.por motivos de pressa, hoje não tem dica da dica.
Catherine Hemingway começou a fazer contas mais cedo que qualquer outra criança, e isso
chamou a atenção de seus pais. Ela nunca se importou em queimar etapas e
concluir uma graduação em matemática com doze anos.
Era melhor
que todos eles, isso lhe bastava.
A ciência
e seu fascínio por ela não a deixava aberta a muitos relacionamentos. Teve uma
amiga uma vez, mas logo a garota se afastou. Cat pensou que ficaria melhor sem
ela, e continuou.
Nas universidades
que frequentou, se não chamava a atenção por sua idade e notas altas, chamava
pelo cabelo incomum. Cat sempre achou uma perda de tempo tentar penteá-lo.
Conseguia projetar um dispositivo novo com o tempo que gastaria ao arrumá-lo
todos os dias.
Também
nunca ligou para isso, aparências. Sua vida sempre foi contas, materiais, solda
e chaves de fenda. O resto era simplesmente resto.
Isso
incluía seus pais. Pensando bem, ela não os via há quase dez anos.
Quando
entrou para o exército, Dominique ainda não era tenente. Ela foi responsável
por treinar Cat na parte militar, como atirar e se defender. Logo Nicky virou amiga
dela, que foi aceitando isso devagar.
Isso tudo
fez Cat se lembrar de algo.
Que tinha trinta
e dois anos.
E nunca
tinha beijado ninguém.
E do nada
essa constatação, que nunca tinha incomodado, passou a ser séria. Porque aquele
não era um cara que ela estava com interesse há semanas e sonhava em ter nos
braços.
Ela
conheceu aquele homem há meia hora.
Estava
beijando um completo desconhecido, e pior, estava gostando daquilo. A barba
dele fazia cócegas no seu rosto. E era tudo tão estranho. E ele apertava-a
contra o peito, tentando passar os dedos por seus cabelos cheios.
Os braços
rígidos de Cat caídos nos lados do corpo atrapalhavam no abraço. Como via os
casais nas poucas vezes que saía nas ruas? Lembrou-se que não reparava neles.
A ciência
tinha roubado muito dela. Por tempo demais.
E com
relutância, ela conseguiu fechar os braços em torno da cintura dele. Chris logo
tomou suas mãos e levou-as até sua nuca, sem partir o beijo longo, e Cat
agarrou seus cabelos curtos. Curtos e lisos, e eram sedosos também.
Chris
soltou os lábios dela e passou para as bochechas. Beijou aquelas sardas
maravilhosas, e depois o pescoço. Já ia afrouxar a gravata dela e abrir um
botão da camisa quando ela o soltou bruscamente.
Ei, Chris. Ela não é uma vadia que você pagou.
Calma lá filho. Mas eu não abri a camisa dela, só pensei em
fazer isso. Preciso conferir a medida daquele busto, estou chutando cento e
vinte.
Ela só o
encarou por um segundo, pegou os óculos da mesa e saiu correndo da sala.
— Ela achou
os óculos, hã? Que merda.
●●●
.Regra nº1: Kamis MENTE.
Dominique
penteava seus cabelos negros depois de um longo banho numa banheira enorme.
Usava sua camisola de verão mais leve, naquele lugar fazia um calor dos
infernos.
Viu o
pijama de Cat estirado na cama dela e se perguntou como a amiga conseguia
dormir com aquilo naquele calor.
O espelho
permitia que visse o corpo todo, assim Nicky virou de lado para ver o
comprimento dos fios negros. Iam quase aos quadris, e precisavam de corte. Mas
como? Estava presa ali por tempo indeterminado. E também não podia exagerar no
corte, ou não conseguiria amarrar o coque e teria que cortar rente à nuca.
Isso seria
o fim.
Aproveitou
para olhar a silhueta fina, e o tamanho dos seios. Não era justo, Cat tinha o
triplo, e eles não faziam diferença para ela. Só um pouquinho a mais não faria mal.
Suspirou,
cansada. Aquele foi um longo dia de correria, e o próximo seria pior. Isso se
não a acordassem no meio da noite, o que irritaria Cat.
Isso se Cat voltasse. Nicky sabia que ela
empolgaria com o brinquedo que trouxeram da Aurum, e certamente se esqueceria da
hora.
Mal pensou
nisso e a porta abriu bruscamente.
— Dominique! – Cat
berrou a plenos pulmões.
Oh, merda. Ela disse meu nome. É o ajudante. Senhor,
me ajude.
— O que
foi? – Nicky se virou e olhou a cara de fúria de Cat na porta.
Ela estava
sem aquele lenço horroroso que usava para cercar os cabelos. Nicky a achava tão
mais bonita assim.
— O que foi? Você me pergunta o que foi? De onde
vocês tiraram aquele, aquele… – ela grunhiu e bateu a porta nas costas.
A face
dela estava vermelha. Mais que o normal.
O tal
assistente. Nicky não sabia nem o nome dele direito.
— Certo,
não foi eu, foi o general. Mate ele. Mas me conte… o que ele fez com você? –
ela pegou os ombros de Cat carinhosamente.
Cat a
encarou por uns segundos com os olhos azuis clarinhos. Eles ficavam enormes
quando via pela lente dos óculos.
— Ah,
Nicky… – Cat a abraçou, como uma garotinha.
Ela sempre
fazia isso. Aliás, Cat era uma
garotinha, aquela que não teve nem infância nem adolescência. Agora despejava
suas emoções assim, em ataques. Nicky tinha que ser cuidadosa com ela quando
estava daquele jeito.
— Venha
aqui, sente. – Nicky a levou até a cama. Pelo menos Cat não chorava. – Vai
despejando, estou ouvindo.
— Ele… eh,
bem… – Cat coçou a cabeça. – ele me beijou.
As pupilas
de Nicky contraíram e as sobrancelhas arquearam até o limite. Não podia falar “Sério?”, isso a ofenderia. Nem “Finalmente!” ou “Não acredito!” ou nenhuma exclamação que pensou.
Então
sorriu largamente.
— Explique
isso direito. Comece pela descrição dele, eu não vi o cara. E o nome, não me
lembro do nome dele.
— Chris.
Só lembro-me de Chris. Fairmount, eu acho. Christopher? Uma coisa assim. Bem,
ele é mais alto que eu, e hã, tinha a barba crescida assim, e hãã… era bem
desleixado, e o cabelo era castanho com uns fios brancos e bagunçado e também
tinha olhos castanhos, mas clarinhos, sabe? Daquela cor… iguais os daquela
colega sua do batalhão, Anastasia?
— Cor de mel?
— Isso,
isso. E ele tinha tirado o casaco. E era magrinho, coitado. E pensando bem, até
que não era feio não. – Cat pôs um dedo no queixo, ponderando.
— Seeei.
Você ficou louca por ele.
— Não! Olha só, ele chegou assim do nada
né. Aí ficou conversando comigo, e misturava coisas do autômato com coisas
pessoais aí meia hora depois ele estava me irritando de um jeito que ninguém
nunca me irritou! E aí ele se achou no direito – ela estava usando seu tom
soberbo enfurecido de novo – de roubar os meus óculos!
— Hmmm… aí
ele disse que você ficava melhor sem eles?
— É! E
aproveitou que eu estava cega e tirou minha faixa do cabelo! E olha só, ainda
disse que eu era linda! Como assim?
Nicky
revirou os olhos.
— Deve ser
porque você é linda, Cat. Por favor.
Eu já cansei de mandar você parar de usar essas faixas estranhas na cabeça e
procurar uma armação mais bonita.
— Mas até
você!
Nicky
bufou. .E a dica da dica é: o anime começa com K. Ajudou dimais né?
—
Continue.
— Aí ele
tirou minha faixa e disse que eu era linda né, daí ele se aproveitou da minha
cegueira de novo e me agarrou. – ela completou com a voz chorosa.
— Hm… mas
e aí, você gostou?
Nicky viu
a amiga avermelhar. Sim, ela gostou.
Qualquer argumento contrário seria inválido.
— Ah, bem.
Foi meu primeiro beijo, foi estranho, mas… bem, muito estranho. Ele me pegou pela cintura com um braço e a nuca com
o outro e aí me apertou contra o peito dele aí… aí… aí depois eu tentei abraçar
ele pela cintura aí ele pegou minhas mãos e pôs na nuca dele, aí eu apertei o
cabelo dele assim, aí ele começou a beijar minha bochecha e depois beijou meu
pescoço, aí eu senti um arrepio muito
estranho e saí correndo.
Nicky
enterrou o rosto nas mãos.
Ela é uma garotinha, Nicky, uma garotinha alguns
anos mais velha que você, e ela nunca sentiu nada disso. Seja cuidadosa,
cuidadosa…
Ah, cansei.
— Cat. Não. Tudo errado, tudo errado. Você não devia ter corrido! As
coisas iam começar a ficar boas, você perdeu. E se ele não chegar perto de você
por achar que você não gostou?
— Mas eu
não quero!
— Ah, você quer sim. – Nicky
usou seu melhor timbre de tenente. – E eu sei que quer. E já que você começou,
vai acabar o serviço. Só falta mais uma
parte.
Nicky viu
a expressão de Cat mudar. Virou uma garotinha medrosa.
— Que
parte? – disse, com medo.
— Hoje você dorme. Ou desce lá no
laboratório da guria lá, melhor fazer isso agora que pouparemos mais tempo. Aí
amanhã eu te acordo cedo e vou dar um jeito em você. – Nicky disse
maliciosamente.
— Dar um
jeito? – mais espanto.
— Vou
fazer essa sua sobrancelha, daí te arrumar roupas decentes com decotes decentes
porque você tem peitões maravilhosos, e diminuir essa sua saia. E eu acho que
trouxe aquele meu batom vermelho. Vai ficar uma belezinha pro Chris. – ela
piscou.
Cat era
apenas espanto.
— Ah, e
vou te depilar também.
O espanto
atenuou.
— Eu
depilei as pernas não tem dois dias, Nicky.
— Eu não estou
falando das pernas, gatinha.
Espanto
total.
●
— Voltei.
– Chris fechou a porta. – Finalmente eles viram que eu não mato nem moscas e
pararam de me arrastar. Se me chamarem vou correndo agora. – ele sorriu torto.
— O que
deu lá embaixo? – Lyra perguntou, balançando uma perna. Estava deitada num
colchão ao lado de Theo.
Chris não
achou aquilo muito bom.
— Ei, ei.
Você não vai dormir com esse cara aí não, moça. Pode ir pra bem longe fazendo
favor. – ele jogou seu casaco num sofá.
Lyra se
sentou e o fulminou com o olhar.
— Me.
Obrigue. – estalou os dedos e faíscas saíram deles.
Chris
levantou os braços.
— Fui
convencido. – Está aí, Alex? Não te vi. – caminhou até ele.
— Só não
me peça para levantar. Parece feliz. – Rutherford observou. Chris feliz era
algo notável. Ele ficava dez anos mais jovem.
— Bem… levaram-me
para uma sala, um laboratório, mas não era o famoso porão que tá todo mundo
comentando. Daí eu cheguei lá e tinha uma ruiva com uma juba enorme assim e um
óculos estranho e uns peitões. Ela que é a chefe do departamento de ciência e
tal, e aí tinha um exemplar dos clones de Luce. Abrimos a coisa, e a composição
do material é diferente, e há circuitos internos diferentes também. Um monte de
tubos. Kitty arrancou um e vimos que não tinha nada dentro…
— Kitty? – Lyra se levantou, sarcástica.
— Porque é
Cat. Catherine qualquer coisa. Deve ser parente sua.
— Por quê?
— Por
causa dos – hesitou – maus modos. Convencida que nem você.
Merda, Chris, essa foi quase. Uma cena da fúria de Theo correndo atrás dele
por falar dos peitos de sua namorada passou por sua mente.
— E aí, os
tubos estavam vazios. Claro que passa fluxo mágico neles.
— Eu tenho
uma teoria… – Archie levantou uma das mãos. Estava no colchão entre Theo e
Lílian.
Theo
estava muito sério quando disse para
ele dormir bem longe de sua irmã, e achou melhor ela ficar do outro lado de
Lílian.
— Diga.
— Parou de
funcionar, não é? Será que não tem um alcance para a magia? Como um rádio… você
se afasta da antena e vai perdendo o sinal…
— Pode
ser, garoto. Quando Luce fugiu ele disse que as cópias ainda dependiam dele
para funcionar. E se ele evoluiu os materiais e esqueceu-se da autonomia? –
Chris o olhou.
— Isso
seria bom. – Lílian se manifestou. – Mas e depois? Descobriram mais coisa?
— Eh… –
Chris passou a mão pelos cabelos – ela ficou curiosa sobre o tubo vazio, sabe?
Começou a me perguntar sobre o combustível… claro que ela não pode saber da
magia. Daí… eu resolvi distraí-la.
— Começou
a contar as desgraças da sua vida, foi? – Lyra, doce como um limão.
— Não, My Lady. Eu a beijei.
Lyra riu.
— Típico.
Daí ela chutou suas bolas e saiu correndo?
— Nããããão,
bem pelo contrário, ela gostou. Mas ainda sim saiu correndo. – riu. – sério,
ela parecia uma adolescente. Acho que não beija muitos caras no departamento de
ciência. Se é que tem homem naquele lugar.
— Pelo
menos ela não deve pagar pra isso. – Lyra voltou a debochar.
— E você
acha que putas nos beijam? Uma já me socou um salto na cara quando fui beijar
ela.
Era
estranho conversar com Lyra. Ela agia como um lenhador bebendo numa taverna. Era
estranho e divertido, já que Chris não conseguia ter a mesma liberdade para
falar assim com Alex.
Começaram trocando
xingamentos e sarcasmo logo depois de se conhecerem. Dois dias depois contavam
histórias de boemia. Lyra lhe dava conselhos, e dizia que ele nunca conseguira
uma mulher de graça se não parasse de agir daquele jeito.
— Então
você nunca beijou ninguém na vida, Chris? – ela disparou a rir.
— Não ria,
é verdade. – ele cruzou os braços. – sempre fui feio, pobre e ferrado, mulher
nenhuma queria saber de mim. Até essa gatinha ruiva aparecer. Ela disse que
graduou em matemática com doze anos.
— E isso
significa o que?
Que é virgem.
— Coisas.
— Você tem
certeza que vai conseguir distraí-la e obter o que queremos, Chris? Podemos
usar magia… – Lílian voltou ao assunto sério.
— Não
podemos não. A magia para ver memórias é arriscada, Li. – Lyra disse.
— Só pra ver
é aquela que a vítima também vê suas memórias? – Lílian olhou a prima.
— Sim. Se
eu usar nessa Kitty aí, ela vai ver memórias minhas, e isso não é bacana. Eu
não lembro se dá pra apagar o que ela viu depois, mas acho que não. – ela
ponderou.
— Pode
deixar, Lyra. Vou manter a boca dela ocupada o suficiente para não fazer
pergunta nenhuma por muito tempo. – Chris sorriu.
●
Cat ainda
estava vermelha quando entrou no laboratório do porão.
— Oh,
desculpe. – disse ao ver um casal se… pegando
numa parede.
O garoto
tinha o cabelo cento e vinte vezes mais vermelho que o seu. Agora pessoas se
beijando era algo interessante.
Ah, então eu tenho que abraçar ele assim
enquanto ele… tire as mãos dessa perna,
ela é uma menininha!
O garoto
ainda deu um selinho nela, sussurrou qualquer coisa e saiu sem falar nada.
Era um
sujeito estranho, aquele. Emitia algo
estranho. Já sentira algo assim, não se lembrava onde.
— Não me
diga que a garota que fez aquilo tudo que me disseram é você. – apontou a menina loira à sua frente.
Era uma
gracinha. Cabelinho cor de areia, olhos azuis. Um tanto suja. Uma saia curta e
com algumas coisinhas.
Parecia
ela mesma quando tinha aquela idade. Claro que com diferenças.
— Ah, sim.
Amaranthe Leadengear, prazer. – ela estendeu a mão. – oh, desculpe, está
imunda.
— Fuligem
faz bem. – Cat tomou a mão dela. – Catherine Hemingway, o prazer é meu.
— Quer ver
as armas primeiro, ou o veículo? Ainda estou reparando-o.
— As armas
então.
Amy
levou-a até o baú das facas. O exército o achou facilmente e devolveu a ela.
— São
todas armas brancas, veja. – ela pegou uma das adagas. – Essas são adagas
comuns. – entregou a faca a Cat.
Era de um
aço leve e brilhante, claríssimo. Cat pôde ver seus olhos refletindo na lâmina.
Havia alguns sulcos e riscos. Foi usada.
— Acho que
essa estava com Theo, por isso os dentes. Tenho também estas… – ela tirou três
facas pequenas. – de atirar. – lançou-as até a parede mais próxima, e acertou
duas. A outra ainda estava em sua mão.
— Você
teve treino disso?
— Não. Eh,
um pouco. Na verdade eu as atirava a esmo na parede pra ver se eram boas mesmo.
As primeiras quebravam antes de furar…
— Aquilo é
aço na parede, Amaranthe. Queria
facas de atirar que perfurassem aço?
— Só Amy,
por favor. E sim, queria. – a garota encarou-a com um sorrisinho cansado.
Uma menina
feliz em mostrar sua coleção de bonecas.
Conhecia
essa sensação muito bem.
— Chamo
cada uma de Sweetie.
—
Interessante. – Catherine estendeu a mão e pegou a pequena faca. – Que liga é
essa?
— Um aço
diferente que inventei. Depois mostro os componentes certos. Veja essa aqui, é
minha preferida. Chamo de Double Layer.
Realmente
tinha duas camadas, na verdade duas lâminas. Uma clara e outra escura. Era mais
longa que uma daquelas adagas.
— Por que
a lâmina dupla?
— Para a
eletricidade. – Amy sorriu mais.
—
Eletricidade? A faca pode soltar descargas? – Cat observou bem a arma.
— Há uma
célula interna, que é acionada pressionando este botão. O choque não é forte,
mas suficiente para atordoar.
Muito bom, menina. A nova geração de armas do
exército bem na minha frente. Espero que a gratifiquem de algum modo.
— Tem
mais. Este é o Sabre do meu irmão, Archie. – apontou a espada, era bela. – e
aquelas adagas curvas, nada de mais. Também tinha uma espada maior que o sabre,
Archie deu o nome de Dragonslayer,
mas acho que Theo o perdeu. E o arco de Lílian. – ela tirou o dito arco do baú.
— Ele é
muito forte, esse arco. Quase cem libras, se não me engano. E pesado, veja.
Cat estava
com as mãos cheias, e largou as facas no baú. Pegou o arco. Realmente parecia
ter chumbo por dentro.
— É um
arco comum… os mais modernos são…
—
Compostos. Eu sei. Mas ah… tive vontade de fazer um comum. Ainda bem, porque a
menina que eu vou dá-lo de presente gosta de arcos comuns.
—
Estranho. – Cat tentou retesar a corda, mal conseguiu. Era muito forte. – está
um pouco, hã… aqui, no apoio das flechas.
Havia
marcas estranhas, como se fossem queimaduras.
Amy deu de
ombros.
— Lílian já o usou, deve ser por isso.
Cat ainda
achou estranho. Se não estava louca, todas as flechas estavam numa aljava
jogada no fundo do baú. Talvez fossem sobressalentes.
Mas ainda
havia algo diferente naquele arco, e em todas aquelas armas. Era o metal?
Talvez. Parecia… sentia a mesma sensação que teve quando o garoto de cabelo
vermelho passou por ela.
A mesma sensação. Que não lhe era
estranha.
— E tenho
o meu veículo. Tem mais coisinhas, alguns dispositivos de medição, coisas
pequenas.
Amy passou
a falar sem parar de seu Birdy, e Cat entendia tudo perfeitamente.
Passou a
vê-la como uma cópia sua. Mas ainda a invejava. Amy citou um monte de gente.
Archie, o irmão. A tal Lílian do arco. Um Theo. Eram apelidos, apelidos de
amigos conhecidos há muito.
Ela era
jovem, amava ciência, tinha um QI consideravelmente alto, mas tinha amigos. No
plural. E um namorado.
Cat nunca
teve nada disso antes dos vinte e cinco anos.
Aí está tudo que você nunca foi, gatinha. – disse a si mesma.
Ela
concluiu toda a explicação com um sorriso enorme, e Cat se reprimiu por ter se
dispersado no fim.
Uma
pequena dúvida de uma pequena coisa que ainda a incomodava lhe veio.
— Amy.
— Sim?
— Você
mora nessa cidade, certo?
— Essa é a
minha casa, senhorita.
— Só Cat.
É mesmo, esqueci – ela riu. – bem, você já ouviu falar de um tal de Fairmount?
— Chris?
Chris? Caaaaaaaaat, você não está com ciúmes de
uma garota na puberdade, está?
— Esse
mesmo.
— Não o
visito com frequência. Conversamos um pouco, ele conhece mais meu irmão, meu
namorado, os outros garotos. Por quê?
— Ahn…
nada.
Merda, estou corando né?
— Pode
perguntar.
Ela viu que estou corando, oh merda, merda,
merda…
— Ahn…
sabe o que sobre ele exatamente?
Não seria
legal se perguntasse diretamente se ele era solteiro.
— Ah, ele
tem uma loja de relógios no centro da cidade, e mora nos fundos dela… e mora lá
sozinho também… e eu nunca vi ele com mulher alguma. Lyra disse que ele era um
cientista frustrado, pobre e encalhado pra sempre. – ela riu.
—
Realmente é o que parece.
— Esteve
com ele? Está bem?
— Bem até
demais, diria. – Cat consertou os óculos, consternada.
●●●
Cat não
queria ser acordada tão cedo. Queria dormir até ter certeza de que tudo que
aconteceu no dia anterior era apenas um sonho.
Mas não.
Estava lá de pé, incomodada por usar uma saia tão curta e a blusa tão aberta.
Sem falar
daquele batom escandaloso e a cabeleira caindo no rosto.
Ainda
misturaria cianureto no café de Nicky.
Tomava
coragem para sair do quarto quando a própria Dominique saiu do banheiro
arrumando o quepe. Ela ficava bonitinha naquela farda.
— Então…
devemos ir.
— Onde? –
Cat estava farta de surpresas. – Você disse que me mandaria para o laboratório
depois.
— Sim.
Depois de vermos o general.
Cat
arregalou os olhos. Sempre o ameaçava de morte, mas na verdade morria de medo
dele.
Ninguém
podia saber disso, claro. Fazia parte de sua integridade e orgulho como Chefe
do Departamento de Ciência.
O general
estava instalado numa sala cheia de mapas. Cat ficou admirada com o lugar, era
perfeito em todos os aspectos. Havia um mapa de Rhenium Valley estendido na
mesa, todo marcado.
— General.
– a tenente prestou continência, Cat também.
— À
vontade. Finalmente decidiu abolir aquele pano ridículo e mostrar os belos
peitos, Hemingway? Ficou melhor assim. – ele olhou longamente a curva de seus
seios.
Cat lutou
contra o instinto de esganar aquele
homem.
—
Obrigada, senhor. – disse com um tom de ódio.
— Chamei
vocês para que saibam dos últimos acontecimentos… creio que não sabem muito.
Preciso que você saiba, Hemingway. Saiba exatamente com o que estamos lidando,
sobre estes autômatos. O que descobriu ontem?
Que Chris é solteiro?
— Coisas
estranhas. A pele daquela coisa não é nenhuma liga conhecida, e eu não vi nenhum
combustível nas “artérias” dele.
—
Fairmount lhe disse que ele criou o protótipo e que ele… perdeu o controle
sobre a coisa, que conseguiu consciência e fugiu?
O tom do
general foi de deboche.
Ele era
estúpido demais para entender coisas assim, simplesmente.
— Sim,
disse. – o tom de Cat foi de censura.
— Então,
precisamos saber como essa, hã, consciência
– de novo aquele tom – funciona.
— Isso é
óbvio, mas por quê?
—
Precisamos matar aquilo antes que consiga roubar a restante.
Cat perdeu
o controle.
— Roubar o
que? De onde vieram essas coisas? Dá pra me explicar tudo do começo? E dizer
onde exatamente eu entro nisso?
— Sim,
contarei. Se você tiver paciência, claro.
Cat passou
a ouvir.
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tr3tas mano.
tr3tas.
até a próxima minha gente.
tr3tas mano.
tr3tas.
E os jogos começaram \õ/
Well, se você está perdido, gafanhoto, a luz está nessa minha journal do DeviantArt. E, claro, nas imagens escondidas.
Well, se você está perdido, gafanhoto, a luz está nessa minha journal do DeviantArt. E, claro, nas imagens escondidas.
Lembrando os pdf's tem uma imagem diferente e o primeiro tem a Apresentação :3
até a próxima minha gente.
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