O Orbe de Reidhas, Spin-off #1 | Capítulo XVII










Johannes McMillan caminhava quase marchando pelo corredor largo. Manchava o carpete vermelho sem pudor algum. A seu lado, Dominique Langgard andava mais rápido para acompanhá-lo.
Claro que mais cedo ou mais tarde ele solicitaria uma audiência. Afinal, as tropas ocuparam seu terreno e montaram base sem permissão alguma. Mas pelos sete infernos, eles eram o Exército, e não tinham que pedir permissão para milionário algum. E mais, eles deveriam proteger o país de ataques terroristas como aquele.
O General-de-divisão McMillan quase sorriu ao imaginar a expressão que aquele homem faria quando soubesse. Isso se o que aqueles garotos disseram fosse mesmo verdade. Crianças não costumam mentir, mas podiam ser manipuladas.
E eles disseram coisas interessantes sobre aquele cientista novo, Fairmount. E justificaram aqueles bonecos de lata com verossimilhança. E mais, todos eles contaram a mesma maldita história.
Bateu na porta rudemente e logo entrou.
Ele estava de costas, olhando pela janela os contingentes no seu quintal. Longe dos jardins e da mansão, mas ocupavam uma boa área desmatada próxima. Estava sem o paletó, e seus cabelos louros e curtos estavam bagunçados. McMillan podia ver os vários fios brancos.
Crescerão mais uns vinte mil em breve…
— Leadengear. – Chamou.
— General… – Bartholomew Leadengear se virou e apontou cadeiras para os dois. Tinha os olhos azuis firmes e um tanto cansados.
— McMillan. E a Primeira-tenente Langgard. Suponho que quer saber por que ocupamos seu terreno desse jeito repentino, senhor. – o General começou.
— Sim. Soube de algumas coisas, e não é só isso que me preocupa.
As crianças.
— Senhor, houve um ataque terrorista hoje pela manhã, creio que já sabe. Os alvos foram três pontos: A Academia Aurum, a Escola Hellen Daisy Para Moças, e o Centro Astronômico de Rhenium Valley. Não sabemos de onde originaram os ataques, e estamos estudando as armas utilizadas.
Algumas coisas aquele homem não precisava saber. Aliás, ele não tinha que saber de nada. Só contaria uma coisa ou outra para pagar a utilização de seu terreiro, e só. Não devia satisfação a civis.
— General, meus dois filhos estudam naquelas escolas, e já são sete horas da noite e eu ainda não os vi. – ele transpassou toda a preocupação de um pai em sua expressão.
Johannes quase riu daquilo. Deveria soltar a granada agora ou seguraria mais um pouco?
— Senhor, posso garantir que seus filhos estão bem. – Não tinha certeza, mas aquele garoto se parecia muito com o pai. E a menina também. E já que ele não viu os filhos até agora… eles não mentiram.
— Onde eles estão?
— Sob custódia e interrogatório. – McMillan pôs as mãos na mesa, cruzando os dedos. – Detemos sete garotos na Aurum sob a suspeita de estarem com os terroristas.
— O quê? Os meus filhos? Os dois? – ele quase perdeu o controle. Johannes o viu avermelhar, e uma veia pulsar em sua testa.
Talvez ele estivesse mais incrédulo por causa da moça. Aquela moça… só acreditaria depois de ver algumas coisas, e estava precisamente curioso para visitar o porão daquela mansão.
— Sim, os dois. Portavam armas brancas, espadas e adagas. Havia uma garota com um arco também. E… – falaria sobre o veículo da filha dele.
— Quem?
Decorou os nomes, não eram difíceis.
— Duas meninas chamadas Thrower, um garoto Watari e Dois Steamwork.
Steamwork? – ele fez uma ruga na testa.
— Sim, conhece?
— Conheço muito bem, foram praticamente criados com meus filhos.
Isso era bom. De qualquer modo, os pais deles estavam a caminho… mas não havia ninguém pelas Thrower e pelo Watari além de um professor deles, e era isso que preocupava McMillan.
Os garotos não pareciam ser maus, apesar da boca dura daquela peitudinha… Lyra? Algo assim. Talvez se achasse o centro do universo. De qualquer modo, deveria encerrar o assunto com o milionário ali.
— Bem, o que nos surpreendeu, senhor… sua filha se chama Amaranthe, não é?
— Sim. E seja lá o que for, ela não está metida nisso.
Oh, claro que não.
— Senhor, ela estava pilotando um veículo bélico híbrido de diesel e vapor a uma velocidade considerável e maestria digna de um bom cadete-do-ar, e pontaria precisa. E ela disse pra mim que foi ela mesmo que projetou e construiu a máquina, com aquelas mãozinhas finas e macias de donzela.
Leadengear riu.
— Impossível, ela não sabe nem o que é uma chave de fenda.
— Também pensaria assim se eu não tivesse visto ela pilotar e eu não tivesse dado a ordem para derrubar o veículo dela. – o general sorriu.
— Ela está bem?
— Sim, com poucos arranhões. O que me intriga é que ela e os outros estavam destruindo nossos inimigos, assim estou trabalhando para retirar a queixa de terrorismo. Ah, sim. Sua filha disse que forjou as armas também.
— Já disse…
— E ela disse que tem um laboratório no porão e que o senhor não sabe de nada disso.
A expressão dele endureceu.
— Enfim. O senhor sabia ao menos que sua filha é superdotada?
— O que?
Oh, nem disso ele sabia. Mais dinheiro, menos tempo para os filhos. Tudo tem um preço.
— Fizemos testes de QI básicos nela, quando constatamos que não mentia sobre as invenções e… ela é um gênio, e não desconfio que realmente tenha algo interessante no porão. – disse, divertido.
— Quando posso vê-los?
— Em breve. Antes preciso lhe pedir mais alguns favores.
O homem suspirou.
— Diga.
— Quero que ceda alguns cômodos, vamos manter as crianças aqui. E você e sua esposa também. Por enquanto quero todos confinados na casa.
Leadengear franziu o cenho.
— Por quê?
Johannes odiava dar satisfações a civis.
— Precisamos evitar que informações escapem, principalmente para jornais e rádio. Até descobrirmos algo concreto, não quero ninguém saindo ou entrando. E vamos fazer alguns interrogatórios, e frequentar seu porão.
— Não acredito nessas coisas, general. Simplesmente não há nenhum laboratório nessa casa.
— Não fique assim, se ela for inocentada, pode virar uma boa cientista militar. Ela tem um bom gosto para armas.
Johannes viu a expressão que ele fez e quase riu novamente. Por sorte sabia esconder bem suas emoções. A verdade foi que aquela menininha o fascinou com suas armas. Se algum dia sonhou em ter filhos, queria que fossem daquele jeito.
— Precisam de mais alguma coisa? – Bartholomew disse com frieza.
— Alguns de nossos homens vão se instalar aqui também, inclusive eu, se isso lhe deixa mais seguro. Quando trouxer seus filhos, aviso. Provavelmente manterei todos juntos em uma única sala para pouparmos homens para vigia. – McMillan se levantou, e a tenente o imitou. – Agradeço pela colaboração, senhor.
Leadengear assentiu, tenso, e os dois saíram.
— Coitado. – Dominique disse depois de fechar a porta. – Certamente nunca imaginou nada disso dos filhos.
— Sim. Não importa, tenente. Precisamos dissecar aqueles bonecos de lata imediatamente. A garota do departamento de ciência já chegou? – ele cruzou os braços nas costas.
— Ainda não, Cat- senhorita Hemingway deve estar vindo, e reclamando. Odeia ter que se deslocar. – suspirou.
— Já mandaram buscar os restantes?
— Sim, partiram antes de falarmos com Leadengear.
— Perfeito. Deseja uma suíte ou um quarto simples, tenente?
Dominique riu.




Chris tirou a toalha da testa do professor.
— Eu deveria ter ficado lá. – ele se lamuriou pela terceira vez.
— Você não tem mais quinze anos, Alex. Uma pedrada mais forte e você morria. – Chris soou friamente profissional.
— Os garotos, não vi nenhum deles no meio da confusão. Nenhum, Chris… tenho medo do que pode ter ocorrido a eles.
— Eu acho que estão melhores que você.
Chris largou a toalha manchada em um canto. Rutherford contava com belos arranhões, e tinha caído da escada num dos tremores. Andava mancando, e sentia algumas dores.
— Um daqueles magos podia dar um jeito em você. – Chris molhou um algodão em álcool.
— Sim. Tenho certeza, certeza que eles ficaram por lá impedindo os autômatos.
Chris suspirou e limpou o ferimento da testa do professor.
— Você os viu? São cópias de Luce?
— Só vi o suficiente para dizer que são parecidos. Mas não idênticos. – ele disse com pesar.
Chris se sentia péssimo com tudo isso.
Porque a culpa era sua, e somente sua.
— Quanto tempo? Uma semana e meia? Como ele se reproduziu tanto em tão pouco tempo?
Alex o respondeu com seu silêncio.
Silêncio que foi quebrado com a porta sendo arrombada.
— Christopher Fairmount? – o homem berrou.
Eram soldados, armados até os dentes.
Claro que não demorariam a descobrir quem foi que começou esse inferno todo.
— Eu. – ergueu os braços.
— Está preso por suspeita de terrorismo. Podem levar. – o soldado apontou para outro, que o imobilizou.
— Ei, eu vou andando, pode ser? Tenho direito a um advogado ao menos?
— Cale-se. – o soldado que lhe deu voz de prisão lhe esmurrou a boca, e ele saiu da casa.
— E você é Alexander Louis Rutherford, suponho. – olhou o professor.
— Sim. – ele se levantou com dificuldade.
— Você vai sob custódia. Três garotos disseram que você é o responsável por eles.
— Dois Thrower e um Watari. – peças começaram a se encaixar.
— Exato. E também vai por esconder Fairmount.
Rutherford mancou para fora. Nenhum soldado o imobilizou, ele parecia mais inofensivo que Chris? Talvez.
— Ferido, senhor? As informações são de que estava na Aurum no momento do ataque. – o soldado perguntou.
— Um pouco. Ministro aulas de Inglês. Ao menos ministrava, não sei se ir preso vai me manter no cargo.
— Não se preocupe. Não creio que será acusado. Não se o que os garotos disseram for verdade.
Alex o olhou.
— Seja o que for, é a verdade.




— Como assim “a senhorita se instalará aqui”? Olhe-bem-para-isso. O que você vê, soldado? – ela berrou.
— Uma barraca, senhorita.
— Sim, uma enorme barraca em cima de… terra batida. – chutou o chão. – Olhe bem para os meus materiais, soldado. Você sabe quantos anos tem que servir para comprar a menor das peças daqui? Sabe? Eu não sou obrigada a trabalhar numa barraca maldita! Aliás, eu já fiz muito em me deslocar de meu laboratório na base de Wolfram para esse fim de mundo chamado Rhenium Valley! – voltou a gritar.
— Cat, cale a boca, hã? Sua voz é irritante. – alguém levantou a lona da barraca e entrou.
O soldado leu o nome na farda, era a tenente Langgard. Salvara-se de meia hora de falatório da louca do departamento de ciência.
Nicky… – Cat disse com os dentes cerrados, o que deu um sombrio tom ao apelido. – eu juro que te mato desta vez. – cerrou as mãos em punho.
Catherine Hemingway tinha trinta e dois anos. Era alta e tinha busto farto. Ruiva, com muitas sardas. Olhos azuis claros e uma cabeleira que fazia inveja a leões. Os cachos eram armados demais, incontroláveis. Uma faixa não deixava que eles tomassem sua testa. Ainda usava óculos redondos gigantes e muito grossos. Vestia uma saia até os joelhos e camisa de manga longa. Por cima, um jaleco branco.
— O que é? Não fiz nada pra você. – Nicky respondeu, distraída.
Dominique Langgard era mais baixa, e atlética. Tinha olhos castanhos escuros e pele levemente morena. Os cabelos eram pretos e presos num coque, adornados pelo quepe.
Não? Você me tirou do meu laboratório para fazer não sei o que nessa roça! Eu! Eu sou a melhor cientista que vocês têm, a chefe do maldito departamento! Há uma centena de outros cientistas lá à toa e por que tiveram que me trazer? E olha onde me instalaram! – abriu os braços com fúria. – Preste atenção, Nicky. Se você não fizer seu maldito general me colocar num lugar decente, eu juro que saboto todos os seus dispositivos.
— Posso te prender por me ameaçar, sabia? – Dominique bocejou. Conhecia Cat há uma década e sabia bem como ela era. – E vou te levar para a mansão ali. Divida o quarto comigo, e vamos por suas coisas numa sala, pode ser?
— Bem melhor. – Cat sorriu, agora parecia bem mais mansa. – aliás, o que eu tenho que fazer?
— Nós trou- – ela olhou o soldado que ainda estava ali. – soldado, vá buscar mais homens para levar as coisas dela para a casa.
Ele saiu, e ela continuou:
— Trouxemos uns bonecos de lata pra você abrir e analisar. E também precisamos que você veja uns brinquedinhos de uma garota. Parece que ela construiu um veículo híbrido de diesel e vapor.
Cat franziu o cenho.
— Parece interessante. Eu sei que sou muito boa em tudo o que faço, mas só me chamaram. Precisarei de um ajudante, um gandula pra pegar minhas ferramentas, sabe? – ela consertou os óculos.
— Estamos providenciando… um cientista local, Fair qualquer coisa.
Catherine deu de ombros.
— Onde é meu quarto mesmo? Preciso tirar o pó da viagem.
— Venha.


Theo pensou que não ia acabar nunca.
Foi interrogado meia dúzia de vezes, depois pediram para confirmar algumas coisas, e interrogaram mais uma. Pelo menos não apanhou mais, e parecia que eles não iam prendê-lo ou coisa assim.
Mas a dor da coronhada ainda latejava na sua cabeça, e havia uma mancha vermelha no colarinho da camisa. E seu óculos trincou quando foi derrubado, e alguém teve a decência de devolvê-lo ao menos.
Infelizmente teve que colocar Chris na história, ou ela não faria sentido. Contou que ele criara o primeiro autômato, mas perdera o controle sobre ele, que adquiriu consciência e aprendeu a reproduzir. Mas omitiu toda a magia, o que seria o sensato a fazer.
Soube que todos eles foram detidos, mas não sabia como estavam. Não os via desde a manhã.
Agora andava pelos corredores da casa de Archie, onde eles disseram que ficaria confinado enquanto precisassem deles.
Se não estava louco, ia para a sala de jogos. E era realmente ela. Os soldados abriram a porta e ele entrou, ainda um pouco tonto de adrenalina.
Todos os móveis foram afastados, o que resultou numa sala gigantesca cheia de colchões.
Theo ofegou quando viu Lyra e todos os outros ali. Só faltava Amy.
A primeira a vê-lo foi sua irmã, que correu e o abraçou. Parecia bem. Ela lhe perguntou como estava e essas coisas todas.
Depois ela o soltou e se afastou, dando espaço para… Lyra.
Theo engoliu seco. Imaginou a tarde inteira o que ela ia fazer com ele e sua insubordinação. A expressão dela era a pior possível. Estava com a camisa rasgada em alguns pontos, e tinha pequenos cortes. Fora isso, nada de mais.
Eles se encararam por muito tempo, e por fim, Lyra o abraçou.
— Tive vontade de te matar quando soube que tinham te levado. – ela sussurrou. – aliás, ainda estou com vontade, mas vou deixar pra depois porque… me sinto melhor com você aqui. – ela suspirou dolorosamente.
Ele não sabia bem o que dizer. Para começar, queria dizer que a amava. Mas ainda não. Ainda não podia dizer.
— Você está bem? – olhou-a.
— Nada de mais, arranhões. E você? Tem sangue aqui.
— Uma coronhada.
Theo tomou o rosto dela nas mãos e a beijou longamente. Parecia uma eternidade que não a tinha nos braços, e aquilo ainda não era o suficiente… forçou-se a parar, e soltá-la.
 Depois foi até os outros. Archie tinha uma bolsa de gelo no lado do rosto. Liv acariciava os cabelos dele.
— Coronhada também, Arch?
— Isso dói como no inferno. – ele resmungou. – Notícias de Amy? Ninguém fala nada dela.
— Nenhuma. Deve ter algo a ver com as armas.
Archie ia dizer alguma coisa, mas a porta abriu e um soldado entrou.
— Os dois Steamwork e o Leadengear. Audiência com seus pais.
O estômago de Theo afundou. Superou o interrogatório de soldados, mas não suportaria um de seu pai.
Ele olhou Liv, e a expressão dela dizia o mesmo.
Os três se levantaram, e antes de saírem, acenaram para os magos.
Archie foi a um quarto, e Theo para outro, no andar de cima. Abriu a porta timidamente, e entrou sem fazer barulho. Seu pai olhava pela janela, distraído, e não se virou quando eles entraram.
Já sua mãe se levantou da cama e abraçou Liv com força. Pelo menos não chorava, não mais. Depois ela abraçou Theo também, e começou a agradecer aos céus por eles estarem bem. Perguntou do ferimento de Theo, se tinha mais algum. Ele não prestava atenção, só observava seu pai na janela.
— Interessante como eles se juntam feito moscas quando há alguma ameaça de terrorismo. – ele finalmente disse algo, e sua mãe parou de falar. – para qualquer outra coisa, são uns inúteis.
Ephraim Steamwork se virou, e estava com uma expressão até boa demais. Andou devagar até a cama e sentou nela.
— Não precisam se explicar, já ouvimos a história toda. – ele cruzou os braços. – E os outros? Sua namorada, como está?
— Lyra levou só uns cortes, nada de-
Congelou.
Certamente estava acostumado a ouvir “sua namorada” como referência para Lyra, e certamente isso viciou seus ouvidos.
Mas nunca ouviu isso da boca de seu pai, e sua expressão de espanto abriu um sorriso na face dele.
— Theo, até cegos viam isso. – ele fechou a cara. – eu estava me preparando psicologicamente para ter, hm, aquela conversa com você, mas enfim… prece que aconteceram coisas mais importantes. Acho que não preciso dizer que você foi um completo idiota de apanhar uma faca e sair correndo atrás daquelas coisas. E que poderia ter morrido. E eu acrescento que você deveria ter apanhado um pouco mais do que uma coronhada na cabeça para aprender a ter mais responsabilidade e não colocar a sua irmã no meio de seus descuidos juvenis.
— Mas eu-
Ephraim ergueu um dedo e Liv se calou.
— Eles vão livrar vocês das acusações se os ajudarem, seja lá no que for. E eu espero que ajudem. Podem ir.
Theo se despediu da mãe, e saiu. Liv ainda ficou um pouco mais.
As coisas tinham que acabar bem, de qualquer modo.




— Vou esperar sua irmã chegar. – Archie engoliu seco quando ouviu o tom que seu pai estava usando.
Sua mãe estava ao seu lado na cama, olhando o inchaço na bochecha. Ela não dizia nada, talvez tivesse medo de dizer qualquer coisa e ser reprimida.
A porta abriu, e Amy entrou com passos tímidos. Estava com seu uniforme de voo, um tanto sujo de fuligem. As bochechas rosadas também estavam sujas, e as mãos. Havia uma mancha vermelha em seu cabelo, perto da franja, e um pequeno filete de sangue descendo pela testa. Isso deixou Archie preocupado.
— Dez minutos, senhorita. – o soldado disse, e ela assentiu. Depois ele fechou a porta.
Sua mãe andou silenciosamente até ela e a abraçou, quase em prantos.
— Estou bem. – Amy sussurrou, para que o pai não ouvisse. – Foi só uma coronhada…
— Quando – Bartholomew se virou e encarou sua filha – o general me disse que havia um laboratório no meu porão e que eu tinha um gênio na família, eu não acreditei. Aliás, eu ri disso, porque como é que minha filha, a minha garotinha ia se meter com mecânica? Ainda mais bélica?
Amy sentia a garganta seca.
— Então, continuei sem acreditar no general. Eu nem vou citar o que pensei quando ele disse que meus dois filhos estavam no meio de uma confusão na Aurum em que podiam muito bem ter morrido. Não, isso fica para depois. Porque quando eu desci no porão, realmente vi um laboratório lá. E um muito bom por sinal.
Ele respirou por um longo momento.
— O que mais vocês escondem de mim? – perguntou calmamente, olhando de um para o outro.
Amy olhou seu irmão por um instante. Bem, escondiam algumas coisas, coisas que não deviam contar a ele. E nunca contariam. Não só porque ele nunca acreditaria.
— Nada que já não saiba. – Archie respondeu, sem emoção na voz.
— Você, Archibald. Você deveria no mínimo tomar conta dela, porque é a sua irmã, e o que faz? Ajuda com as invenções bizarras. Porque eu tenho certeza que você está metido nisso.
— Estou. Aliás, é tudo culpa minha. – Archie o encarou. – Eu a ajudei a fazer o laboratório. Eu escondi os dons dela de todos vocês, eu. E eu ensinei esgrima também. Porque eu não quero que ela seja só uma dama educada, pai. Eu quero que ela viva e faça o que gosta. Pelo menos enquanto não é adulta.
Archie viu o rosto inexpressivo do pai. Estava perdido, mas pelo menos disse o que estava preso na sua garganta há anos.
Estava cansado, com fome e seu rosto todo doía. Ouvir seu pai falar daquele modo com sua irmã foi o fim. O único problema dela foi ser altruísta.
— Se vocês ainda não aprenderam com isso tudo, eu não sou capaz de ensiná-los. Façam o que quiserem a partir de agora, o que quiserem. – ele separou as palavras. – Ainda têm a sua mãe para chorar por vocês.
Amy não conseguiu abrir a boca, e não conseguia desprender os pés do chão também.
A porta abriu, e o soldado entrou.
— Senhorita.
Ela assentiu e se virou para sair.
— Amy. – Archie a chamou, e ela se virou. – Onde vai?
— Estou… consertando o Birdy. Eles querem usá-lo, e… precisam de mim na oficina. Desculpe, Archie. Diga… diga aos outros que estou bem.
Ela saiu correndo.
Correção, diga a Pyro que estou bem. Pode deixar.
— Isso, aproveite o tempo que ainda tem com aquelas máquinas. Aproveite. – Bartholomew disse para a porta fechada.
— Não pense que eu vou deixar você fazer algo contra a Amy, pois não vou. – Archie se levantou e se dirigiu à porta. Acenou para a mãe e saiu bruscamente.
Archie voltou à sala com fúria. Esperava mil coisas de seu pai agora, e a primeira delas, no topo da lista, seria separá-los. Talvez isolar Amy em algum lugar.
Começou a se preocupar com aquilo.
Entrou na sala e viu Theo com uma expressão séria também. Lyra olhava pela janela, distraída.
Chegou perto dele.
— Troco meu pai por meia dúzia de soldados. – disse, cansado.
— Somos dois. – Theo respondeu, no mesmo tom.
— Liv?
— Com a mãe.
— Como que foi?
— Achei bom até demais, podia ser pior. E ele descobriu.
— O que?
— Dela. – apontou com a cabeça para Lyra. – disse que até cegos viam isso. Eu e meu esforço para que não nos vissem foram em vão, isso me deixou frustrado. E Amy?
— Ela apareceu lá. Meu pai… – suspirou – não sei o que ele vai fazer com ela, estou com medo de nos separarem, depois explico direito. E ela me disse que está consertando o Birdy. Pyro! – Chamou.
— Viu Amy? – ele se aproximou.
Archie assentiu.
— Está no laboratório. Disse que precisavam dela. E ela pediu para dizer que está bem.
Pyro socou a parede entre duas janelas, que tremeu.
— Não suporto isso. Essa espera. Podemos sair daqui, por que não saímos? – ele estourou.
— Ainda não. – Lílian chegou perto. – O exército vai descobrir o que Luce quer, e assim que tivermos essa informação, nós vamos atrás dele.
— Sem vocês. – Lyra disse, dura. – E dessa vez eu vou me assegurar pessoalmente disso.
Ou seja, vou enfeitiçá-los, humanos sem magia estúpidos, Archie pensou.
— Plausível. – disse.
A porta se abriu com força, e alguém foi atirado lá dentro.
— Hey! – ele protestou, e a porta se fechou. – sua mãe não te deu educação não?
Era Chris. Ele arrumou o paletó e viu os garotos na janela.
— Ah, estão aí, malditos. Vocês me deduraram, não é? – berrou.
— Não tivemos escolha, Chris. Perdoe-nos. – Lílian se aproximou. – está ferido?
— Só levei um soco. Como assim não tiveram escolha?
— Não se faça de idiota. – Lyra trovejou – Você criou aquela coisa. Lógico que sabe como funciona. E precisamos de você para coletar informações.
— Como?
— Eles não vão te prender, eh, ainda não. – Theo arrumou os óculos trincados – E vão te usar para analisar algumas peças dos autômatos, acho. E aí você tem que descobrir o que Luce quer exatamente. Por que ele atacou as escolas. Sabendo o que ele quer, fica fácil para descobrir como ele vai agir.
Chris ponderou.
— Faz sentido, mas como eu consigo essas informações? E se eles não falarem nada?
— Se vira. – Lyra cuspiu as palavras. – Nós vamos acabar com a coisa, mas você tem que nos ajudar.
— Certo então… – Chris passou a mão pelos cabelos, bagunçando-os. – Só preciso dormi-
A porta abriu de súbito.
— Fairmount. Você vem comigo agora.
— Pra onde?
— Vai descobrir quando chegar lá, venha! – o soldado o pegou pelo braço.
— Até mais, crianças! – ele gritou.
— Ninguém vai dormir essa noite. – Lyra concluiu, e voltou a olhar pela janela.
Theo a abraçou pela cintura e apoiou o queixo nos cabelos dela, mas nada disse.











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CAAAAAAAAAAAAAAAAT
SUA
LINDA
<3333333333333






E os jogos começaram \õ/


Well, se você está perdido, gafanhoto, a luz está nessa minha journal do DeviantArt. E, claro, nas imagens escondidas.




Lembrando os pdf's tem uma imagem diferente e o primeiro tem a Apresentação :3


até a próxima minha gente.

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