O Orbe de Reidhas, Spin-off #1 | Capítulo XVIII

— E finalmente eu vou poder dormir. – Cat vestiu a calça folgada do pijama e terminou seu falatório.
Nicky estava de pé e fardada. Chegara há menos de dois minutos, e estava com uma cara não muito boa.
— Mas o que você está fazendo parada aí, hã? Vá tomar um banho. A banheira é um luxo, precisa ver. – ela tirou os cobertores de sua cama.
— Cat…

— Diga.
— Os garotos acabaram de levar os equipamentos, sabe. E o general solicitou que a análise dos objetos começasse imediatamente, porque precisamos de resultados rápidos.
Nicky viu o sangue subir pela face de Cat, e se preparou para um grito.
— O quê? O quê?! Quem aquele velho pensa que é? A minha mãe? Porque nem pra ela eu passo uma noite sem dormir! Ele acha que gênios não tem que descansar? Acha que eu sou uma máquina? Que eu faço tudo que ele manda? É?!
Bem… sim, Nicky pensou.
Cat pôs os dedos nas têmporas e contou até dez.
— Vou vestir meu jaleco. – disse, e depois voltou a praguejar.
Catherine reclamava demais, mas nunca dispensava serviço. Era fascinada por tudo aquilo, e se divertia muito. Nicky sabia que ela não recusaria nada: nem sair de sua cidade, nem trabalhar à noite, nem a ajuda que teria.
A parte da ajuda, talvez…
— Pronto. – Cat pôs os óculos no rosto e calçou os sapatos. – Onde é a sala?
— Te levo lá.


Catherine entrou na sala, e ouviu Nicky dizer que haveria um soldado na porta. Perguntou por que, mas ela não respondeu, já tinha saído. Cat deu de ombros e foi procurar seu conjunto de chaves de fenda.
A sala era bem espaçosa, e seus itens estavam quase organizados. Havia uma mesa no centro, com alguma coisa escondida sob um pano branco. Ao lado, havia outra mesa, com alguns papéis limpos, lápis e canetas. Havia também um quadro de giz com rodinhas nos pés. Aquilo sob o pano só podia ser o que deveria analisar.
Achou o conjunto, sem um amassado. Agradeceu a algum cientista falecido e abriu a caixinha como se fosse uma maleta de vidro.
— Vamos ver o que eu tenho aqui, hã… – ela retirou o pano branco e jogou para qualquer lado.
Soltou uma exclamação quando viu a criatura.
Era perfeita. Cantos arredondados, detalhes azuis… que metal podia ser? Seus olhos brilharam, e a vontade abrir aquilo lhe encheu. Também havia outra coisa. Uma sensação estranha, como se ele emitisse algo… estava louca?
Seu encanto se quebrou quando a porta abriu com violência.
— Não vou matar ninguém, caso não saibam! – a voz masculina disse para a porta fechada. – Mas que inferno, não precisam me arrastar. – ele consertou o paletó, e depois perdeu a paciência e o tirou, e jogou num canto.
Virou-se.
Cat viu um homem que podia ter quarenta anos pela quantidade de cabelo branco, ou trinta e poucos, pelas expressões faciais. Os cabelos que não eram brancos eram castanhos, e ele estava com a barba por fazer, e assustado ao vê-la ali.
Ou assustado por causa de seu cabelo. Ele costumava espantar as pessoas.
O homem afrouxou a gravata. Ok, Cat. Ele só afrouxou a gravata, ele não está te seduzindo. Ou ele pensa que não.
Catherine balançou a cabeça. Será que pode parar de pensar em homens? Eles são estúpidos e dispensáveis, sabe disso. Inflou o peito.
— Quem, pelos infernos é você? – despejou.
— Eu ia perguntar exatamente o mesmo, senhora.
Senhorita! – berrou.
— Senhorita. – ele corrigiu.
— Catherine Hemingway, chefe do Departamento de Ciência do Exército.
— Christopher Fairmount. – ele fez uma pausa dramática. – relojoeiro.
Catherine não aguentou e disparou a rir.
Chris sabia muito bem que ela ia rir, mas era verdade. Nada mais era que um maldito relojoeiro metido a cientista. E se ela era a chefe do departamento, então ela sabia de coisas.
As coisas que Lyra o mandou descobrir.
Precisava arrancá-las daquela ruiva, mas como?
Ela era engraçada rindo, pra não dizer estranha. Seu cabelo era uma juba laranjada, e havia sardas pra onde quer que ele olhasse no corpo dela. Ao menos as partes descobertas.
Tinha peitos bem fartos, notou. As pernas ele não conseguia ver direito, a saia era enorme, e havia o jaleco.
Mas era ruiva. Todos os demônios da luxúria sabiam do seu fraco por sardas e cabelos cor de fogo.
E aqueles óculos saíram do nono círculo do inferno, e aquela coisa na cabeça dela? Parecia sua saudosa mãe quando ia lavar a roupa.
Desperdício de sardas…
— Por que me mandaram um relojoeiro? – ela limpou as lágrimas nos cantos dos olhos.
— Porque foi o relojoeiro que criou o protótipo dessas coisas aí atrás de você.









Em meia hora, um soldado apareceu com um jantar. E depois outro, com roupas e toalhas. Lyra ficou incomodada por ter uma garota armada acompanhando-a até o banheiro e ficando lá dentro enquanto ela se banhava.
As roupas eram dela mesmo, feitas por Liv. Concluiu que os pais de Theo trouxeram-nas. Voltou para o quarto com sua cara fechada padrão.
Queria ao menos curar os arranhões que manchavam seu rosto, mas nem isso podia fazer. Deveriam ser humanos normais, era o único meio de permanecerem ali. Bufou e lembrou-se da mecha de cabelo queimada.
— Vou destruir um por um daqueles autômatos malditos, para nunca mais tocarem no meu cabelo! – praguejou, jogando-se no colchão ao lado de Theo. Passou a observar as pontas avariadas.
Ele bem imaginou que Lyra ia se acomodar ali. Silenciosamente rezou para qualquer deus disposto a ouvir, pedindo que ela se preocupasse mais com o cabelo queimado e esquecesse seus surtos de perversão. Isso não seria bom, não pra ele.
Acabou sua oração quando a porta se abriu.
— Obrigado, senhor. Boa noite. – Rutherford fechou a porta cuidadosamente e se virou.
Eles só arrastam Chris mesmo, Theo quase riu.
— Como estão, crianças? – ele andou um pouco mais, com uma bengala de madeira. Estava com roupa de dormir e uma faixa na cabeça.
— Perfeitos, e você? – Lílian se levantou subitamente.
— Só uns arranhões, umas torções, nada de mais. Só não sei como vou dormir no chão. – ele riu.
— Queria muito mesmo poder curar sua perna, professor. Mas não podemos fazer nada… isso foi na Aurum?
— Sim… quando as explosões começaram, eu tentei correr e vi que já não conseguia mais – ele riu – e enquanto descia as escadas, caí. Mesmo assim consegui sair do prédio sem mais danos. – ele sorriu. – Soube que resolveram bancar os heróis. – seu tom ficou mais sério. – E estou falando daqueles sem magia.
Theo coçou a cabeça.
— Não podia ficar parado, não com as armas de Amy na mão. – Archie disse timidamente. Liv concordou.
— Entendo. Não é minha obrigação dar esse sermão em vocês. Mas então… qual é o plano? Estamos presos por livre vontade?
— Ficaremos até Chris descobrir sobre os planos de Luce, então agiremos. – Lílian disse.
— Onde ele está?
— Não sabemos. Ele veio aqui, ficou cinco minutos e depois levaram de novo. – Pyro se levantou do colchão.
Rutherford assentiu.
— Arch. – Pyro chamou.
— Diga.
— Você disse que Amy está no laboratório dela, certo?
— É… mas acho melhor você não ir lá, não por Sellphir.
A intenção de Pyro era bem visível. Não conseguiria dormir sem vê-la. Archie entendia, pois se sentia assim também.
— Sei disso. Vou ver se um desses soldados me leva lá.
Pyro foi até a porta e bateu nela. Um dos soldados o atendeu.
— Pode me levar até o laboratório do porão?
Ele olhou o companheiro.
— Não sei se posso, garoto. O que quer lá?
— Ver a garota que está lá, ela… bem. É a minha namorada. – ele fez uma expressão suplicante.
— Merda. – o soldado cuspiu. – você vai dar muita sorte porque hoje eu estou de bom humor, menino. Mas só meia hora.
O soldado levou Pyro por outro caminho, que não passava pelo quarto de Amy. Desceram até a sala de estar e passaram por um armário embaixo da escada que levava aos outros andares. Aquele era o caminho convencional até o porão.
Talvez não soubessem o alternativo…
Na porta do porão estavam mais dois soldados, que cumprimentaram o primeiro.
Pyro entrou na sala gigante, e viu ao longe uma luz piscar sem período definido. A luz vinha de baixo do Birdy.
Ele viu que havia outro soldado ao lado de Amy, e isso seria ruim. Queria contar a ela as intenções do grupo.
Teve uma ideia.
Aproximou-se do Birdy, e viu as pernas claras de Amy no chão. O tronco estava escondido sob o metal.
— Amy. – chamou.
A luz parou, e as mãos dela apareceram, segurando a fuselagem e algo estranho entre os dedos envoltos por luvas. Depois ela tomou impulso para fora, e Pyro viu que usava uma máscara estranha e preta.
Ela se levantou e subiu a máscara. Tinha arranhões no rosto, e muitas manchas de fuligem, além de um ferimento na cabeça. Soltou as coisas que estavam em suas mãos, tirou as luvas e terminou de tirar a máscara. Depois pulou nos braços dele, abraçando-o com força.
Amy se perdeu naquele abraço. Queria mais que tudo poder vê-lo, ainda mais depois daquela conversa unilateral com seu pai.
Realmente correu tanto risco assim? Não compreendia.
— Fizeram alguma coisa com você? – ele perguntou, acariciando seu rosto.
— Não, só perguntas.
— Vai dormir aqui? Já se alimentou?
— Sim… comi qualquer coisa, e não acho que eles vão me deixar dormir. – ela disse mais baixo. – querem que conserte o Birdy e treine alguém para usá-lo.
Pyro se lembrou de seu plano para conversar com ela sem ser ouvido pelo atento soldado ali perto.
De súbito, beijou-a.
Amy sentiu o rosto esquentar com o calor que vinha dos lábios dele. Mas estava diferente, mais urgente que o normal. Mal percebeu que ele a empurrava pra trás, procurando um anteparo, uma parede. Finalmente encontrou, e pressionou seu corpo contra o dela.
— Pyro! – sussurrou.
— Shh. – ele voltou a beijá-la, e depois desceu os lábios por seu pescoço, causando-lhe arrepios.
Amy olhou de relance o soldado, que passou a olhar sua estante de ferramentas com atenção, como se não quisesse atrapalhar nada.
Então ela entendeu o que Pyro queria fazer, mas ainda assim agarrou seus cabelos vermelhos com mais força.
— Como assim treinar alguém? – ele sussurrou no seu ouvido.
— Hã? – tinha se esquecido da conversa. – ah, eles não querem que eu volte a pilotar, algo com eu ser civil. Mas duvido que alguém aprenda… e também, eles querem que eu faça mais armas, e… não faça isso! – ele mordeu o lóbulo de sua orelha devagar.
— Desculpe, não resisti. – aquele sussurro era sedutor o suficiente para não soar arrependido.
— E… vão mandar uma cientista para ver as ligas que eu uso, e minhas coisas…
Pyro a beijou de novo, e ela podia ver que não conversariam por muito mais tempo.
— Nós vamos ficar mais um pouco, estamos confinados lá em cima. Queria que você ficasse lá com a gente.
— Não posso, se não fizer nada vai ser pior, disseram isso. Também queria ficar com você. – ela olhou seus olhos anis.
Pyro enterrou o rosto em seus cabelos de novo.
— Eu vou te tirar daqui, Amy. Juro que vou. – ele sussurrou, e ela fechou os olhos.
— Vou esperar.



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— Não, você faz relógios, senhor Fairmount. Isso aqui atrás de mim é uma tecnologia muito mais avançada do que engrenagens de relógio, por favor. – Catherine cruzou os braços.
— Não lê os jornais, Cat? Eu fiz um autômato três tantos pior que esse aí há um mês. Posso te chamar de Cat, não é? – ele se aproximou da mesa.
Não. – a voz dela foi cortante, e ela se virou. – Ah, certo. Suponhamos que sim, você fez isso. Só supondo, porque é óbvio que não fez. Então usou o que? Peças de relógio? – ela usou de seu sarcasmo científico.
— Ele evoluiu bem em uma semana. – Chris não deu atenção a ela. Passava os dedos pela pele de metal do autômato.
— O que?
— Cat, foi assim: Eu montei o autômato, fiz funcionar. Daí eu mostrei para os caras da Aurum e tudo bem. Continuei a pesquisa e do nada, ele tomou consciência, passou a evoluir sozinho, me deu um golpe na cabeça, me desmaiou e fugiu. – disse tudo de uma vez, sem pausas.
— Impossível, Fairmount. E não me chame de Cat. – completou, furiosa.
— Nada é impossível, senhorita. Nada, acredite. Desde então, não tive notícias de Luce até hoje.
— Luce?
— O nome que dei para o protótipo.
Cat riu.
— Você dá nome de mulher aos seus projetos, Fairmount? Que lindo.
— Me chame de Chris. E dou sim, você não? – ele a encarou, sorrindo.
Cat sentiu as bochechas queimarem. Sim, ela dava nomes carinhosos para seus inventos com frequência. E o sorriso dele era belo, apesar de cansado.
— Prefiro nomes científicos. – ela disfarçou, consertando os óculos. – Qual é a sua graduação, Fairmount?
— Já disse pra me chamar de Chris.  E eu não tenho graduação.
— Como?
Ele deu de ombros.
— Assim, não tenho. Nunca frequentei escola alguma. Nem a primária.
Catherine deixou o queixo cair. Estava de frente a um completo autodidata que fez um autômato que saiu de seu controle.
— Nem a primária? – Cat estava espantada. Isso é impossível.
— Aprendi a ler com meu pai. O resto foram livros. Daí, o idiota aqui pegou a herança e gastou com uma relojoaria e ferramentas ao invés de estudar na Aurum.
— Você é mesmo um idiota, pelo menos reconhece. – ela voltou ao tom normal e passou a procurar algum lugar no autômato que pudesse abrir.
— E a sua graduação? – Chris teve medo de perguntar, mas perguntou assim mesmo.
Cat decorara uma ordem, para não ter que puxar as memórias.
— Ph.D. em matemática e física pela universidade de Natrium. Graduação em química, Doutorado honoris causa em engenharia mecânica por causa de um projetinho de fim de semana. Vi que não tinha mais nada pra estudar então vim pro exército, é onde eles tem mais recurso, mais discrição, mais salário e eu poso fazer o que quiser sem ter padres me enchendo o saco com essa história de brincar de Deus. – ela cruzou os braços no peito.
— Você tem quantos anos? – ele perguntou, espantado.
— Tri- Isso não é pergunta que se faça! – ela apontou a chave de fenda para ele ameaçadoramente.
— Desculpe! É que é muita graduação pra uma mulher tão jovem.
Cat sentiu a face queimar novamente.
— Eu acabei a graduação em matemática com doze anos, é isso. – ela disse com certa melancolia.
Isso tinha lhe custado caro.
— Interessante, temos um gênio aqui então.
— Exato. – ela sorriu, convencida. – Eu sou o gênio e você é só o assistente, então fique quieto aí e pegue o que eu pedir para pegar. – ela ordenou com seu tom soberbo comum.
Chris sentiu uma dor nos cantos dos lábios. Estava sorrindo de novo. O jeito daquela cientista maluca divertia-o. Não sorria há tanto tempo que sentiu que nunca mais seria capaz de fazê-lo.
— Eu fiz o Luce com algumas entradas bem aqui… – ele a ignorou e foi para o autômato – para poder abrir… mas parece que… – olhou bem as peças – não tem mais. – suspirou. – evoluiu, sabe? E esse aqui é só uma cópia melhorada. O Original deve estar por aí.
— Por que ele fugiu? – Cat começou a olhar os sulcos também.
— Porque eu disse para ele parar de evoluir.
— Uma máquina contrariando a programação, isso seria possível?
— Como eu disse, ele adquiriu consciência, e livre-arbítrio vem como consequência. Tentei impedi-lo e como um adolescente na puberdade que não sabe nada da vida, fugiu de casa.
— Como ele adquiriu consciência?
— Não sei, Cat.
Ela não ligou para isso dessa vez. Sua cabeça fervilhava de hipóteses.
Ele mentiu, e sentia que a conversa rumaria para algo que ele deveria evitar a qualquer custo: como Luce funciona.
A qualquer custo.
— Ahá. – Chris ouviu um clique seco quando passou a chave de fenda por um dos sulcos.
A tampa soltou, e Cat ajudou-o a abri-la.
— Tinha isso no projeto original? – ela olhou o emaranhado de fios e tubos.
Não, Chris quis dizer.
— Algumas coisas.
— Vou analisar o metal ali no microscópio. – ela foi até sua maleta e tirou um estilete dela. Raspou o metal da tampa e colocou numa plaqueta de vidro.
— Posso ver? – Chris foi até o microscópio e empurrou a cientista delicadamente.
— Não encoste em mim! – ela pulou para o lado.
— Qual é o seu problema? Tem medo de eu te passar fracasso? – Chris se abaixou e olhou por uma das oculares.
Cat olhou-o, piscando.
Qual era mesmo o seu problema? Ele era só um cientista fracassado, nada de mais.
Relutante, olhou pela objetiva restante. A composição parecia ser de um metal comum.
— Não é a minha liga. – Chris se levantou. – Usei aço comum, e um pouco de cobre. Isso aqui é outra coisa. – ele a olhou.
— Vou fazer uns testes pra ver do que é feita depois. Agora temos que voltar ali para aqueles tubos.
Catherine deu passos largos até o autômato aberto, e encarou as artérias dele.
— Acha seguro romper um dos tubos? Qual é o combustível?
Chris não respondeu. Eles só podiam ser movidos à magia. Então, se rompesse um dos dutos…
Ele puxou. Depois com mais força, até ceder, e sua teoria foi comprovada.
Não havia nada dentro deles.
— Nada? Como assim nada? É vapor isso? Espere.
Cat puxou o tubo pelo lado contrário ao que Chris segurava a ponta, e não reparou que estava segurando a mão dele até o tubo se soltar do robô por completo.
Soltou as mãos como se tivesse tomado um choque. Não é que não gostava de tocar pessoas. É que sentia…
— Você tem medo de encostar nas pessoas, Cat?
— Hm? Claro que não! – usou seu tom soberbo. – Dá esse tubo aí, tem que ter alguma coisa fluindo dentro dele.
— Nós somos solitários, não acha? Digo, nós, cientistas. Preferimos relacionar com nossos inventos que com pessoas. Será que é por isso que nos chamam de loucos? – Chris a encarou, ainda segurando o tubo.
Catherine não sabia o que responder. Ela sempre pensou assim.
— Bom saber que não sou a única. – ela subiu os óculos pelo nariz de novo.
— Você tem mesmo que usar esse trambolho de óculos? Conheço um garoto que usa óculos e não é feio desse jeito.
— Ah, é por causa do grau. São nove de miopia e seis de hipermetropia, então eu sou teoricamente cega, e preciso de uma armação firme pra sustentar a lente gr-
Chris virou um borrão quando ele puxou seus óculos sem avisar.
Espero que ela não esteja vendo essa minha cara de idiota, Chris pensou.
Como um maldito par de lentes podia arruinar o rosto de uma pessoa? Os olhos dela pareciam menores sem aquele vidro, e eram azuis claros. Chris viu a face dela avermelhar, o que deu um toque especial nas sardas.
Devolva! – ela berrou.
— Não. Pelos infernos, essa lente parece o fundo de uma garrafa. – ele olhou-as distraidamente. – tem uma ótica lá perto da minha loja, deve ter uma armação mais bonita lá. E por que você tem que usar esse pano na cabeça? Sério, parece com a minha mãe quando ia lavar roupa, ela amarrava um pano colorido assim e ia…
— Chris!
Ah, progresso.
— Tem nada mais bonito não, tipo uma tiara de pedras? – ele viu que estava irritando-a de verdade.
Cat inflou de ódio e tentou tomar seus óculos dele. O que seria impossível, já que não conseguia ver o objeto.
Ele riu, e a raiva dela cresceu mais.
— Parece um ratinho cego, que interessante. – debochou. Com uma das mãos, conseguiu tirar a faixa do cabelo dela.
— Chris! – ela berrou de novo.
— Ei. – ele disse, e Cat não podia ver sua expressão. A voz tinha mudado de tom, e ela tentou tirar a mecha que caíra em seu olho. O que não fazia diferença. – Você não devia esconder isso tudo, sabia?
— O que?
— Você é linda, Cat.
— Ah, por favor. Já ouvi mentiras melhores. Devolva meus óculos. – disse entre dentes.
— E o que eu ganho mentindo sobre isso? – ele disse com sinceridade.
Os cachos caíram sobre o rosto dela quando tirou a faixa, e emolduraram-no perfeitamente. O volume da parte de trás deixou-a com um aspecto natural e perfeito. A mecha cobrindo um dos olhos dava aquele toque sensual que todas as ruivas do mundo sabiam ter.
Agora sim, como uma bela ruiva tem que ser. Sem desperdício de sardas.
Chris viu que ela não tinha resposta, e sorriu mais.
Onde está a cientista mestre do universo agora, hã? Parece uma garotinha virgem na frente do primeiro namorado… e se estivesse realmente com raiva, teria berrado para o soldado da porta vir me matar. Ou teria enfiado essa chave de fenda no meu olho. Preciso fazê-la se esquecer de perguntar como essas coisas funcionam, não é?
Há um jeito.
Chris aproveitou o estado de cegueira de Cat e se aproximou dela.
— E prenda meu cabelo direito. – ela realmente entendeu que ele ia colocar aquilo de volta no lugar? Que ingênua.
E Cat não entendeu bem porque sentiu aquele contato quente nos lábios de repente. Na verdade aquilo custou a chegar. Sua mente de gênio calculava integrais em segundos sem usar lápis, e levou uma eternidade para notar algo tão simples.
Chris estava lhe beijando.









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nem deu pra shipar direito
._____________.







E os jogos começaram \õ/


Well, se você está perdido, gafanhoto, a luz está nessa minha journal do DeviantArt. E, claro, nas imagens escondidas.




Lembrando os pdf's tem uma imagem diferente e o primeiro tem a Apresentação :3


até a próxima minha gente.

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