim. E
seja lá o que for, ela não está metida nisso.
Oh, claro que não.
— Senhor,
ela estava pilotando um veículo bélico híbrido de diesel e vapor a uma
velocidade considerável e maestria digna de um bom cadete-do-ar, e pontaria
precisa. E ela disse pra mim que foi ela mesmo que projetou e construiu a
máquina, com aquelas mãozinhas finas e macias de donzela.
Leadengear
riu.
—
Impossível, ela não sabe nem o que é uma chave de fenda.
— Também
pensaria assim se eu não tivesse visto ela pilotar e eu não tivesse dado a
ordem para derrubar o veículo dela. –
o general sorriu.
— Ela está
bem?
— Sim, com
poucos arranhões. O que me intriga é que ela e os outros estavam destruindo
nossos inimigos, assim estou trabalhando para retirar a queixa de terrorismo.
Ah, sim. Sua filha disse que forjou as armas também.
— Já
disse…
— E ela
disse que tem um laboratório no porão e que o senhor não sabe de nada disso.
A
expressão dele endureceu.
— Enfim. O
senhor sabia ao menos que sua filha é superdotada?
— O que?
Oh, nem disso ele sabia. Mais dinheiro, menos
tempo para os filhos. Tudo tem um preço.
— Fizemos
testes de QI básicos nela, quando constatamos que não mentia sobre as invenções
e… ela é um gênio, e não desconfio que realmente tenha algo interessante no
porão. – disse, divertido.
— Quando
posso vê-los?
— Em
breve. Antes preciso lhe pedir mais alguns favores.
O homem
suspirou.
— Diga.
— Quero
que ceda alguns cômodos, vamos manter as crianças aqui. E você e sua esposa
também. Por enquanto quero todos confinados na casa.
Leadengear
franziu o cenho.
— Por quê?
Johannes
odiava dar satisfações a civis.
—
Precisamos evitar que informações escapem, principalmente para jornais e rádio.
Até descobrirmos algo concreto, não quero ninguém saindo ou entrando. E vamos
fazer alguns interrogatórios, e frequentar seu porão.
— Não
acredito nessas coisas, general. Simplesmente não há nenhum laboratório nessa
casa.
— Não
fique assim, se ela for inocentada, pode virar uma boa cientista militar. Ela
tem um bom gosto para armas.
Johannes
viu a expressão que ele fez e quase riu novamente. Por sorte sabia esconder bem
suas emoções. A verdade foi que aquela menininha o fascinou com suas armas. Se
algum dia sonhou em ter filhos, queria que fossem daquele jeito.
— Precisam
de mais alguma coisa? – Bartholomew disse com frieza.
— Alguns
de nossos homens vão se instalar aqui também, inclusive eu, se isso lhe deixa
mais seguro. Quando trouxer seus filhos, aviso. Provavelmente manterei todos
juntos em uma única sala para pouparmos homens para vigia. – McMillan se
levantou, e a tenente o imitou. – Agradeço pela colaboração, senhor.
Leadengear
assentiu, tenso, e os dois saíram.
— Coitado.
– Dominique disse depois de fechar a porta. – Certamente nunca imaginou nada
disso dos filhos.
— Sim. Não
importa, tenente. Precisamos dissecar aqueles bonecos de lata imediatamente. A
garota do departamento de ciência já chegou? – ele cruzou os braços nas costas.
— Ainda
não, Cat- senhorita Hemingway deve estar vindo, e reclamando. Odeia ter que se
deslocar. – suspirou.
— Já
mandaram buscar os restantes?
— Sim,
partiram antes de falarmos com Leadengear.
—
Perfeito. Deseja uma suíte ou um quarto simples, tenente?
Dominique
riu.
●
Chris
tirou a toalha da testa do professor.
— Eu
deveria ter ficado lá. – ele se lamuriou pela terceira vez.
— Você não
tem mais quinze anos, Alex. Uma pedrada mais forte e você morria. – Chris soou friamente profissional.
— Os
garotos, não vi nenhum deles no meio da confusão. Nenhum, Chris… tenho medo do que pode ter ocorrido a eles.
— Eu acho
que estão melhores que você.
Chris
largou a toalha manchada em um canto. Rutherford contava com belos arranhões, e
tinha caído da escada num dos tremores. Andava mancando, e sentia algumas
dores.
— Um
daqueles magos podia dar um jeito em você. – Chris molhou um algodão em álcool.
— Sim.
Tenho certeza, certeza que eles
ficaram por lá impedindo os autômatos.
Chris
suspirou e limpou o ferimento da testa do professor.
— Você os
viu? São cópias de Luce?
— Só vi o
suficiente para dizer que são parecidos. Mas não idênticos. – ele disse com
pesar.
Chris se
sentia péssimo com tudo isso.
Porque a
culpa era sua, e somente sua.
— Quanto
tempo? Uma semana e meia? Como ele se reproduziu tanto em tão pouco tempo?
Alex o
respondeu com seu silêncio.
Silêncio
que foi quebrado com a porta sendo arrombada.
—
Christopher Fairmount? – o homem berrou.
Eram
soldados, armados até os dentes.
Claro que não demorariam a descobrir quem foi que
começou esse inferno todo.
— Eu. –
ergueu os braços.
— Está
preso por suspeita de terrorismo. Podem levar. – o soldado apontou para outro,
que o imobilizou.
— Ei, eu
vou andando, pode ser? Tenho direito a um advogado ao menos?
— Cale-se.
– o soldado que lhe deu voz de prisão lhe esmurrou a boca, e ele saiu da casa.
— E você é
Alexander Louis Rutherford, suponho. – olhou o professor.
— Sim. –
ele se levantou com dificuldade.
— Você vai
sob custódia. Três garotos disseram que você é o responsável por eles.
— Dois
Thrower e um Watari. – peças começaram a se encaixar.
— Exato. E
também vai por esconder Fairmount.
Rutherford
mancou para fora. Nenhum soldado o imobilizou, ele parecia mais inofensivo que
Chris? Talvez.
— Ferido,
senhor? As informações são de que estava na Aurum no momento do ataque. – o
soldado perguntou.
— Um
pouco. Ministro aulas de Inglês. Ao menos ministrava, não sei se ir preso vai
me manter no cargo.
— Não se
preocupe. Não creio que será acusado. Não se o que os garotos disseram for
verdade.
Alex o
olhou.
— Seja o
que for, é a verdade.
●
— Como
assim “a senhorita se instalará aqui”? Olhe-bem-para-isso. O que você vê, soldado? – ela berrou.
— Uma
barraca, senhorita.
— Sim, uma
enorme barraca em cima de… terra batida.
– chutou o chão. – Olhe bem para os meus materiais, soldado. Você sabe quantos
anos tem que servir para comprar a menor das peças daqui? Sabe? Eu não sou obrigada a trabalhar
numa barraca maldita! Aliás, eu já fiz muito em me deslocar de meu laboratório
na base de Wolfram para esse fim de mundo
chamado Rhenium Valley! – voltou a gritar.
— Cat,
cale a boca, hã? Sua voz é irritante. – alguém levantou a lona da barraca e
entrou.
O soldado
leu o nome na farda, era a tenente Langgard. Salvara-se de meia hora de
falatório da louca do departamento de ciência.
— Nicky… – Cat disse com os dentes
cerrados, o que deu um sombrio tom ao apelido. – eu juro que te mato desta vez. – cerrou as mãos em punho.
Catherine
Hemingway tinha trinta e dois anos. Era alta e tinha busto farto. Ruiva, com muitas sardas. Olhos azuis claros e uma
cabeleira que fazia inveja a leões. Os cachos eram armados demais, incontroláveis. Uma faixa não deixava que eles tomassem sua
testa. Ainda usava óculos redondos gigantes e muito grossos. Vestia uma saia
até os joelhos e camisa de manga longa. Por cima, um jaleco branco.
— O que é?
Não fiz nada pra você. – Nicky respondeu, distraída.
Dominique
Langgard era mais baixa, e atlética. Tinha olhos castanhos escuros e pele
levemente morena. Os cabelos eram pretos e presos num coque, adornados pelo
quepe.
— Não? Você me tirou do meu laboratório para fazer não sei o que
nessa roça! Eu! Eu sou a melhor cientista que vocês têm, a chefe do maldito departamento! Há uma
centena de outros cientistas lá à toa e por que tiveram que me trazer? E olha onde me instalaram! – abriu os braços com fúria. –
Preste atenção, Nicky. Se você não
fizer seu maldito general me colocar num lugar decente, eu juro que saboto
todos os seus dispositivos.
— Posso te
prender por me ameaçar, sabia? – Dominique bocejou. Conhecia Cat há uma década
e sabia bem como ela era. – E vou te levar para a mansão ali. Divida o quarto
comigo, e vamos por suas coisas numa sala, pode ser?
— Bem
melhor. – Cat sorriu, agora parecia bem mais mansa. – aliás, o que eu tenho que
fazer?
— Nós
trou- – ela olhou o soldado que ainda estava ali. – soldado, vá buscar mais
homens para levar as coisas dela para a casa.
Ele saiu,
e ela continuou:
—
Trouxemos uns bonecos de lata pra você abrir e analisar. E também precisamos
que você veja uns brinquedinhos de uma garota. Parece que ela construiu um
veículo híbrido de diesel e vapor.
Cat
franziu o cenho.
— Parece
interessante. Eu sei que sou muito boa em tudo o que faço, mas só me chamaram.
Precisarei de um ajudante, um gandula pra pegar minhas ferramentas, sabe? – ela
consertou os óculos.
— Estamos
providenciando… um cientista local, Fair qualquer coisa.
Catherine
deu de ombros.
— Onde é
meu quarto mesmo? Preciso tirar o pó da viagem.
— Venha.
●
Theo
pensou que não ia acabar nunca.
Foi
interrogado meia dúzia de vezes, depois pediram para confirmar algumas coisas,
e interrogaram mais uma. Pelo menos não apanhou mais, e parecia que eles não
iam prendê-lo ou coisa assim.
Mas a dor
da coronhada ainda latejava na sua cabeça, e havia uma mancha vermelha no
colarinho da camisa. E seu óculos trincou quando foi derrubado, e alguém teve a
decência de devolvê-lo ao menos.
Infelizmente
teve que colocar Chris na história, ou ela não faria sentido. Contou que ele
criara o primeiro autômato, mas perdera o controle sobre ele, que adquiriu
consciência e aprendeu a reproduzir. Mas omitiu toda a magia, o que seria o
sensato a fazer.
Soube que
todos eles foram detidos, mas não sabia como estavam. Não os via desde a manhã.
Agora
andava pelos corredores da casa de Archie, onde eles disseram que ficaria
confinado enquanto precisassem deles.
Se não
estava louco, ia para a sala de jogos. E era realmente ela. Os soldados abriram
a porta e ele entrou, ainda um pouco tonto de adrenalina.
Todos os
móveis foram afastados, o que resultou numa sala gigantesca cheia de colchões.
Theo ofegou
quando viu Lyra e todos os outros ali. Só faltava Amy.
A primeira
a vê-lo foi sua irmã, que correu e o abraçou. Parecia bem. Ela lhe perguntou
como estava e essas coisas todas.
Depois ela
o soltou e se afastou, dando espaço para… Lyra.
Theo
engoliu seco. Imaginou a tarde inteira o que ela ia fazer com ele e sua
insubordinação. A expressão dela era a pior possível. Estava com a camisa
rasgada em alguns pontos, e tinha pequenos cortes. Fora isso, nada de mais.
Eles se
encararam por muito tempo, e por fim, Lyra o abraçou.
— Tive
vontade de te matar quando soube que tinham te levado. – ela sussurrou. –
aliás, ainda estou com vontade, mas vou deixar pra depois porque… me sinto
melhor com você aqui. – ela suspirou dolorosamente.
Ele não
sabia bem o que dizer. Para começar, queria dizer que a amava. Mas ainda não.
Ainda não podia dizer.
— Você
está bem? – olhou-a.
— Nada de
mais, arranhões. E você? Tem sangue aqui.
— Uma
coronhada.
Theo tomou
o rosto dela nas mãos e a beijou longamente. Parecia uma eternidade que não a
tinha nos braços, e aquilo ainda não era o suficiente… forçou-se a parar, e
soltá-la.
Depois foi até os outros. Archie tinha uma
bolsa de gelo no lado do rosto. Liv acariciava os cabelos dele.
—
Coronhada também, Arch?
— Isso dói
como no inferno. – ele resmungou. – Notícias de Amy? Ninguém fala nada dela.
— Nenhuma.
Deve ter algo a ver com as armas.
Archie ia
dizer alguma coisa, mas a porta abriu e um soldado entrou.
— Os dois
Steamwork e o Leadengear. Audiência com seus pais.
O estômago
de Theo afundou. Superou o interrogatório de soldados, mas não suportaria um de
seu pai.
Ele olhou
Liv, e a expressão dela dizia o mesmo.
Os três se
levantaram, e antes de saírem, acenaram para os magos.
Archie foi
a um quarto, e Theo para outro, no andar de cima. Abriu a porta timidamente, e
entrou sem fazer barulho. Seu pai olhava pela janela, distraído, e não se virou
quando eles entraram.
Já sua mãe
se levantou da cama e abraçou Liv com força. Pelo menos não chorava, não mais. Depois ela abraçou Theo
também, e começou a agradecer aos céus por eles estarem bem. Perguntou do
ferimento de Theo, se tinha mais algum. Ele não prestava atenção, só observava
seu pai na janela.
—
Interessante como eles se juntam feito moscas quando há alguma ameaça de
terrorismo. – ele finalmente disse algo, e sua mãe parou de falar. – para
qualquer outra coisa, são uns inúteis.
Ephraim
Steamwork se virou, e estava com uma expressão até boa demais. Andou devagar
até a cama e sentou nela.
— Não
precisam se explicar, já ouvimos a história toda. – ele cruzou os braços. – E
os outros? Sua namorada, como está?
— Lyra
levou só uns cortes, nada de-
Congelou.
Certamente
estava acostumado a ouvir “sua namorada” como referência para Lyra, e
certamente isso viciou seus ouvidos.
Mas nunca
ouviu isso da boca de seu pai, e sua expressão de espanto abriu um sorriso na
face dele.
— Theo,
até cegos viam isso. – ele fechou a cara. – eu estava me preparando
psicologicamente para ter, hm, aquela
conversa com você, mas enfim… prece que aconteceram coisas mais
importantes. Acho que não preciso dizer que você foi um completo idiota de
apanhar uma faca e sair correndo atrás daquelas coisas. E que poderia ter
morrido. E eu acrescento que você deveria ter apanhado um pouco mais do que uma
coronhada na cabeça para aprender a ter mais responsabilidade e não colocar a
sua irmã no meio de seus descuidos juvenis.
— Mas eu-
Ephraim
ergueu um dedo e Liv se calou.
— Eles vão
livrar vocês das acusações se os ajudarem, seja lá no que for. E eu espero que
ajudem. Podem ir.
Theo se
despediu da mãe, e saiu. Liv ainda ficou um pouco mais.
As coisas
tinham que acabar bem, de qualquer modo.
●
— Vou
esperar sua irmã chegar. – Archie engoliu seco quando ouviu o tom que seu pai estava usando.
Sua mãe
estava ao seu lado na cama, olhando o inchaço na bochecha. Ela não dizia nada,
talvez tivesse medo de dizer qualquer coisa e ser reprimida.
A porta
abriu, e Amy entrou com passos tímidos. Estava com seu uniforme de voo, um
tanto sujo de fuligem. As bochechas rosadas também estavam sujas, e as mãos.
Havia uma mancha vermelha em seu cabelo, perto da franja, e um pequeno filete
de sangue descendo pela testa. Isso deixou Archie preocupado.
— Dez
minutos, senhorita. – o soldado disse, e ela assentiu. Depois ele fechou a
porta.
Sua mãe
andou silenciosamente até ela e a abraçou, quase em prantos.
— Estou
bem. – Amy sussurrou, para que o pai não ouvisse. – Foi só uma coronhada…
— Quando –
Bartholomew se virou e encarou sua filha – o general me disse que havia um
laboratório no meu porão e que eu tinha um gênio na família, eu não acreditei.
Aliás, eu ri disso, porque como é que minha filha, a minha garotinha ia se meter com mecânica? Ainda mais bélica?
Amy sentia
a garganta seca.
— Então,
continuei sem acreditar no general. Eu nem vou citar o que pensei quando ele
disse que meus dois filhos estavam no meio de uma confusão na Aurum em que
podiam muito bem ter morrido. Não, isso fica para depois. Porque quando eu
desci no porão, realmente vi um laboratório lá. E um muito bom por sinal.
Ele
respirou por um longo momento.
— O que
mais vocês escondem de mim? – perguntou calmamente, olhando de um para o outro.
Amy olhou
seu irmão por um instante. Bem, escondiam algumas coisas, coisas que não deviam
contar a ele. E nunca contariam. Não só porque ele nunca acreditaria.
— Nada que
já não saiba. – Archie respondeu, sem emoção na voz.
— Você,
Archibald. Você deveria no mínimo
tomar conta dela, porque é a sua irmã, e o que faz? Ajuda com as invenções
bizarras. Porque eu tenho certeza que você está metido nisso.
— Estou.
Aliás, é tudo culpa minha. – Archie o encarou. – Eu a ajudei a fazer o laboratório.
Eu escondi os dons dela de todos vocês, eu.
E eu ensinei esgrima também. Porque eu não quero que ela seja só uma dama
educada, pai. Eu quero que ela viva e faça o que gosta. Pelo menos enquanto não
é adulta.
Archie viu
o rosto inexpressivo do pai. Estava perdido, mas pelo menos disse o que estava
preso na sua garganta há anos.
Estava
cansado, com fome e seu rosto todo doía. Ouvir seu pai falar daquele modo com
sua irmã foi o fim. O único problema dela foi ser altruísta.
— Se vocês
ainda não aprenderam com isso tudo, eu não sou capaz de ensiná-los. Façam o que
quiserem a partir de agora, o que
quiserem. – ele separou as palavras. – Ainda têm a sua mãe para chorar por
vocês.
Amy não
conseguiu abrir a boca, e não conseguia desprender os pés do chão também.
A porta
abriu, e o soldado entrou.
—
Senhorita.
Ela
assentiu e se virou para sair.
— Amy. –
Archie a chamou, e ela se virou. – Onde vai?
— Estou…
consertando o Birdy. Eles querem usá-lo, e… precisam de mim na oficina.
Desculpe, Archie. Diga… diga aos outros que estou bem.
Ela saiu
correndo.
Correção, diga a Pyro que estou bem. Pode
deixar.
— Isso,
aproveite o tempo que ainda tem com aquelas máquinas. Aproveite. – Bartholomew disse para a porta fechada.
— Não
pense que eu vou deixar você fazer algo contra a Amy, pois não vou. – Archie se
levantou e se dirigiu à porta. Acenou para a mãe e saiu bruscamente.
Archie
voltou à sala com fúria. Esperava mil coisas de seu pai agora, e a primeira
delas, no topo da lista, seria separá-los. Talvez isolar Amy em algum lugar.
Começou a
se preocupar com aquilo.
Entrou na
sala e viu Theo com uma expressão séria também. Lyra olhava pela janela,
distraída.
Chegou
perto dele.
— Troco
meu pai por meia dúzia de soldados. – disse, cansado.
— Somos
dois. – Theo respondeu, no mesmo tom.
— Liv?
— Com a
mãe.
— Como que
foi?
— Achei
bom até demais, podia ser pior. E ele descobriu.
— O que?
— Dela. –
apontou com a cabeça para Lyra. – disse que até cegos viam isso. Eu e meu
esforço para que não nos vissem foram em vão, isso me deixou frustrado. E Amy?
— Ela
apareceu lá. Meu pai… – suspirou – não sei o que ele vai fazer com ela, estou
com medo de nos separarem, depois explico direito. E ela me disse que está
consertando o Birdy. Pyro! – Chamou.
— Viu Amy?
– ele se aproximou.
Archie
assentiu.
— Está no
laboratório. Disse que precisavam dela. E ela pediu para dizer que está bem.
Pyro socou
a parede entre duas janelas, que tremeu.
— Não
suporto isso. Essa espera. Podemos sair daqui, por que não saímos? – ele
estourou.
— Ainda
não. – Lílian chegou perto. – O exército vai descobrir o que Luce quer, e assim
que tivermos essa informação, nós vamos atrás dele.
— Sem
vocês. – Lyra disse, dura. – E dessa vez eu vou me assegurar pessoalmente
disso.
Ou seja, vou enfeitiçá-los, humanos sem magia
estúpidos, Archie pensou.
—
Plausível. – disse.
A porta se
abriu com força, e alguém foi atirado lá dentro.
— Hey! –
ele protestou, e a porta se fechou. – sua mãe não te deu educação não?
Era Chris.
Ele arrumou o paletó e viu os garotos na janela.
— Ah,
estão aí, malditos. Vocês me deduraram,
não é? – berrou.
— Não
tivemos escolha, Chris. Perdoe-nos. – Lílian se aproximou. – está ferido?
— Só levei
um soco. Como assim não tiveram escolha?
— Não se
faça de idiota. – Lyra trovejou – Você criou
aquela coisa. Lógico que sabe como funciona. E precisamos de você para coletar
informações.
— Como?
— Eles não
vão te prender, eh, ainda não. – Theo
arrumou os óculos trincados – E vão te usar para analisar algumas peças dos
autômatos, acho. E aí você tem que descobrir o que Luce quer exatamente. Por
que ele atacou as escolas. Sabendo o que ele quer, fica fácil para descobrir
como ele vai agir.
Chris
ponderou.
— Faz
sentido, mas como eu consigo essas informações? E se eles não falarem nada?
— Se vira.
– Lyra cuspiu as palavras. – Nós vamos acabar com a coisa, mas você tem que nos
ajudar.
— Certo
então… – Chris passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os. – Só preciso dormi-
A porta
abriu de súbito.
—
Fairmount. Você vem comigo agora.
— Pra
onde?
— Vai
descobrir quando chegar lá, venha! – o soldado o pegou pelo braço.
— Até
mais, crianças! – ele gritou.
— Ninguém
vai dormir essa noite. – Lyra concluiu, e voltou a olhar pela janela.
Theo a
abraçou pela cintura e apoiou o queixo nos cabelos dela, mas nada disse.
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CAAAAAAAAAAAAAAAAT
SUA
LINDA
<3333333333333
até a próxima minha gente.
CAAAAAAAAAAAAAAAAT
SUA
LINDA
<3333333333333
E os jogos começaram \õ/
Well, se você está perdido, gafanhoto, a luz está nessa minha journal do DeviantArt. E, claro, nas imagens escondidas.
Well, se você está perdido, gafanhoto, a luz está nessa minha journal do DeviantArt. E, claro, nas imagens escondidas.
Lembrando os pdf's tem uma imagem diferente e o primeiro tem a Apresentação :3
até a próxima minha gente.
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