— E finalmente eu vou poder dormir. – Cat vestiu a calça folgada do pijama e terminou
seu falatório.
Nicky
estava de pé e fardada. Chegara há menos de dois minutos, e estava com uma cara
não muito boa.
— Mas o
que você está fazendo parada aí, hã? Vá tomar um banho. A banheira é um luxo,
precisa ver. – ela tirou os cobertores de sua cama.
— Cat…
— Diga.
— Os
garotos acabaram de levar os equipamentos, sabe. E o general solicitou que a
análise dos objetos começasse imediatamente, porque precisamos de resultados
rápidos.
Nicky viu
o sangue subir pela face de Cat, e se preparou para um grito.
— O quê? O quê?! Quem aquele velho pensa que é? A minha mãe? Porque nem pra ela eu passo uma
noite sem dormir! Ele acha que gênios
não tem que descansar? Acha que eu sou uma máquina? Que eu faço tudo que ele
manda? É?!
Bem… sim, Nicky pensou.
Cat pôs os
dedos nas têmporas e contou até dez.
— Vou
vestir meu jaleco. – disse, e depois voltou a praguejar.
Catherine
reclamava demais, mas nunca
dispensava serviço. Era fascinada por tudo aquilo, e se divertia muito. Nicky
sabia que ela não recusaria nada: nem sair de sua cidade, nem trabalhar à
noite, nem a ajuda que teria.
A parte da
ajuda, talvez…
— Pronto.
– Cat pôs os óculos no rosto e calçou os sapatos. – Onde é a sala?
— Te levo
lá.
Catherine
entrou na sala, e ouviu Nicky dizer que haveria um soldado na porta. Perguntou
por que, mas ela não respondeu, já tinha saído. Cat deu de ombros e foi
procurar seu conjunto de chaves de fenda.
A sala era
bem espaçosa, e seus itens estavam quase organizados. Havia uma mesa no centro,
com alguma coisa escondida sob um pano branco. Ao lado, havia outra mesa, com
alguns papéis limpos, lápis e canetas. Havia também um quadro de giz com
rodinhas nos pés. Aquilo sob o pano só podia ser o que deveria analisar.
Achou o
conjunto, sem um amassado. Agradeceu a algum cientista falecido e abriu a
caixinha como se fosse uma maleta de vidro.
— Vamos
ver o que eu tenho aqui, hã… – ela retirou o pano branco e jogou para qualquer
lado.
Soltou uma
exclamação quando viu a criatura.
Era perfeita. Cantos arredondados, detalhes
azuis… que metal podia ser? Seus olhos brilharam, e a vontade abrir aquilo lhe
encheu. Também havia outra coisa. Uma sensação estranha, como se ele emitisse
algo… estava louca?
Seu
encanto se quebrou quando a porta abriu com violência.
— Não vou
matar ninguém, caso não saibam! – a voz masculina disse para a porta fechada. –
Mas que inferno, não precisam me arrastar. – ele consertou o paletó, e depois
perdeu a paciência e o tirou, e jogou num canto.
Virou-se.
Cat viu um
homem que podia ter quarenta anos pela quantidade de cabelo branco, ou trinta e
poucos, pelas expressões faciais. Os cabelos que não eram brancos eram
castanhos, e ele estava com a barba por fazer, e assustado ao vê-la ali.
Ou
assustado por causa de seu cabelo. Ele costumava espantar as pessoas.
O homem
afrouxou a gravata. Ok, Cat. Ele só
afrouxou a gravata, ele não está te seduzindo. Ou ele pensa que não.
Catherine balançou
a cabeça. Será que pode parar de pensar
em homens? Eles são estúpidos e dispensáveis, sabe disso. Inflou o peito.
— Quem,
pelos infernos é você? – despejou.
— Eu ia
perguntar exatamente o mesmo, senhora.
— Senhorita! – berrou.
—
Senhorita. – ele corrigiu.
—
Catherine Hemingway, chefe do Departamento de Ciência do Exército.
—
Christopher Fairmount. – ele fez uma pausa dramática. – relojoeiro.
Catherine
não aguentou e disparou a rir.
Chris
sabia muito bem que ela ia rir, mas era verdade. Nada mais era que um maldito
relojoeiro metido a cientista. E se ela era a chefe do departamento, então ela
sabia de coisas.
As coisas
que Lyra o mandou descobrir.
Precisava
arrancá-las daquela ruiva, mas como?
Ela era
engraçada rindo, pra não dizer estranha. Seu cabelo era uma juba laranjada, e
havia sardas pra onde quer que ele olhasse no corpo dela. Ao menos as partes
descobertas.
Tinha
peitos bem fartos, notou. As pernas ele não conseguia ver direito, a saia era enorme, e havia o jaleco.
Mas era ruiva. Todos os demônios da luxúria
sabiam do seu fraco por sardas e cabelos cor de fogo.
E aqueles
óculos saíram do nono círculo do inferno, e aquela coisa na cabeça dela?
Parecia sua saudosa mãe quando ia lavar a roupa.
Desperdício de sardas…
— Por que
me mandaram um relojoeiro? – ela limpou as lágrimas nos cantos dos olhos.
— Porque
foi o relojoeiro que criou o protótipo dessas coisas aí atrás de você.
●
Em meia
hora, um soldado apareceu com um jantar. E depois outro, com roupas e toalhas.
Lyra ficou incomodada por ter uma garota armada acompanhando-a até o banheiro e
ficando lá dentro enquanto ela se banhava.
As roupas
eram dela mesmo, feitas por Liv. Concluiu que os pais de Theo trouxeram-nas.
Voltou para o quarto com sua cara fechada padrão.
Queria ao
menos curar os arranhões que manchavam seu rosto, mas nem isso podia fazer.
Deveriam ser humanos normais, era o único meio de permanecerem ali. Bufou e lembrou-se
da mecha de cabelo queimada.
— Vou
destruir um por um daqueles autômatos malditos, para nunca mais tocarem no meu cabelo! – praguejou, jogando-se no
colchão ao lado de Theo. Passou a observar as pontas avariadas.
Ele bem imaginou
que Lyra ia se acomodar ali. Silenciosamente rezou para qualquer deus disposto
a ouvir, pedindo que ela se preocupasse mais com o cabelo queimado e esquecesse
seus surtos de perversão. Isso não seria bom, não pra ele.
Acabou sua
oração quando a porta se abriu.
—
Obrigado, senhor. Boa noite. – Rutherford fechou a porta cuidadosamente e se
virou.
Eles só arrastam Chris mesmo, Theo quase riu.
— Como
estão, crianças? – ele andou um pouco mais, com uma bengala de madeira. Estava com
roupa de dormir e uma faixa na cabeça.
—
Perfeitos, e você? – Lílian se levantou subitamente.
— Só uns
arranhões, umas torções, nada de mais. Só não sei como vou dormir no chão. –
ele riu.
— Queria
muito mesmo poder curar sua perna, professor. Mas não podemos fazer nada… isso
foi na Aurum?
— Sim…
quando as explosões começaram, eu tentei correr e vi que já não conseguia mais
– ele riu – e enquanto descia as escadas, caí. Mesmo assim consegui sair do
prédio sem mais danos. – ele sorriu. – Soube que resolveram bancar os heróis. –
seu tom ficou mais sério. – E estou falando daqueles sem magia.
Theo coçou
a cabeça.
— Não
podia ficar parado, não com as armas de Amy na mão. – Archie disse timidamente.
Liv concordou.
— Entendo.
Não é minha obrigação dar esse sermão em vocês. Mas então… qual é o plano?
Estamos presos por livre vontade?
—
Ficaremos até Chris descobrir sobre os planos de Luce, então agiremos. – Lílian
disse.
— Onde ele
está?
— Não
sabemos. Ele veio aqui, ficou cinco minutos e depois levaram de novo. – Pyro se
levantou do colchão.
Rutherford assentiu.
— Arch. – Pyro chamou.
— Diga.
— Você
disse que Amy está no laboratório dela, certo?
— É… mas
acho melhor você não ir lá, não por Sellphir.
A intenção
de Pyro era bem visível. Não conseguiria dormir sem vê-la. Archie entendia,
pois se sentia assim também.
— Sei
disso. Vou ver se um desses soldados me leva lá.
Pyro foi
até a porta e bateu nela. Um dos soldados o atendeu.
— Pode me
levar até o laboratório do porão?
Ele olhou
o companheiro.
— Não sei
se posso, garoto. O que quer lá?
— Ver a
garota que está lá, ela… bem. É a minha namorada. – ele fez uma expressão
suplicante.
— Merda. –
o soldado cuspiu. – você vai dar muita sorte porque hoje eu estou de bom humor,
menino. Mas só meia hora.
O soldado
levou Pyro por outro caminho, que não passava pelo quarto de Amy. Desceram até
a sala de estar e passaram por um armário embaixo da escada que levava aos
outros andares. Aquele era o caminho convencional até o porão.
Talvez não soubessem o alternativo…
Na porta
do porão estavam mais dois soldados, que cumprimentaram o primeiro.
Pyro
entrou na sala gigante, e viu ao longe uma luz piscar sem período definido. A
luz vinha de baixo do Birdy.
Ele viu
que havia outro soldado ao lado de Amy, e isso seria ruim. Queria contar a ela
as intenções do grupo.
Teve uma
ideia.
Aproximou-se
do Birdy, e viu as pernas claras de Amy no chão. O tronco estava escondido sob
o metal.
— Amy. –
chamou.
A luz
parou, e as mãos dela apareceram, segurando a fuselagem e algo estranho entre
os dedos envoltos por luvas. Depois ela tomou impulso para fora, e Pyro viu que
usava uma máscara estranha e preta.
Ela se
levantou e subiu a máscara. Tinha arranhões no rosto, e muitas manchas de
fuligem, além de um ferimento na cabeça. Soltou as coisas que estavam em suas
mãos, tirou as luvas e terminou de tirar a máscara. Depois pulou nos braços
dele, abraçando-o com força.
Amy se
perdeu naquele abraço. Queria mais que tudo poder vê-lo, ainda mais depois
daquela conversa unilateral com seu pai.
Realmente
correu tanto risco assim? Não compreendia.
— Fizeram
alguma coisa com você? – ele perguntou, acariciando seu rosto.
— Não, só
perguntas.
— Vai
dormir aqui? Já se alimentou?
— Sim…
comi qualquer coisa, e não acho que eles vão me deixar dormir. – ela disse mais
baixo. – querem que conserte o Birdy e treine alguém para usá-lo.
Pyro se
lembrou de seu plano para conversar com ela sem ser ouvido pelo atento soldado
ali perto.
De súbito,
beijou-a.
Amy sentiu
o rosto esquentar com o calor que vinha dos lábios dele. Mas estava diferente,
mais urgente que o normal. Mal percebeu que ele a empurrava pra trás,
procurando um anteparo, uma parede. Finalmente encontrou, e pressionou seu
corpo contra o dela.
— Pyro! –
sussurrou.
— Shh. –
ele voltou a beijá-la, e depois desceu os lábios por seu pescoço, causando-lhe
arrepios.
Amy olhou
de relance o soldado, que passou a olhar sua estante de ferramentas com
atenção, como se não quisesse atrapalhar nada.
Então ela
entendeu o que Pyro queria fazer, mas ainda assim agarrou seus cabelos vermelhos
com mais força.
— Como
assim treinar alguém? – ele sussurrou no seu ouvido.
— Hã? –
tinha se esquecido da conversa. – ah, eles não querem que eu volte a pilotar,
algo com eu ser civil. Mas duvido que alguém aprenda… e também, eles querem que
eu faça mais armas, e… não faça isso!
– ele mordeu o lóbulo de sua orelha devagar.
— Desculpe,
não resisti. – aquele sussurro era sedutor o suficiente para não soar
arrependido.
— E… vão
mandar uma cientista para ver as ligas que eu uso, e minhas coisas…
Pyro a
beijou de novo, e ela podia ver que não conversariam por muito mais tempo.
— Nós
vamos ficar mais um pouco, estamos confinados lá em cima. Queria que você
ficasse lá com a gente.
— Não
posso, se não fizer nada vai ser pior, disseram isso. Também queria ficar com
você. – ela olhou seus olhos anis.
Pyro
enterrou o rosto em seus cabelos de novo.
— Eu vou
te tirar daqui, Amy. Juro que vou. – ele sussurrou, e ela fechou os olhos.
— Vou
esperar.
●
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— Não,
você faz relógios, senhor Fairmount.
Isso aqui atrás de mim é uma tecnologia muito mais avançada do que engrenagens
de relógio, por favor. – Catherine cruzou os braços.
— Não lê
os jornais, Cat? Eu fiz um autômato três tantos pior que esse aí há um mês.
Posso te chamar de Cat, não é? – ele se aproximou da mesa.
— Não. – a voz dela foi cortante, e ela se
virou. – Ah, certo. Suponhamos que sim, você fez isso. Só supondo, porque é
óbvio que não fez. Então usou o que? Peças de relógio? – ela usou de seu
sarcasmo científico.
— Ele
evoluiu bem em uma semana. – Chris não deu atenção a ela. Passava os dedos pela
pele de metal do autômato.
— O que?
— Cat, foi
assim: Eu montei o autômato, fiz funcionar. Daí eu mostrei para os caras da
Aurum e tudo bem. Continuei a pesquisa e do nada, ele tomou consciência, passou
a evoluir sozinho, me deu um golpe na cabeça, me desmaiou e fugiu. – disse tudo de uma vez, sem
pausas.
—
Impossível, Fairmount. E não me chame de
Cat. – completou, furiosa.
— Nada é
impossível, senhorita. Nada,
acredite. Desde então, não tive notícias de Luce até hoje.
— Luce?
— O nome
que dei para o protótipo.
Cat riu.
— Você dá
nome de mulher aos seus projetos, Fairmount? Que lindo.
— Me chame
de Chris. E dou sim, você não? – ele a encarou, sorrindo.
Cat sentiu
as bochechas queimarem. Sim, ela dava nomes carinhosos para seus inventos com
frequência. E o sorriso dele era belo, apesar de cansado.
— Prefiro
nomes científicos. – ela disfarçou, consertando os óculos. – Qual é a sua
graduação, Fairmount?
— Já disse
pra me chamar de Chris. E eu não tenho
graduação.
— Como?
Ele deu de
ombros.
— Assim,
não tenho. Nunca frequentei escola alguma. Nem a primária.
Catherine
deixou o queixo cair. Estava de frente a um completo autodidata que fez um
autômato que saiu de seu controle.
— Nem a
primária? – Cat estava espantada. Isso é
impossível.
— Aprendi
a ler com meu pai. O resto foram livros. Daí, o idiota aqui pegou a herança e
gastou com uma relojoaria e ferramentas ao invés de estudar na Aurum.
— Você é
mesmo um idiota, pelo menos reconhece. – ela voltou ao tom normal e passou a
procurar algum lugar no autômato que pudesse abrir.
— E a sua
graduação? – Chris teve medo de perguntar, mas perguntou assim mesmo.
Cat
decorara uma ordem, para não ter que puxar as memórias.
— Ph.D. em
matemática e física pela universidade de Natrium. Graduação em química, Doutorado
honoris causa em engenharia mecânica por
causa de um projetinho de fim de semana. Vi que não tinha mais nada pra estudar
então vim pro exército, é onde eles tem mais recurso, mais discrição, mais salário
e eu poso fazer o que quiser sem ter padres me enchendo o saco com essa
história de brincar de Deus. – ela cruzou os braços no peito.
— Você tem
quantos anos? – ele perguntou, espantado.
— Tri- Isso não é pergunta que se faça! – ela
apontou a chave de fenda para ele ameaçadoramente.
—
Desculpe! É que é muita graduação pra uma mulher tão jovem.
Cat sentiu
a face queimar novamente.
— Eu
acabei a graduação em matemática com doze anos, é isso. – ela disse com certa
melancolia.
Isso tinha
lhe custado caro.
—
Interessante, temos um gênio aqui então.
— Exato. –
ela sorriu, convencida. – Eu sou o
gênio e você é só o assistente, então
fique quieto aí e pegue o que eu pedir para pegar. – ela ordenou com seu tom
soberbo comum.
Chris
sentiu uma dor nos cantos dos lábios. Estava sorrindo de novo. O jeito daquela
cientista maluca divertia-o. Não sorria há tanto tempo que sentiu que nunca
mais seria capaz de fazê-lo.
— Eu fiz o
Luce com algumas entradas bem aqui… – ele a ignorou e foi para o autômato –
para poder abrir… mas parece que… – olhou bem as peças – não tem mais. –
suspirou. – evoluiu, sabe? E esse aqui é só uma cópia melhorada. O Original
deve estar por aí.
— Por que
ele fugiu? – Cat começou a olhar os sulcos também.
— Porque
eu disse para ele parar de evoluir.
— Uma
máquina contrariando a programação, isso seria possível?
— Como eu
disse, ele adquiriu consciência, e livre-arbítrio vem como consequência. Tentei
impedi-lo e como um adolescente na puberdade que não sabe nada da vida, fugiu
de casa.
— Como ele
adquiriu consciência?
— Não sei,
Cat.
Ela não
ligou para isso dessa vez. Sua cabeça fervilhava de hipóteses.
Ele
mentiu, e sentia que a conversa rumaria para algo que ele deveria evitar a
qualquer custo: como Luce funciona.
A qualquer custo.
— Ahá. –
Chris ouviu um clique seco quando passou a chave de fenda por um dos sulcos.
A tampa
soltou, e Cat ajudou-o a abri-la.
— Tinha
isso no projeto original? – ela olhou o emaranhado de fios e tubos.
Não, Chris quis dizer.
— Algumas
coisas.
— Vou
analisar o metal ali no microscópio. – ela foi até sua maleta e tirou um
estilete dela. Raspou o metal da tampa e colocou numa plaqueta de vidro.
— Posso
ver? – Chris foi até o microscópio e empurrou a cientista delicadamente.
— Não
encoste em mim! – ela pulou para o lado.
— Qual é o
seu problema? Tem medo de eu te passar fracasso? – Chris se abaixou e olhou por
uma das oculares.
Cat
olhou-o, piscando.
Qual era
mesmo o seu problema? Ele era só um cientista fracassado, nada de mais.
Relutante,
olhou pela objetiva restante. A composição parecia ser de um metal comum.
— Não é a
minha liga. – Chris se levantou. – Usei aço comum, e um pouco de cobre. Isso
aqui é outra coisa. – ele a olhou.
— Vou
fazer uns testes pra ver do que é feita depois. Agora temos que voltar ali para
aqueles tubos.
Catherine
deu passos largos até o autômato aberto, e encarou as artérias dele.
— Acha
seguro romper um dos tubos? Qual é o combustível?
Chris não
respondeu. Eles só podiam ser movidos à magia. Então, se rompesse um dos dutos…
Ele puxou.
Depois com mais força, até ceder, e sua teoria foi comprovada.
Não havia
nada dentro deles.
— Nada?
Como assim nada? É vapor isso? Espere.
Cat puxou
o tubo pelo lado contrário ao que Chris segurava a ponta, e não reparou que
estava segurando a mão dele até o tubo se soltar do robô por completo.
Soltou as
mãos como se tivesse tomado um choque. Não é que não gostava de tocar pessoas.
É que sentia…
— Você tem
medo de encostar nas pessoas, Cat?
— Hm?
Claro que não! – usou seu tom soberbo. – Dá esse tubo aí, tem que ter alguma
coisa fluindo dentro dele.
— Nós
somos solitários, não acha? Digo, nós, cientistas. Preferimos relacionar com
nossos inventos que com pessoas. Será que é por isso que nos chamam de loucos?
– Chris a encarou, ainda segurando o tubo.
Catherine
não sabia o que responder. Ela sempre pensou assim.
— Bom
saber que não sou a única. – ela subiu os óculos pelo nariz de novo.
— Você tem
mesmo que usar esse trambolho de óculos? Conheço um garoto que usa óculos e não
é feio desse jeito.
— Ah, é
por causa do grau. São nove de miopia e seis de hipermetropia, então eu sou teoricamente
cega, e preciso de uma armação firme pra sustentar a lente gr-
Chris
virou um borrão quando ele puxou seus óculos sem avisar.
Espero que ela não esteja vendo essa minha cara
de idiota, Chris pensou.
Como um
maldito par de lentes podia arruinar o rosto de uma pessoa? Os olhos dela
pareciam menores sem aquele vidro, e eram azuis claros. Chris viu a face dela
avermelhar, o que deu um toque especial nas sardas.
— Devolva! – ela berrou.
— Não.
Pelos infernos, essa lente parece o fundo de uma garrafa. – ele olhou-as
distraidamente. – tem uma ótica lá perto da minha loja, deve ter uma armação
mais bonita lá. E por que você tem que usar esse pano na cabeça? Sério, parece
com a minha mãe quando ia lavar roupa, ela amarrava um pano colorido assim e
ia…
— Chris!
Ah, progresso.
— Tem nada
mais bonito não, tipo uma tiara de pedras? – ele viu que estava irritando-a de
verdade.
Cat inflou
de ódio e tentou tomar seus óculos dele. O que seria impossível, já que não
conseguia ver o objeto.
Ele riu, e
a raiva dela cresceu mais.
— Parece
um ratinho cego, que interessante. – debochou. Com uma das mãos, conseguiu
tirar a faixa do cabelo dela.
— Chris! – ela
berrou de novo.
— Ei. –
ele disse, e Cat não podia ver sua expressão. A voz tinha mudado de tom, e ela
tentou tirar a mecha que caíra em seu olho. O que não fazia diferença. – Você
não devia esconder isso tudo, sabia?
— O que?
— Você é
linda, Cat.
— Ah, por
favor. Já ouvi mentiras melhores. Devolva meus óculos. – disse entre dentes.
— E o que
eu ganho mentindo sobre isso? – ele disse com sinceridade.
Os cachos
caíram sobre o rosto dela quando tirou a faixa, e emolduraram-no perfeitamente.
O volume da parte de trás deixou-a com um aspecto natural e perfeito. A mecha
cobrindo um dos olhos dava aquele toque sensual que todas as ruivas do mundo
sabiam ter.
Agora sim, como uma bela ruiva tem que ser. Sem
desperdício de sardas.
Chris viu
que ela não tinha resposta, e sorriu mais.
Onde está a cientista mestre do universo agora,
hã? Parece uma garotinha virgem na frente do primeiro namorado… e se estivesse
realmente com raiva, teria berrado para o soldado da porta vir me matar. Ou
teria enfiado essa chave de fenda no meu olho. Preciso fazê-la se esquecer de
perguntar como essas coisas funcionam, não é?
Há um jeito.
Chris
aproveitou o estado de cegueira de Cat e se aproximou dela.
— E prenda
meu cabelo direito. – ela realmente entendeu que ele ia colocar aquilo de volta
no lugar? Que ingênua.
E Cat não
entendeu bem porque sentiu aquele contato quente nos lábios de repente. Na
verdade aquilo custou a chegar. Sua mente de gênio calculava integrais em
segundos sem usar lápis, e levou uma eternidade para notar algo tão simples.
Chris estava
lhe beijando.
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nem deu pra shipar direito
._____________.
até a próxima minha gente.
nem deu pra shipar direito
._____________.
E os jogos começaram \õ/
Well, se você está perdido, gafanhoto, a luz está nessa minha journal do DeviantArt. E, claro, nas imagens escondidas.
Well, se você está perdido, gafanhoto, a luz está nessa minha journal do DeviantArt. E, claro, nas imagens escondidas.
Lembrando os pdf's tem uma imagem diferente e o primeiro tem a Apresentação :3
até a próxima minha gente.
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